sexta-feira, 24 de abril de 2015

Notas sobre a origem dos Pins, Alfinetes e Crachás, na Praxe



O saber actual.

Pode parecer caricato, mas é verdade: sobre a origem dos pins e alfinetes de lapela, no contexto da Praxe, do Traje Académico, não existe uma única fonte de informação na Net ou em qualquer Código de Praxe.
Pode parecer estranho, de facto, mas sobre um dos adereços mais populares no seio académico, não existe informação alguma acessível, que não a reprodução de normas e ditames sobre quais usar ou onde colocar.

Os estudantes, ontem, como hoje, não sabem, de facto, de onde provém essa tradição, pelo que, naturalmente, o que hoje vemos é, na esmagadora maioria dos casos uma contínua invenção ou cadeia de suposições.
Nuns casos há um claro exagero, noutros está-se mais perto do genuíno, embora em nenhum dos casos se saiba bem por que razão é este e não aquele, qual a razão de ser ali ou acolá.

Quando era estudante, também não sabia, é um facto, mas sempre tive curiosidade em saber por que razão se usava, quanto mais não fosse para estabelecer uma causa-efeito, saber se aquilo que se praticava era provindo de uma fonte fidedigna ou se era mero copy-paste de um artificialismo que ia mutando ao sabor de modas (ou gostos de quem mandava na praxe).
A resposta obtive-a bem mais tarde, infelizmente (embora valha mais tarde do que nunca, diz o povo).


Vamos então a factos, socorrendo-me da preciosa informação que me facultou o insigne António Nunes, historiador e especialista nesta área.

 Origem

Crachás, pins e alfinetes, no meio académico (e também fora dele), têm a sua origem no foro militar.
São os uniformes militares, enquadrados pelos respectivos regulamentos, os que admitem, desde pelo menos o séc. XVIII as placas e distintivos para barretinas, colarinhos, ombros e, até, botões metálicos.
Desde há muito que as universidades portuguesas ou escolas diversas (médico-cirúrgicas, politécnicas, bellas artes, etc.,) acolhiam no seu seio estudantes militares, os quais não trajavam capa e batina, mas sim o seu uniforme militar, sobre o qual, então sim, usavam capa ou gibão. Existem vários clichés, do séc. XIX ou de inícios do XX que o comprovam inequivocamente.
Daí emana, por cópia e pelo fascínio que daí advinha, por parte de outros estudantes, a adopção de distintivos metálicos, para uso na lapela da casaca/batina, os crachás e alfinetes.
Desde logo, fica claro que esse costume não tem por base qualquer tradição local ou regional.

Estes adereços exprimem historicamente a pertença a um grupo, fraternidade ou, então, expressam o reconhecimento de feitos alcançados (condecorações), como é o caso, en França, por exemplo, em que os agraciados com a Légion d’Honneur (condecoração atribuída pelo presidente da república francesa, como, por cá, o nosso atribui a da Ordem de Cristo ou da Torre e Espada, - entre outras, por exemplo, no dia 10 e Junho) não usam diariamente essa condecoração (porque muito grande), colocando antes, na lapela, um pequeno pin alusivo.

Em Coimbra, e citando A. Nunes, “A únicas tradições que se conheciam eram as que autorizavam o porte de monograma (letras do nome próprio entrelaçadas em prata) na lágrima da guitarra, o que só acontece a partir de 1905, e na pasta de luxo com fitas de seda (distintivo do curso). A tradição autoriza ainda o uso de heráldica das Faculdades em lenços de bolso, botões de punho, fivelas de prata dos sapatos de gala, livros encadernados que se utilizam em determinadas cerimónias (autos, juramentos).
Por conseguinte a metalurgia de lapela foi uma apropriação/invenção divulgada por alunos que tinham sido militares ou gostavam das cerimónias paramilitares da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa. “

Alguns sectores de opinião, no seio académico-praxístico, pretendem diferenciar alfinetes dos pin’s, quando se trata, basicamente, do mesmo, com a diferença, apenas, na forma de os pregar (longo alfinete, para uns, alfinete curto, ou pico, com fecha, para outros). Na parte visível são ambos similares (ora maiores ora mais pequenos; mais simples ou trabalhados; com ou sem cores).

 Quantos e quais na lapela?

 Ora, secundum praxis, e respeitando a tradição genuína, que pins ou alfinetes se podem usar?
1º - Usa-se apenas 1, e só um!
2º - Deve colocar-se aquele que contenha a heráldica da instituição frequentada.

Assim, só os relativos ao logótipo da instituição (Universidade, Instituto) ou da Faculdade (conquanto a heráldica remeta para a Universidade – onde não se confunda, por exemplo, a Faculdade de Direito de Lisboa com a do Porto).
Com mais reticências, o de curso, mas só se este contiver no seu desenho a heráldica da instituição (ou seja ter nele o logótipo da Universidade ou Instituto).
Mesmo no caso das Tunas, se exige, pelo menos aos que são estudantes, que sigam esse preceito, porque antes de serem tunos, são estudantes. Já aos demais, é normal que substituam o da instituição onde se formaram pelo da Tuna a que pertencem (e só esse).
 Mais nenhum se permite, pois, na lapela.
O que se aconselha para o traje, para os estudantes, é mesmo o da Instituição.

 E os outros?
 Os outros não têm lugar na lapela. Bem sei que me dirão que há N sítios onde isso se faz. Pois, mas faz mal. Não apenas delapida e desrespeita, como transforma a sobriedade do traje num verdadeiro circo.
Vou abster-me de adjectivar assertivamente essas práticas (que a vontade é chamar-lhes nomes feios), nas quais vemos algumas casas a promoverem uma fantochada pegada, onde parece que lá militam os antigos generais da era soviética.
 Com o advento do boom tunante, e por contágio dos “brasones” nas capas, com clara raiz no exemplo espanhol (mais um vez), em que os tunos do país vizinho colocam nas mangas da jaqueta os pins, passou a ser comum o uso no colete (para aqueles que, ao menos isso, quiseram manter a sobriedade da batina).
Nesse caso, a regra a seguir é a mesma que para os emblemas: apenas se coloca a “ferraria” relativa ao exercício académico (locais/instituições visitados em missão oficial académica ou grupos contactados).

Assim, pins da Coca-Cola, do Rock in Rio, da Luta contra a Sida, do Mickey, da Sagres, os que brilham e piscam e quejandos não são apropriados (mas próprios para meter noutras roupas que não o traje, seja ele qual for).

Mas se o colete apresenta mais espaço para “medalhas”, convém recordar que enchê-lo de pin’s tem, pelo menos, o problema de o tornar pesado (em alguns casos, e porque só os colocam apenas de um dos lados, esse lado até chega a descair um pouco de tanto quilate – como eu já vi).

