Um artigo assaz interessante, datado de 1888, em plena época de mudança de paradigma do traje estudantil (com o abandono das vestes talares, de feição eclesiástica, para o modelo burguês, anti-clerical), onde a Academia do Porto (ainda sem Universidade - que só será criada em 1911) se une a pedir a obrigatoriedade do porte do traje nas suas escolas de instrução secundária e superior (o traje estudantil já estava em uso, mas sem a mesma obrigatoriedade que na Universidade).

Durante uma investigação feita ao acervo do Comércio do Porto (Arquivo Municipal de Gaia)encontrámos, pela 1ª vez, o argumento do traje como meio de esbater as diferenças sociais (não para explicar a sua origem, mas, aqui, para expor uma das suas grandes virtudes, segundo os signatários).
Esse pedido, que encontrámos no periódico em causa, ilustra o desejo dos estudantes portuenses serem equiparados com os de Coimbra (e isso sucederá também em Lisboa e resto do país), dentro do movimento que se alastrou a todo o território e que reclamava defesa da identidade (estética, nomeadamente) do estudante português, através do uso obrigatório de um uniforme inequívoco e transversal.
Foi essencialmente a pressão dos alunos do 3º ano da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, que dá novo fulgor ao uso capa e batina, a qual já estava em uso pelos escolares do Liceu, nomeadamente.
Com a formação da Tuna Académica do Porto (Estudantina Portuense), em Março de 1888 (com alunos do liceu, da Politécnica e da Médico-Cirúrgica, entre outros), o empurrão do nacionalismo gerado pelo Ultimatum e requentado pelo 31 de Janeiro de 1891, e, finalmente, o debutar de festividades carnavalescas e de fim de ano (Enterro da Farpa, Festa da Pasta), estavam lançados oa alicerces para o sedimentar da capa e batina no seu novo modelo burguês, na cidade do Porto, de que este artigo acusa essa ferverosa adesão.
Com a formação da Tuna Académica do Porto (Estudantina Portuense), em Março de 1888 (com alunos do liceu, da Politécnica e da Médico-Cirúrgica, entre outros), o empurrão do nacionalismo gerado pelo Ultimatum e requentado pelo 31 de Janeiro de 1891, e, finalmente, o debutar de festividades carnavalescas e de fim de ano (Enterro da Farpa, Festa da Pasta), estavam lançados oa alicerces para o sedimentar da capa e batina no seu novo modelo burguês, na cidade do Porto, de que este artigo acusa essa ferverosa adesão.
Se é sabido, e comprovado, que o traje estudantil, ao longo dos séculos, nunca teve pretensão de distinguir ricos de pobres, mas tão somente o foro académico (distinguir os estudantes do resto da população - de que os regulamentos vários ligados ao foro académico e ao uso da indumentária atestam), não deixa de ser preciosa esta menção, entre os vários argumentos apresentados para suportar o pedido (aliás, se virmos bem, qualquer predicado serve quando queremos justificar algo), porque nos situa cronologicamente no ponto a partir do qual o mero argumento irá, mais tarde, tornar-se, erroneamente, explicação.
Torna-se, assim, este artigo, um documento ímpar que refere, embora apenas como argumento (ou seja, como consequência), que uma das virtudes do traje era o de nivelar e igualizar os estudantes, quanto ao seu estatuto social.
Os argumentos que constam do manifesto, então dirigido ao Rei, D. Luís I, (e pedindo diferimento através da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino) foram os seguintes:
- Economia aliada à máxima decência no vestuário;
- Evitar distinção e rivalidades de aparências de fortuna em uma classe onde somente devem fomentar o desenvolver-se de distinções e rivalidades de talento, aplicação e bons costmes;
- Provocar maior união, não só do estudante portuense, mas do estudante português (...);
- Facultar aos menos favorecidos de meios pecuniários, mas foverecidos de talento e de vontade, mais fácil ingresso nos templos da ciência com manifesta utilidade do estado sem prejuízo algum das suas finanças.

Parece-nos, igualmente, que o argumento da igualização entre estudantes (em clara oposição às anteriores vestes que nunca foram totalmente uniformes entre escolares) poderá, quiçá, advir desse mesmo sentimento ou ideário republicano (e inspirado na França revolucionária da "Liberté, Égalité et Fraternité", que é a pátria da "Déclaration Universelle des Droits de l'Homme", de 1789) de tornar todos iguais (algo que, como sabemos, será sempre utópico).
Estamos, assim, em crer que este documento nos vem indiciar a origem dessa explicação truncada sobre a origem do traje que, durante anos, foi, erradamente, doutrinada nas praxes, onde se dizia que o traje tinha sido criado com esse propósito.
Convém relembrar que, mesmo depois de se generalizar, o modelo burguês, a "actual" capa e batina, não deixou de possibilitar a exibição de diferenças, bastando (re)lembrar, a título de exemplo, que os coletes, durante as primeiras décadas do séc. XX, se apresentavam de várias cores e feitios, tal como as gravatas).
Sabemos, agora, um pouco mais.
O Comércio do Porto, de 29 Fevereiro de 1888, página 1.
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