segunda-feira, 25 de abril de 2016

Notas ao Caloiro que pode, e deve, trajar........sem condicionantes.


O CALOIRO NÃO TEM DE TRAJAR PELA 1.ª VEZ, APENAS NA SERENATA MONUMENTAL


Nesta altura do ano, altura das Queimas, continua ainda bem presente a ideia errada de que é nesta altura, especialmente na Serenata Monumental, que os caloiros devem trajar pela primeira vez.

Obviamente que isso não apenas está errado como é um atentado à Tradição e uma noção totalmente anti-Praxe.

Muitas "casas" proíbem liminarmente o caloiro de trajar (pior ainda, quando o fazem em razão da não participação em praxes -  uma verdadeira aberração - ver AQUI) até à sua 1.ª Serenata Monumental.

Traçar da capa 2011 GDLp ESCE IPS
O N&M já explicou e provou que tal ideia é errada (ver AQUI, sobre o caloiro que sempre trajou)

Contudo, continua a maioria dos caloiros a só comprar traje por esta altura, para se apresentarem na Serenata, à espera que seja o padrinho/madrinha a traçar-lhes a capa (coisa que não fazem, porque estupidamente alguém lhes disse que não o podiam fazer antes, nem sozinhos).

Noutros casos, os caloiros não estão proibidos de trajar, mas também ninguém os incentiva a trajar antes, subsidiando, no fundo, a ideia de que a altura mais apropriada para o fazer pela primeira vez é na Serenata Monumental.

Releva isso de uma enorme hipocrisia, pois não basta não proibir, deixando implícita e inconscientemente no imaginário colectivo que giro giro, que fica bem e melhor, que é mais adequado trajar só naquela noite.

E nisso, os organismos de Praxe são coniventes e cúmplices, achando que lavam as mãos (e respeitam mais a Praxe) e ficam impunes só porque não proíbem os caloiros de trajar.

Sabendo nós que estas coisas dos ritos são um fenómeno de grupo, e não havendo quem esclareça objectiva e formalmente, não dizer nada é o mesmo que consentir e aceitar (e passar essa ideia) de que há uma altura definida para usar o traje pela primeira vez.
No fundo, esse "silêncio" apenas induz as pessoas numa suposta liberdade que é, contudo condicionada. São, portanto, livres de comprar na altura da Queima -e para usar na Serenata (e os caloiros acham mesmo que estão a optar).
Sim, o caloiro é livre de só querer comprar o traje nesta época para usar para a Serenata, mas convenhamos que quando o que se regista é que todos, ou quase todos, o fazem só nesta altura, é porque por detrás de tudo isto está uma ideia feita, construída sobre um erro - e essa "liberdade" acaba por ser muito pouco espontânea e muito pouco livre.


Assim, participar, promover ou divulgar eventos do "traçar da capa" (ver AQUI) é defender um preconceito que, na essência, é anti-Praxe, sejam os caloiros proibidos de trajar antes ou não.



PRAXAR CALOIROS TRAJADOS

Por detrás de tudo isto (com base nessa idiotice de que os caloiros não devem/podem trajar) está muitas vezes outro erro concebido pelos próprios praxistas: mas, afinal, como é, depois, praxar caloiros trajados?

Como o traje é, hoje em dia, já não um traje de uso comum, mas apenas tirado do armário (salvo tunos e outros em actividades cujo o traje é de uso mais regular) em determinadas, e escassas, ocasiões, quase sempre ligadas ao gozo ao caloiro, é normal que o mesmo seja tido como sendo de uma intocável "sacramentalização".
Obviamente que, como todos nós comungamos, o traje merece todo o respeito, desde logo porque se deve usar com aprumo e limpeza, pelo que inconcebível andar a sujar-se um caloiro trajado ou pô-lo a rastejar, andar de quatro e quejandos.
E com muita razão, diremos nós, pese embora não nos podermos esquecer que o uniforme estudantil serve também para ir às aulas, porque a sua função primária sempre foi essa, identificando o estudante como tal.