Atente-se que a regra de ouro é que, ao fechar-se a batina, nenhum pin do colete fique visível.

De que lado?

Para terminar, fica a questão do lado onde usualmente se colocam.
Há quem defenda na lapela esquerda, outros na direita; uns no lado esquerdo do colete, outros no oposto.
Usualmente é o lado esquerdo o escolhido. No caso da lapela, também porque é onde se encontra o bolso (usado, nos fatos e smokings, para colocação de lenço, segundo a etiqueta).
Assim ficou convencionado. Dirão que é por ser o lado do coração, etc&tal, mas, isso, cada qual invente o que quiser (entre teorias místicas, pseudo-históricas e afins, há muito por onde arranjar “estórias”).
Eu não conheço, documentalmente, qualquer razão tácita e inequívoca para essa determinação.
Foi assim definido, ao que tudo indica, seguindo a etiqueta em uso no meio civil, que estipula, na maioria dos casos, a colocação do alfinete ou pin à esquerda, embora também se contemple o uso no lado direito.



Posto isto, e concluindo, é fácil, agora, perceber onde a tradição é preservada e onde se inventou, ou mesmo se adulterou.
Por falta de conhecimento, muito se inventou, claro está.
Não basta regrar e dizer que é assim ou assado, que se mete isto ou aquilo, ali ou acolá, só porque sim, sem sequer ter fundamentação.

Ficam estes dados à superior consideração dos praxistas.

Notas ao Latim Macarrónico (Regras de Uso)



Mas não é apenas aí que se regista a enorme catadupa de calinadas e de erros no uso do dito latim macarrónico (que em certos casos não passa de “latim de macarrão”), por parte dos praxistas.

Não basta, com efeito, acrescentarmos “ae”, “um” e afins, a palavras portuguesas, para estarmos perante latim macarrónico.

O conhecimento e domínio, pelo menos mínimo (saber umas coisas de declinações e conjugação), de latim são exigíveis, dado que várias fórmulas e chavões o devem ser em latim puro, alternadas com o macarrónico, num exercício que não deixa de ser literário, mesmo se jocoso, demonstrando que para se brincar com as coisas é preciso dominá-las q.b.
E recorde-se que, actualmente, com os meios disponíveis, algum tempo dispendido na web permite encontrar algumas soluções e informações sobre o assunto.

Uma outra coisa que convirá esclarecer é que, em Praxe, se permite o uso de termos na língua vernácula (Português, neste caso), embora de forma isolada e sempre que o termo latino (ou a expressão/frase) impeça o entendimento (nomeadamente nos decretos – que se pretende que sejam percebidos por qualquer um que os leia). Nem sempre, pois, é preciso fazer macarrão, quando podemos lá ir com um pouco de esparguete. Mas, uma vez mais, atente-se que se trata de algo pontual, de palavras isoladas.
Do mesmo modo se deve atentar às invenções a metro. Veja-se, a título de exemplo que, querendo escrever-se "velho(a)" ou "velhíssimo(a)" em latim macarrónico, em caso algum se pode redigir algo como "velhissimae", sendo obrigatório, neste caso, procurar o termo latino (similar ou equivalente), como "Senex-senis", "Vetus-veteris", "Antiqua-antiquae", "Decanus-decani".......... escolhendo o termo mais apropriado, segundo o contexto.

Outro exemplo é o termo "Invitatis" que em algumas academias é usado para designar  convite (embora, em Praxe, não se perceba a lógica e historicidade de tal - mas é mais uma daquelas invenções de meia-tigela feita por praxeiros de outra metade.....da tigela).
Ora o termo correcto seria "Invitatio", como substantivo, e não "Invitatis" que é uma forma verbal (2ª pessoa do plural, no presente do indicativo).

Também é comum vermos escrito (e não é de agora - existem decretos escritos há décadas, a conterem esse mesmo erro) "in nominae soleníssima praxis", contudo a expressão correcta é "In NOMINE solenissimae praxis".
Maior erro é vermos "in nominae solenissimae ad semper potentissimae praxis", pois, com efeito, "ad" significa "para". Ora, querendo usar-se a conjunção "e" (em nome da solene e sempre poderosa praxe...", deve usar-se "In NOMINE solenissimae ET semper potentissimae praxis".

O mesmo dizer do termo "Facultis", usado no Porto para os denominados "Dux Facultis", quando o termo adequado seria "Facultatis" (do termo Facultas), no genitivo (que determina a posse ou origem).
O mesmo dizer do termo "Informatis" (supostamente a querer ser sinónimo de Edital - ou coisa que o valha), que se deveria escrever "Informatio" (de "Informatio-informationis"),  e onde, mais uma vez, se usa (erradamente) um verbo em vez de um nome/substantivo. O termo mais apropriado seria algo similar ao "Decretus", como "Editu" ou "Editus".
Passo agora a citar um belíssimo post do ilustre Eduardo Coelho, precisamente sobre algumas regras de uso, com algumas dicas a levar em linha de conta por todos os que se aventuraram neste, nem sempre fácil, exercício de escrita.

Uma nota ainda, sobre o "Decretus", muitas vezes, e erradamente, escrito "decretum".

“Ainda não há muito tempo, o latim era a língua universal da ciência. Há razões históricas para isso (o facto de o latim ter servido como língua comum aos países que emergiram do fim do império romano), mas também razões de ordem prática (o facto de o latim ser uma língua extremamente lógica).

 Nas universidades, tal como hoje se publica tudo em inglês, tudo se publicava em latim. Era uma forma prática de divulgar ideias e partilhar ciência.
Os diplomas, os impressos, as fórmulas de juramento, etc., eram em latim.
Não é de estranhar que os estudantes começassem a gozar com o latim, adulterando-o para obter efeitos cómicos.

 O latim macarrónico é uma adulteração do latim: usam-se as regras do latim, mas "falsifica-se". Quando se usam  palavras portuguesas que o latim não contempla (ou torna difícil o entendimento e adequação) aplicam-se ao termos portugueses as terminações próprias do latim - seja em substantivos, seja em verbos, etc, observando-se, contudo, as regras da gramática latina, quanto aos sufixos adicionados (as terminações adequadas à declinação para substantivos ou para as conjugações).


Claro que a maioria dos actuais alunos não sabe latim. Tem vagamente a ideia de que há terminações "ae", "us", "um" que parecem latim. Não é bem assim. O latim macarrónico é extremamente exigente.Para se perceber a piada, é preciso perceber de latim a sério. Mas isso era dantes.

Se a praxe evoluísse, então hoje o lógico seria o "inglês macarrónico". Já que tudo é em inglês... Mas isso são contas de outro rosário.
Evidentemente, não há aqui lugar para um curso de latim, mas vou procurar responder [a algumas dúvidas correntes]:

Em latim, a terminação "ae" podia ser:

 - o plural das palavras terminadas em "a"; por exemplo, o plural de "caloira" seria "caloirae" (não "caloiras");
- o determinativo de posse de palavras terminadas em "a"; por exemplo "da academia" seria em latim "academiae"



A terminação "um" podia ser:

 - a terminação normal de palavras que em português terminam por "o", mas que são por sua natureza de género neutro - p. ex. "templo" em latim era "templum" (o templo não é "homem" nem "mulher"); assim, "cimento" seria, em macarrónico, "cimentum"; "vinho" / "vinhum"; etc.

 (o plural destas palavras em latim formava-se com "-a": templUM (o templo)/ templA (os templos))


A terminação em "-i" podia ser:

 - plural dos nomes masculinos terminados em "us": "decanus" (o decano); "decani" (os decanos); "semiputus" (o semiputo) / "semiputi" (os semiputus)

NOTA: "caloiro" não tem sexo; como tal, em boa regra macarrónica será "caloirUM" (a terminação em "-us" é para o masculino...) - o plural macarrónico correcto é "caloirA" (os caloiros) (tal como templum/templa) - :)


A terminação em "_arum" / "_orum":

é, respectivamente, o determinativo de posse plural dos nomes terminados em "a" ou "us":
"pastA" (a pasta) / "pastARUM" (das pastas); "fitA" (a fita) / "fitARUM (das fitas);

 "veteranUS" (o veterano) / "veteranORUM" (dos veteranos); "caloirUM" (o/a caloiro/a) / "caloirORUM" (dos/das caloiros/as)

 daí "consilium veteranORUM" - conselho DE VETERANOS.

Claro que fica IMENSO por dizer (…).

Por exemplo: nunca se devia escrever "DecretUS", mas "DecretUM" (já que um decreto não é homem nem mulher).
(….)"

In Fórum Praxe Porto, artigo de 14 Novembro de 2011.

Notas a um Cortejo sem Tradição (Parte II)

Nem de propósito.
Como diz o povo, "cada tiro cada melro".
 

 




Bonito serviço!
A legenda é dúbia: Percebe-se o FEP (Faculdade de Economia do Porto), mas não o nº 150.
Seja como for, é um "non-sense"

Mas não apenas de vermelho como também de ténis brancos:


 

Dirão alguns que os cartolados não estão trajados porque não andam de capa ou de gravata. Nada mais errado.



Recordo que desde há décadas que já  se institucionalizou a figura do cartolado na forma de como se apresentar vestido e das "insígnias" próprias dessa condição no cortejo.


A Cartola, bengala, laço e Roseta, surgidos no ano de 1931-32, adendam algo que era muito ligado ao traje académico, o qual é uma versão laicizada do deposto traje de "abatina".
Com efeito, a versão aburguesada do traje discente, está em tudo próxima (porque pretendia, precisamente, essa similitude) da indumentária usada pela dita "alta sociedade", pelos "gentlemen" da época.

Assim a cartola e a bengala (tal como laço e roseta) remetem para a figura que se pretendia evocar, aquela que se pretendia atingir: a do estatuto - traduzido pelas roupagens de quem ocupava um estrato social e posição superiores (e a alta sociedade, os endinheirados, os deputados, os doutores..... usavam precisamente a toilette ditada por essa etiqueta: fato, bengala, cartola...).
O uso da cartola, bengala, laço e roseta prefiguram, assim, na génese, uma antecipação daquilo que o recém formado sonha(va) e espera(va) atingir com canudo na mão.

Já os ténis em nada se conjugam com o simbolismo e analogia da cartola e da bengala, pois não são os ténis próprios à toilette burguesa ou, neste caso dos dias de hoje, associáveis a uma toilette formal.
Não vêm pois acrescentar nada, mas deturpar. Veja-se que cartola, laço, bengala e roseta não alteram o traje na sua essência, antes o aproximam ao modelo que lhe serviu de paradigma. Já os ténis substituem-se ao sapato. Ora os ténis não são próprios seja de que fato for, a não se o  fato de treino.
O que vemos na foto não é traje, mas ultraje.
Assim vão as modas no Porto.

SOBRE A ORIGEM  DA BENGALA, LAÇO, CARTOLA E ROSETA, CLICAR AQUI.
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Fotos de João Pedro Rocha, publicada pelo Facebook da FAP - Federação Académica do Porto em 10 Maio 2012: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.10151686207005284.835265.432040235283&type=3)

Notas "à séria" - Reitor da UP responde ao OUP e Academia do Porto

A carta aberta que o Reitor da Universidade do Porto dirigiu ao OUP.
Parece-me claro, definitivo e, pela primeira vez, um claro demarcar de certas pandilhas.
Par aalém do apoio renovado ao OUP, e de lamentar o sucedido nesta última Queima das Fitas, é de reter, e sublinhar, que a UP repudia e nem sequer reconhece legitimidade ao actual "Conselho de Veteranos" em representar a Universidade do Porto, chegando mesmo a acusá-lo de querer impor tradições que não o são, nem nunca o foram.

Quem souber ler este "atestado de menoridade", passado ao MCV, perceberá que os órgãos de Praxe da UP, e seus Dux, deveriam pensar, desde já, em constituir um órgão de Praxe da UP, à séria, e protagonizado por estudantes de facto, que pudesse repor dignidade e qualidade às tradições da Invicta.
 num organismo .
O actual MCV  deixou de ter legitimidade para representar as tradições da UP, tendo sido renegado e e condenado pela UP.
O Sr. Américo e o seu séquito, se tiver um pingo de vergonah na cara, fazem as malas e dão o lugar que há muito roubaram aos verdadeiros estudantes da academia do Porto.

Aqui fica o conteúdo da carta:

"
Data: 2012.06.06
Assunto: Carta aberta do Orfeão Universitário do Porto

Caros orfeonistas,
Consideramos que uma universidade não se resume a um mero espaço de transmissão, produção e aplicação de conhecimentos. Há toda uma dinâmica de convivência social que enforma os destinos da instituição e é determinante para o desenvolvimento pessoal de quem a ela pertence. Isto significa que, para lá da sua função formativa, as universidades devem ser territórios de convívio, companheirismo, cultura e diversão. Só assim se poderá falar, com toda a propriedade, de vida académica no seu sentido mais lato e nobre.
É para nós indiscutível que na Universidade do Porto, essa dinâmica de convivência social tem sido promovida e perpetuada, em boa medida, pelo Orfeão Universitário do Porto, desde a sua fundação em 6 de Março de 1912. As atividades do Orfeão têm contribuído para que a Universidade do Porto proporcione uma vida académica que comtempla a função pedagógica e científica da instituição, que extravasa as fronteiras do seu campus universitário e que promove a interação com a cidade.