Mas perguntemos: não eram os caloiros, antigamente, praxados e usavam traje? Claro que eram, e assim o foram durante décadas e décadas.
Porventura o que difere é que o gozo ao caloiro não passava por certas actividades a que hoje quase se resumiu o gozo.
O gozo ao caloiro tem necessariamente de implicar sujar o caloiro, pô-lo a rastejar e submetê-lo a actividades que impliquem deixá-lo num farrapo de sujidade?

Não será de parar e pensar se, porventura, as actuais práticas do gozo ao caloiro não estarão, já, demasiado longe do que era suposto, saindo, muitas delas, completamente fora do que é apropriado e adequado ?
Não será de reflectir se, tendo de praxar caloiros trajados, durante o gozo, isso não obrigará os praxistas, a pensar com mais criatividade, com maior civismo e respeito o acto de realizar o dito gozo?
Não será de redescobrir como era o gozo ao caloiro noutros tempos, optando por propor brincadeiras que sejam capazes de melhor dignificar quer esse acto quer o respeito pelo uniforme estudantil?
Tirando os actos mais bárbaros (que não se justificam de todo), não eram os caloiros, no passado, rapados, sujeitos a colheradas, gozados...? Eram, claro que sim!
E não usavam todos traje? Claro que usavam!
O que se passa, então, para, de repente, já não ser possível ter um gozo ao caloiro feito com inteligência, pertinência e graça que seja compatível com o uso do traje por parte do caloiro? Houve retrocesso intelectual?

O uso do traje deve ser subordinado ao tipo de gozo que se pratica? Não será isso um total contra-senso?

É que, de facto, quando os praxistas só concebem praxes com base em brincadeiras que implicam sujar terceiros, colocar pessoas de quatro, a rastejar, a levarem com porcarias (muitas vezes com um ofensivo desperdício de bens alimentares), transformando o gozo em recrutas mal amanhadas ou provas de duvidoso mérito praxístico, continuaremos convictos que os problemas da Praxe e das praxes continuam alimentados por pessoas que não têm 2 dedos de testa, e que usam as suas poucas capacidades intelectuais para o desperdício de serem parvas.




Notas à fundação da Associação Académica de Lisboa (1903)

Dos artigos (recortes) que ilustram o processo que deu início à fundação da Associação Académica de Lisboa, em 1903.

 O Académico, Anno II, N.º5, de 28 de Janeiro de 1903, p.2

 O Académico, Anno I, N.º6, de 04 de Fevereiro de 1903, p.2

Notas a um Tricórnio flácido (Univ. do Minho)

Uma breve incursão ao Minho.
Como sabemos, o traje estudantil usado na Universidade é, actualmente, o denominado "Tricórnio".
 
 
O nome desse conjunto vestimentário, inventado pelo então estudante Luís Novais em 1989 (ver AQUI), tem por base o nome do chapéu adoptado, o Tricórnio (chapéu de 3 bicos).
In site de "A Toga"

In site "Entrada no Mundo Académico"
 
 
E é precisamente sobre esse chapéu (que, nas imagens acima, podemos ver na sua configuração correcta) que nos debruçamos neste artigo.
E fazemo-lo porque nos temos deparado com inúmeras fotos de estudantes da UM que supostamente deveriam usar tricórnio e, pelo contrário, usam um faz de conta de tricórnio -  em alguns casos, até é exagero assim o designar.
A imagem seguinte é esclarecedora.
 
 
 
Tricórnios achatados, dobrados (enrolados), murchos, alguns que mais parecem turbantes ou tartes mal amanhadas, é o que muitos estudantes ostentam, dando um ar muito pouco digno à peça mais importante ou mais identificativa do traje em uso na academia bracarense.
Um pouco mais de cuidado e brio no porte e aprumo dessa peça é pedir muito?
Se é para usarem tricórnio, que seja um de verdade e não essa coisa esquisita que parece ter derretido em dia de canícula.
 
Terminamos com uma foto de um grupo de estudantes da UM que, esses sim, usam o tricórnio como é suposto.
 