 Entendemos, pois, que as atividades do Orfeão Universitário do Porto, para além do contributo cultural que dispensam à sociedade, são de importância capital no processo educativo dos nossos estudantes.


 Por tudo isto, o Orfeão Universitário do Porto merece ser acarinhado e reconhecido não só pela própria Universidade do Porto, mas também pela sociedade civil, por instituições de relevância pública, por empresas e por todos aqueles que integram a comunidade académica do Porto, designadamente os seus atuais estudantes, os antigos alunos, os docentes no ativo e os professores já aposentados.

 Face ao carinho e consideração que nos merece o Orfeão Universitário do Porto, é imperioso que sintamos uma profunda indignação pelo desprezo de que foi alvo na Semana da Queima das Fitas e pelos maus tratos que foram infligidos a vários dos seus elementos durante esse mesmo período.
Repudiamos com veemência tais acontecimentos e a falta de solidariedade e respeito académico que estiveram na génese dos mesmos. Somos contra todas as formas de intimidação, violência, coação física ou psicológica e desrespeito pela pessoa humana. Por isso, não podemos deixar de condenar e lamentar profundamente o sucedido, que consideramos em grave desrespeito ao Orfeão Universitário do Porto e à própria Universidade do Porto.

 O sucedido é tão mais de lamentar quanto tais desacatos são promovidos por um denominado “Conselho de Veteranos” que nada tem a ver com a Universidade do Porto e que se arroga o direito de impor o que apelida de “tradições académicas” aos estudantes da U. Porto, “tradições” essas que não têm qualquer tradição na nossa Universidade.

É com preocupação que constatamos na vossa carta aberta uma referência à Federação Académica do Porto, instituição que merece o nosso maior respeito e com quem temos mantido uma colaboração profícua em prol dos nossos estudantes. Queremos acreditar que não terá tido qualquer intervenção nos problemas que nos relataram. Contudo, consideramos que a FAP deveria tomar uma posição clara de demarcação relativamente ao tal “Conselho de Veteranos”.

 Nesta hora difícil, queremos manifestar a nossa maior solidariedade ao Orfeão e a todos os seus membros. A melhor resposta é procurar fazer sempre melhor, dignificando e prestigiando cada vez mais o Orfeão e a própria U. Porto.
Podem contar com o nosso continuado e interessado apoio!

 Com as melhores saudações académicas.

 O Reitor
(José Carlos D. Marques dos Santos)"

Traçar da Capa - Traçar de Mitos

Este artigo é sobre uma cerimónia que foi recentemente inventada (nem 15 anos terá sequer) decorrente de um erro grave e doloso: que o caloiro não pode trajar.

Fique claro: o caloiro pode trajar, logo que se matricule no Ensino Superior. Qualquer determinação em contrário atenta à Tradição (que está acima de "tradições de 3/4 de mês").

As provas cabais e documentais sobre isso, podem ser AQUI encontradas.

Eu próprio fui assim doutrinado no passado (que os caloiros não trajavam). Mas o simples facto de ouvir quem disesse que tal não tinha razão de ser, que Coimbra (Alma Mater) nunca tal impusera (porque nunca fora tradição ou regra) levou-me desde cedo a colocar em causa as doutrinas avulsas e procurar apurar as coisas.

Se no passado não havia o acesso facilitado à informação, hoje parece-me não haver desculpa, embora saibamos que os meios informáticos também ajudaram a que mitos e erros fossem mais amplamente divulgados.

Nunca percebi essa fixação do traçar a capa. Aceito que alguns queiram valorizar o momento em que um caloiro traja pela primeira vez, mas haja inteligência para não ir além disso.

O baptismo/imposição da capa é bonito, é simbólico, o padrinho impõe a capa simbolicamente........ tudo muito certo e nada a obstar e é precisamente essa a origem desta cerimónia:  a imposição das capas (e não o traçar das mesmas) .
O problema é quando se ouve, em mais do que uma academia (é passar, por exemplo, os olhos em alguns fóruns) o seguinte (e similares):

- "Só podes começar a traçar a capa a partir da segunda matrícula" 
- "Não podes traçar a capa enquanto alguém não ta traçar na cerimónia"

Não há outro modo de o dizer: é de uma estupidez que nos leva a perguntar como é que esta gente anda no ensino superior.
Qualquer dia arranjam algo para o nº de furos do cinto das calças ou para o apertar do fecho da saia, ou ainda paa a colocação do primeiro emblema ou do primeiro pin. Haja pachorra!


As cerimónias ditas do "traçar da capa" são invenções recentes que, na sua quase maioria, nem existiam há 15 anos e que são uma deturpação daquilo queb originalmente se pretendia evocar: a imposição e baptismo da capa (mesmo que já tivesse sido usada).
Foram uma invenção criada para assinalar e festejar o facto de muitos caloiros trajarem pela 1ª vez na sua 1ª serenata da Queima (motivado pela estupidez de dizer-se que os caloiros não trajam).

Em rigor, no início (e vejam como rapidamente dão cabo das coisas) estes eventos nem sequer eram para "traçar as capas", mas sim para as benzer, seguindo-se depois a sua imposição pelo padrinho/madrinha.

Com efeito, tal tradição da bênção das capas, já vem de longe. Em Coimbra, conforme nos relata António Nunes, [Havia a tradição dos padrinhos dos caloiros lhes "baptizarem" a capa e o gorro, atirando-os ao chão, pisando-os e salpicando-os com gotas de vinho, costume que ainda se praticava na década de 1980] in Identidade(s) e moda, Percursos contemporâneos da capa e batina e da sinsígnias dos conimbricenses. Bubok, 2013, p.73, nota n.º 237.


Por se tratar de um momento solene, a capa era colocada descaída e nunca traçada.
O traçar, esse, ocorria já só no local da Serenata. Aí sim, se preciso fosse, e porque o caloiro muitas vezes ainda não dominava o gesto técnico de traçar a capa, era ajudado. Mas era judado pelos colegas e não necessariamente pelo padrinho ou madrinha.


Em casas onde permitem (e bem) aos caloiros trajar, vêm depois com a palermice de os proibir de traçarem a capa. Haja pachorra para tanta acefalia.

O traçar, em si, não tem significado rigorosamente nenhum. A imposição da capa ou o seu baptismo, aí sim, poderá reflectir algum simbolismo e solenidade.
Traça-se a capa como se abotoa um botão: quando dá jeito e é preciso, seja caloiro ou veterano, mas nunca numa cerimónia, onde a capa se usa descaída pelos ombros.


Ninguém dita quem pode, ou não, traçar a capa. Qualquer pesoa, seja caloiro ou veterano, traça quando bem lhe apetecer, para além da Serenata Monumental ou da Praxe em Trupe (excepto os tunos quando em serenata ou grupos de fado -  e é opcional) .

Em mais nenhum momento é preciso traçar a capa , nem sequer para "praxar" (outro mito estúpido e sem fundamento histórico).

Pare-se lá, pois, de dar corda a mais um mito.
É disso que muitas vezes falo quando critico os códigos (os ditos "codigozecos") da quase maioria das casas: que estão cheios de "lixo", de coisas que não têm fundamento histórico, que são artificialismos, invenções e que, muitas vezes, colidem com a própria tradição (como sucede com o proibir de relógios de pulso ou de lavar a capa).
Estão tão cheios de picuinhices, de papismos e "paneleirices" que complicam o que em Praxe sempre se quis simples e sóbrio (ao contrário de lapelas à general, de mangas arregaçadas para não se ver o branco e outras palermices do género).

Entretanto, também referir que se há cerimónias muito engraçadas, feitas com seriedade (e apenas se condena aqui proibirem caloiros de trajar ou, então, de traçarem a sua capa - isso sim uma aberração), e que são importantes, outras há que merecem total repúdio, onde praxam os estudantes sem nenhum motivo, quando não tem nenhum sentido ou fundamento o gozo ao caloiro nessa altura:





Por hoje é tudo.
Num próximo artigo, trataremos de mais umas quantas aberrações e invenções palermoides.
Veremos a questão do estar em Praxe, de estudantes que são caloiros N vezes, de Comissões de Praxe, Inscrições na Praxe, Regime de Faltas, Ser Praxado para estar na Praxe ou usar Traje.
Como podem ver, são N conceitos estapafúrdios e sem nexo que merecerão esclarecimento.

Notas à Raposa de Coimbra

Não se trata de uma qualquer classificação de uma nova espécie pertencente à família Canidae, mas da famosa "raposa", que prefigura o chumbo,  de que tantos já terão ouvido falar na famosa canção "O Afonso", de António Vicente,  cantada pela Estudantina Universitária de Coimbra (contante no disco "Estudantina Passa", de 1985) :

"Andava tão comprimido
Mal podia respirar
O ano estava perdido
E a raposa a espreitar (...)"


Qualquer estudante de Coimbra que se preza ouviu falar desta "raposa", figura matreira e esperta que simboliza o insucesso escolar, naquele argumento falacioso, e raramente justo,  de algo que não se esperava ou da sorte que nos foi avessa, como que "de propósito", ou do lente que tem numerus clausus para dar positivas, daquele que atira os pontos ao ar e classifica conforme a geografia onde cairam, ou simplesmente que "nos quis lixar a vida" porque nos apanhou "de ponta".
O Afonso, esse, percebeu que só estudando a sério, conforme reza a música, teriqa sucesso (que logrou alcançar, por fim, para orgulho do pai que já tinah um filho doutor).


Foto de Zé Veloso
A Raposa significa o temível chumbo. Certo. Mas por que razão, quando até é uma criatura que nem inspira o medo que outras mas "cotadas" costumam desempenhar (só mesmo os lavradores que viam na raposa um sorvedouro de galinhas e outros animais domésticos)?

A resposta é simples:


Quando se vai da Via Latina para os Gerais, existia, e ainda existe, um espaço onde antigamente os estudantes aguardavam para serem chamados a realizar os exames orais.
Tal espaço possui um painel de azulejos pintados com motivos bucólicos (flores, coelhos, uma construção que se assemelha a um moinho ea  raposa).
Precisamente junto à porta pela qual se acedia para a sala dos exames, um dos azulejos representa uma raposa.
Como sucede em qualquer sítio, qualquer parede era bom encosto para (des)esperar, enquanto aguardavam a vez para prestarem provas.
Claro está que todos os que chumbavam atribuíam tal à "má sorte" de se terem encostado à "raposa" ou estado perto dela, numa superstição que ganhou raízes e que será, porventura, das poucas, senão única, superstições que ganhou contornos de tradição e ícone na Praxe e memória colectiva dos estudantes de Coimbra.
Foto de Jotta Leitão


Já a moda de pontapear o azulejo com o bicho parece ser relativamente recente. Testemunhos reportam que a figura era inicialmente afagada, na intenção mística de obter as suas boas graças - isto nos anos 1940-50. Mais tarde, já provavelmente da década de 60 em diante, alguns começaram a mimar o canídeo com  1 a 3 pontapés (pondo em causa a própria integridade do azulejo), embora não estejamos em crer que seja propriamente uma praxis generalizada (que Lamy nem sequer refere) - e ainda bem. Tal prática pretenderia, afastar o malfazejo chumbo  e afastar a raposa numa espécie de "Vade Retro". Outros relatos, também recentes, refere que alguns estudantes, à socapa, costumavam cuspir para cima dela - mas numa prática que seria pontual e já como represália pelo chumbo obtido (e não como medida preventiva).
Superstições à parte, creio ser importante preservar o icónico azulejo que não tem culpa de coisa nenhuma.

Deixo aqui um pequno artigo que fala de um grupo de alunos que fez greve às aulas (parece ter a ver com algum tipo de braço de ferro com os professores), com os lentes acusados de se vingarem de tal afronta, chumbando os alunos que tinham aderido.
No artigo, já bem antigo (1886), é usado o termo "rapozas", como sinónimo, claro está, de chumbos, negativas ("negas"), reprovações.....

 Jornal A Liberdade (Viseu), de 02 Julho de 1886, 16º Anno, Nº 813




Nota: artigo actualizado com foto recente de Jotta Leitão, em 2015.

Notas a Códigos de Praxe I (UBI)


 

Um primeiro (de vários) artigo, que pretende fazer análise-reflexão sobre o que registamos por este nosso país fora no que concerne a Códigos de Praxe - os quais precisavam de revisão, feita por quem tivesse por finalidade, separar o acessório do essencial, procurando, também, reaproximar alguns conceitos e noções aos modelos originais de que são sucedâneos.

Neste primeiro caso, escolhi um código que, de uma maneira geral, nem está mal feito (embora esteja mal organizado, na sequência dos assuntos a meu ver), para evidenciar que mesmo um código que parece estar  bem desenhado, pode conter inúmeras falhas, imprecisões e muitos equívocos.

Neste caso, uns reparos ao Código da Praxe da UBI de 2012 (http://pt.scribd.com/doc/105052281/Codigo-de-praxe-UBI-2012), para dizer que é:

 
- Um código que define a Praxe como sendo, e passo a citar, "... todo o tipo de atividades lúdico-recreativo praticadas individual ou coletivamente, e orientadas por um ou mais praxantes [aqui temos um novo termo: “praxantes”] de forma adequada ao enunciado neste código.".
Parece claro o equívoco de não se saber distinguir devidamente Praxe de "praxes", chegando a entender as “praxes” como jogos de escuteiros e afins, e até consegue complicar ainda mais a coisa ao dividir esse conceito em 3 tipos de "Praxe": “básica”, “superior” e “laudem”;

Damos uma ajuda:

 

 

- Um código que diz que um objector de praxe é o mesmo que um anti-praxe e que, por isso, não pode ir à bênção de finalistas, usar traje e participar em qualquer acto académico.
Mais ainda: um código que aceita que as pessoas não sejam "pela Praxe" pedindo, ainda assim (e bem), que pelo menos a respeitem, contudo não demonstra, por sua vez, essa mesma atitude para com quem não quis ser humilhado nas praxes.
Se é pedido respeito, seja igualmente respeitada a diferença, ao invés de se ostracizar uma pessoa que não quis ser praxada (porque muitas supostas “praxes” estão longe de ser sequer aceitáveis), proibindo-a de exercer a sua cidadania académica (pois que tem direito a ir aos actos académicos e a trajar, ao contrário do que se apregoa);

 - Um código que diz, e bem, que não é aceitável a "violência gratuita", contudo deixando em aberto que outro tipo de violência (justificada) o pode ser. Uma incoerência ridícula.
- Um código que determina que quem abuse será punido pelas suas instâncias, mas em lado algum determina o que não são praxes e o que não é Praxe, não definindo a fronteira entre aquilo que é aceitável em Praxe e aquilo que é abuso e crime - e deve ser denunciado desde logo às autoridades (PSP, GNR...).
Tanta coisa com a tal Carta de Princípios do Conselho Nacional para as Tradições Académicas (se bem se recordam da pompa e circunstância mediática), mas, depois, na prática, nos códigos...... népia! Neste particular, mais uma vez parece ser o o adágio do "Olha ao que digo, mas não ao que eu faço!".

 - Um código que pretende usar o latim (macarrónico) sem procurar fazé-lo secundum praxis, pois consagra a frase "avemus praxis", quando o termo é "Habemus" (avemus é derivado de quê, de "avé"?).
Num segundo exemplo, temos a expressão "IN NOMEM PRAXIS AVEMUS PRAXIS", quando o termo a usar é "In NOMINE"!!!. Quando não se sabe ou tem certeza, pergunta-se a quem sabe, digo eu;

 - Um código que determina regras e nomes para quem nem sequer é da UBI ou nem é estudante da mesma, como os graus de "Canen" (estudantes não matriculados na UBI), "Pastores" (que apenas exercem funções na UBI – e que devem ser os funcionários). Claramente, aqui, um excesso de zelo ao entrar numa ”jurisdição alheia”  num querer ser mais papista que o Papa;

 - Um código que chama "mestre a um aluno de 2 matrículas" (uma expressão que, cuidado, não significa expressamente um grau de ensino), e que será algo exagerado, e depois mistura nomenclatura do império romano (cuja inspiração parece algo forçada, pois a Covilhã não reclama mais romanização ou figura romana que qualquer outra cidade) com a da maçonaria (Grão-mestre...) o que não deixa de ser bastante confuso;  ou que chama veterano a um aluno apenas com 4 matrículas, tornando equívoca a própria significação linguística, histórica e tradicional do termo.
Nesse capítulo das designações hierárquicas, estamos perante um caldo sem nexo, onde se introduz na linguagem e tradição estudantis coisas que nunca com ela tiveram a ver (ler AQUI);

 - Um código que proíbe os caloiros, mesmo que  apenas durante uma primeira fase do seu "estágio", de permanecerem numa valência da instituição (na qual nem sequer é permitida praxe), como é o caso do bar, por mais de 15 minutos. Só não se percebe como não se lembraram de fazer o mesmo para as casas de banho ou não determinaram tempo máximo para permanecerem nas cantinas.
Não ocorreu aos "praxis maker" que alimentar-se é também uma necessidade fisiológica para a qual cada um tem o seu ritmo?

 - Um código que proíbe os caloiros de trajarem antes da Serenata, num perpetuar e alimentar de um mito sem fundamento histórico algum. O caloiro sempre trajou, porque o traje é uniforme estudantil (ver AQUI).
Um traje que é vedado a estudantes em função de normativos praxísticos é um traje que nunca pode ser considerado académico (ver AQUI).


 
 - Um código que proíbe os antigos alunos da UBI de usarem traje académico, excepto em organismos reconhecidos pela AAUBI, esquecendo-se que antigos alunos podem associar-se em organizações de antigos alunos em que o traje possa ser a indumentária escolhida, sem precisarem, para tal, de reconhecimento de instância estudantis (quando eles próprios não são estudantes). Por outro lado, os antigos alunos não estão abrangidos pelo código, daí que a haver esse tipo de situação, ela está fora da alçada do código;

 - Um código que chama "Melícias" às trupes, quando o termo a usar é "MILÍCIAS" (com I)!! Também aqui, quem fez o código mostrou descuido nestes pequenos pormaiores;

 - Um código que preconiza um traje próprio, mas carece de explicações inequívocas sobre as modificações das peças que o compõem. Num ou noutro caso apenas uma muito superficial explicação sobre a inspiração/proveniência. O que não há é evidência entre a peça em que foi inspirado e a peça final do actual traje (por exemplo com fotos, desenhos…).
Também não se conhece qualquer estudo publicado e público sobre o traje e que tenha servido, por exemplo, para o justificar tal qual ele é. Uma falha, a meu ver, quando se reclama historicidade etnográfica. Se vemos tantos lapsos no que concerne a Tradições Académicas, claramente que colocamos fortes reservas e dúvidas sobre certas “explicações” de teor etnográfico. Não nos quer parecer que tenham sido especialistas no assunto que, na altura, trataram deste processo. O traje merece todo o respeito, mas os pressupostos do mesmo é que levantam fortes reservas.

Por outro lado, não é próprio de um uniforme corporativo, de índole estudantil, a inclusão de peças de origem folclórica ou etnográfica. Por alguma razão não existe nem no folclore nem na etnografia a figura do estudante. Não perceber isso é não apenas desrespeitar a matriz identitária do folclore e etnografia como igualmente a matriz tradicional académica (ver AQUI).


 
 
- Um código que chamam de "insígnias" a emblemas evidencia falta de rigor e induz em algumas confusões (já visíveis nos denominados "objectos"de praxe). 
Já agora, dizer que não é conceito original  só se colocarem emblemas de sítios onde se foi trajado. Ir em missão académica não implica obrigatoriamente ir trajado. É o caso de uma equipa de desporto universitário, por exemplo, ou de quem vai assistir a um congresso noutra cidade/país. Também não faz sentido restringir os emblemas de cariz religioso de assentada (mesmo se também acho que não deve haver espaço a "beatices"), pois podem existir organismos académicos de pendor religioso (Pastoral do Ensino Superior, por exemplo). Aliás, veja-se o paradoxo: o código fala  e reconhece a Bênção dos Finalistas, que tem uma natureza religiosa, mas depois proíbe qualquer emblema de contexto religioso. Claro que, aqui, deveria haver uma adenda numa explicação mais pormenorizada sobre esse “teor, contemplando, por exemplo, e como excepção, o caso que eu acima referi. Sobre a origem e correcta colocação de emblemas, clique AQUI.

 - Um código que determina que o relógio usado com traje tem de estar oculto, não se percebe muito bem o sentido de tal recomendação. Sobre o uso de relógios, cliquem AQUI;

- Um código que, pasme-se, apelida de "objectos de praxe" aquilo que correctamente se deve designar por insígnias de Praxe (ver AQUI);



 

 - Um código que coloca "rótulos" nos alunos, introduzindo "pins" (que são mais umas pequenas "placas" que outra coisa) que identificam a hierarquia, transformando o traje num uniforme militar e esquecendo a sobriedade que o mesmo deve(ria), a meu ver, ter. Pena que não optassem por reabilitar, por exemplo, o uso de fitas no braço, junto ao ombro, como era costume em finais do séc. XIX e inícios do XX, em detrimento de “chapas de identificação”. Sobre pins, cliquem AQUI;

 
- Um código que determina o uso de traje nas Tunas é não perceber que  Tunas e Praxe são coisas distintas e que a Tuna não se subordina à Praxe (vd. Manifesvum Tvnae);

 



São alguns aspectos, de muitos outros igualmente equivocados ou totalmente desadequados, deste código que mereciam revisão e reflexão, porque alimentam, por vezes, equívocos, erros, mitos e invencionismos (pois quem conta um conto.......).
Tais lapsos, erros e invenções são correntes na larga maioria dos códigos existentes (com maior incidência, até, nas instituições mais recentes) e só uma reflexão séria, um procurar razões, precedentes….permite perceber se o essencial da Tradição (existe uma matriz na qual toda a gente se inspirou e que ao servir de modelo, deve ser respeitada e preservada na sua essência e significação, mesmo quando adaptada) de modo a poder-se proceder aos ajustes necessários.
Porque há, de facto, ajustes a fazer nos nossos códigos, sob pena de se abrir espaço, em muitas localidades, à total descaratcerização da cultura e tradição estudantis.
Não se trata de cercear a liberdade da identidade própria, mas copiando modelos, não os adulterar ou inventar novas significâncias.


 

Pena que, em Portugal, quem veste o papel de “praxis maker” ou de “legislador de código” (e quem, muitas vezes, ocupa organismos que regem a Praxe) careça, tantas vezes, desse cuidado em respeitar em conhecer melhor a matriz de que a larga maioria das "tradições" são sucedâneas, evitando que na sua adopção e/ou adaptação, troquem o essencial pelo acessório ou se afastem a tal ponto do precedente que se descaracteriza a causa e o próprio efeito.

Para a UBI, que aqui "emprestou" o primeiro exemplo, um abraço, especialmente às suas Tunas!
 
Nota: Espero que os que vierem a ler este artigo e lhe queiram responder, nomeadamente os “UBIanos”, não vistam o papel de madonas ofendidas a quem não se pode fazer reparo às suas práticas e "leis", mas que, discordando, digam exactamente em quê, apresentem argumentação para tal e o façam com elevação.

Notas à Pasta e Fitas de Finalista

Poderia aqui discorrer sobre as origens da Pasta, mas não é isso que agora importa ao caso.

Importa, isso sim, e de forma expedita, ou seja sendo curto e grosso, alertar para aquilo que é uma Pasta da Praxe, que os finalistas usam com as fitas, e para aquilo que para alguns parece (ou até será), mas não passa de uma imitação introduzida por duvidosas lógicas comerciais, e que atentam à tradição.

Já em anterior artigo (clique AQUI) se falou sobre esse verdadeiro circo de fitas e de pseudo-pastas que inundam o mercado por força das novas praxes criadas não por estudantes, mas inventadas pelo comércio que vive das tradições estudantis, como também nos mereceu artigo (ver AQUI)

Aliás, os códigos (pelo menos os que têm algo de pés e cabeça) não contemplam sequer essas falsificações, esses estúpidos "faz de conta" de Pasta.

Pasta da Praxe é preta, em pele (ou imitação de pele), lisa e simples. Serve para transportar livros, sebentas, apontamentos.

A Pasta da Praxe não foi expressamente criada para transportar fitas.
Se a sua foi, não é Pasta da Praxe, nem é da Praxe.

Pasta da Praxe, como manda a Tradição, é assim (e só assim) e só permite 8 fitas (8 apenas):


As fitas são da cor da faculdade (área de estudos) que se frequenta. Mais recentemente (anos 90), vieram as "cores de curso" (outra parvoíce), e as fitas passaram a contemplar essa subdivisão (por isso temos pastas com fitas de mais de  uma cor, pois temos cursos com 2, e por vezes 3, cores).
As fitas, no total de 8, são "pregadas" pasta por meio de colchetes ou de velcro, sendo que por serem poucas, a escolha de quem as assina é usualmente muito criteriosa. Há sempre a possibilidade de permutas, caso uma das fitas fique por assinar, como disso pode ser exemplo a fita reservada a professores ou a irmãos que se não tenha (podendo nesse caso serem reservadas a colegas, amigos...).
As fitas dos finalistas têm origem nas fitas que eram utilizavadas para abotoar a pasta dos estudantes, sendo inicialmente 6  (duas talas de cartão dobradas, fechando com o auxílio de 3 ordens de pequenas fitinhas de cada lado, que serviam para atar a mesma com nós e laçarotes.Mais tarde passaram a 8, dividindo-se em 4 pares, ocupando, assim, cada lado da pasta.
A partir dos anos 70 do século XIX, começam a surgir as chamadas "Pastas de Luxo", começando as pastas a  já apresentar fitas largas, caídas para fora, presas às telas.

As 8 fitas de finalista são simples, lisas, sem brasones, estampados, desenhos ou quejandos. Todo o seu espaço é para assinatura das pessoas e não devem ser ostentadas com iconografia, como se fossem emblemas da capa.


As Fitas dos Fitados, apresentam-se com cerca de 7,5 cm de largura e 40 cm de comprimento.

Simplicidade e sobriedade, sem espaço a show-off, por muito que isso possa irritar os mais vaidosos ou ainda certas indústrias, mais ou menos caseiras. 

A fazer negócio à conta das tradições, que estas sejam respeitadas.



O resto, o que vemos por aí (e que abaixo exemplificamos) são contrafacção, são anti-praxe, são a subordinação da Praxe à lógica comercial, e só usa quem se está realmente nas tintas para a tradição.
A Praxe não é um traço pessoal ou individual e, nestas coisas, há que saber distinguir o nosos umbigo daquilo que é a pertença e observância de uma cultura transversal, usualmente regrada em código.

Poderiam, alguns (apesar de nunca esse argumento ter sido apresentado - indiciando claramente que não era, nem é, essa, sequer, a intenção) alegar que as actuais pastinhas da treta são como que uma cópia das antigas Pasta de Luxo que vigoraram até inícios do séc. XX, como que uma reabilitação da mesmas, tendo em conta que estas eram, e passo a citar:

"... pastas de acabamentos de veludo e monogramas de prata, que de tão estreitas para nada serviam, mas que tinham umas fitas largas, imponentes e lustrosas como as fitas largas de hoje. Eram oferecidas aos quartanistas pelos padrinhos ou pelas noivas e, naturalmente, não serviam para transportar nada, muito menos sebentas. Mas também não era preciso, porque diz a tradição que depois do 4º ano nunca se chumbava." in Penedo d@ Saudade - As (verdadeiras) Origens da Queima -  artigo de de 17 Maio 2010

Contudo as pastas de luxo eram isso mesmo: um luxo; pelo que de uso não generalizado, mesmo se bem presente.
Ainda assim, estamos a falar de algo que já há décadas que não faz parte da praxis e e que em momento algum foi sequer contemplado em qualquer código. Para além disso, caberia sempre a organismso de Praxe reintroduzir e definir as Pastas de Luxo e nunca a empresas ou lógicas comerciais (que não têm legitimidade para tal).
A única Pasta da Praxe consagrada é pois a que acima ilustramos em imagem e não outra. Só ela pode receber as ditas fitas que, repetimos, são 8 apenas.


Fixando um ponto de referência, podemos dizer que na segunda metade do séc. XIX apenas os estudantes Quintanistas, usavam Pasta – Pasta de Luxo.
Já utilizadas em 1850, estas eram de qualquer cor (mas normalmente da faculdade), em tudo similares às pastas vendidas nas livrarias da especialidade: duas talas de cartão dobradas, fechando com o auxílio de 3 ordens de pequenas fitinhas de cada lado, ou seja, cada Pasta tinha 6 pequenas fitas que serviam para atar a mesma com nós e laçarotes.
Mais tarde, com a magnificência das Récitas dos Quintanistas é que se definiram as famosas Pastas de Luxo nas Faculdades de Direito e Teologia, já de Fitas Largas, caídas para fora, presas às telas forradas de rico cetim bordado, veludos com embutidos de prata, ouro e mármore.
 
As Pastas de couro ou cabedal, embora menos vistosas, mas bem  mais baratas, generalizam-se na primeira década do séc. XX, introduzidas nomeadamente pelos estudantes militares (e também em voga nos geógrafos, arqueólogos e outros especialistas nos seus trabalhos de campo, contrastando com o luxo ostensivo das pastas dos quintanistas e podendo ser usadas pelos demais estudantes no seu quotidiano, então sim, para transportar sebentas (as de luxo serviam apenas para a festividade de fim de curso).
O seu uso generalizado no Porto  desde finais do séc. XIX, alargou-se a Coimbra e a todo o país.



NÃO É DA PRAXE O QUE SE SEGUE:




A imagem acima ilustra uma outra "versão": que a cor das fitas é conforme quem as assina (uma cor para pais, outra para colegas, outra para professores....) numa concepção sem nexo, sem senso algum.










Quem quer respeitar a tradição segue a mesma e não a que é ditada pelas lojas ou pela "lógica da carneirada" em que se copia o vizinho (e de preferência se ultrapassa o mesmo) sem sequer se atender ao código, ao respeito que deve merecer a Praxe.
Obviamente que os Conselhos de Praxe ou de Veteranos, as comissões e afins têm enorme culpa no cartório, mas a incompetência generalizada dos organismos de praxe não pode justificar o surto de ignorância colectiva que, repentinamente se verifica nos finalistas, nesta época do ano.

O mesmo se aplica a certos fundamentalismos como o que diz que caloiros não podem traçar a capa sem ser antes o padrinho ou que só usam traje pela 1ª vez na serenata (ver AQUI), que é mais um mito alimentado pelo ignorância de uns ou má fé de outros.

Fica este reparo, uma vez mais, para quem o quiser levar em linha de conta.


Para os estudantes que, contudo, pretendam ter muitas outras fitas, pois que o façam e as guardem, evitando ostentar na sua pasta mais que as 8 que a Tradição contempla.

Para os finalistas, o nosso FRA!


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As fotos utilizadas foram obtidas na net, via motor de pesquisa google.

Notas de Baptismos de Capa Nojentos.

Estado em que ficaram as capas, após o "baptismo"
Foto enviada por Rosarinho Roldão, aluna da ESELx que denunciou o caso no Facebook do N&M. Ao que parece, e segundo outras fontes, algumas destas capas estiveram depois no arraial do IPL.

Pelos lados da ESE de Lisboa temos, segundo nos foi relatado, destes inauditos preparos a que ainda têm a distinta lata de chamar "Baptismo das Capas", feito com vinho, cerveja, ovos e farinha.

Mediante o relato e imagem, apenas podemos dizer que é uma vergonha, sem dúvida, lastimável para a imagem e respeito que deveria merecer não apenas a capa, mas a própria tradição e cultura académicas e, em última (ou primeira) instância, a própria instituição em que se inserem.

Só não e percebe por que razão os donos dessas capas se sujeitam a tal desrespeito.
Excesso de alguns "praxeiros" ou prática feita sob os auspícios da Comissão de Praxe? A esta última caberá, se assim o desejar, esclarecer o sucedido.

Esperemos, pelo menos, que não acrescentem a isso o mito de dizerem que a capa não pode ser lavada (pois ainda há parvalhões que afirmam isso a pés juntos, coisa que, como AQUI já explicámos, não tem fundamento algum), que uma capa assim conspurcada é indigna de ser envergada sem antes passar por uma lavagem (o que não faltam aí são lavandarias que limpam a seco).

Justifica-se o adjectivo nojento no título, porque o é, quer na atitude quer no resultado, num acto sem fundamentação histórica ou lógica, mas antes num gratuito vandalismo que merece veemente repúdio.
Sirva a denúncia para as pessoas porem mão na consciência e acabarem com javardices que nada têm de Praxe.


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NOTA 1: Obviamente que este artigo irá merecer, como represália, que o N&M seja barrado, a partir de agora, de aceder ao Facbook da dita Comissão de Praxe, como é próprio de ditaduras infantis e de quem não sabe lidar com o contraditório.
NOTA 2: Pelos lado de Peniche, na ESTM, parece haver também especial gosto por farinha, mas neste caso é pelo traje todo.
 
 



Fotos linkadas do FB da Comissão de Praxe da ESTM