 
In blogue expressclique, artigo de 08 de Novembro de 2010

 

domingo, 24 de abril de 2016

Notas ao número ímpar em Praxe

Bem sei que este assunto será, desde logo, observado pelos meus dilectos leitores mais avisados, como um "fait divers", um exercício sobre uma matéria que, em Praxe, nada tem de essencial e fulcral. Mas é porque a comunidade académica de hoje parece estar tão presa a periferias e picuinhices que achei ser necessário também abordar este "tema".

A questão prende-se com a importância dada ao N.º ímpar, no que respeita a assuntos de Praxe.
De onde vem essa fixação e todas as determinações dai resultantes, relativamente ao traje ou outros quejandos praxéticos?

Daquilo que foi possível pesquisar (mais do que fazer apelo à memória), nada se encontra, documentalmente, que explique o quando, como e porquê dessa convenção como sendo um uso antiquíssimo e ancestral. Aliás, recuando ao tempo anterior aos anos 90, nunca tal foi considerado praxis ou tradição, nunca!
Assim sendo, não é Tradição sequer, nem Praxe.

A explicação mais comum, que podemos encontrar em diversos sites, e que é a mais reproduzida, não passa, claramente, de um argumento "a posteriori", para justificar algo que, ao que tudo indica, é mais um fruto do "boom académico" dos anos 80 do século passado (a reabilitação das tradições académicas) ou pelo menos a formalização de uma convenção algo recente de uma errónea interpretação.


A explicação avançada, para a importância no N.º ímpar é um exercício de analepse e reabilitação da ligação clerical das universidades. Assim, explica-se a sua importância religiosa/mística/bíblica porque:

"São 3 as pessoas da SS. Trindade, 3 os mensageiros que se dirigem a Isaac (antigo testamento), 3 os apóstolos no monte Tabor durante a Transfiguração, 3 as hierarquias do juízo final: inferno, purgatório e paraíso, 7 ospecados capitais, ou 7 as vitudes teologais. 
Também porquea  Criação se fez em 7 dias  e o sábado é tido como o sétimo dia , relativo ao descanso após a Criação (segundo o Génesis) , pelo Pentecostes que sucede 7x7 dias depois da Páscoa, pelo facto de cada sétimo ano ser sabático ou, depois de 7x7 anos se seguir o Jubileu; tal como a bíblica recomendação de se perdoar 70x7, as 9 bem-aventuranças...........)."

Estranhamente, e principalmente se pensarmos no traje (capa e batina), que é um corte com o hábito talar, por força dos anti-clericais, dos laicos republicanos (de que bem conhecemos os ódios à Igreja, nomeadamente às ordens religiosas, sobretudo aos Jesuítas)  que, a partir de finais do séc. XIX impõe um modelo burguês - de que provém o actual figurino da capa e batina, parece-me incoerente que tão atiçados anti-clericais impusessem no protocolo da Praxe (e do traje) convenções com base em simbologias judaico-cristãs.

Pelo que se pode observar em diversos clichés, desde o séc. XIX, o colete, por exemplo, tanto apresenta 4, como 5 ou 6 botões, tal como a casaca (que manteve o nome de "batina" por força do uso - apesar de, certamente, muito contrariar os anti-clericais) que tanto tem 3, como 4, 5 ou mais botões.

Recordemos que o actual figurino do traje resulta da produção em série de trajes (pelas unidades fabris), deixando de ser segundo cada alfaiate ou modista (uns faziam assim outros mais assado), para ser segundo um modelo de fábrica onde se produziam em série.

Mas se alguns defendem com unhas e dentes, embora com muita cegueira intelectual, que na Praxe é só N.º ímpar, porque é, supostamente, inspirado na simbologia numérica do cristianismo ou misticismo numérico bíblico, que dizer, então, dos 4 os evangelistas, de serem 12 os apóstolos, 14 mandamentos da Stª Igreja, 10 os Mandamentos, 12 as tribos de Israel, 4 os cavaleiros do Apocalipse, 40 os anos do povo israelita no deserto (após saída do Egipto), 40 os dias de Cristo no deserto, como o são os dias da Quaresma ou os 50 dias da época pascal (até ao Pentecostes)...........?
Lá está: dir-me-ão que se somarmos aos nºs pares o n.º três, obtemos um nº ímpar.......parece-me tão óbvio quanto insignificativo, e que tem bem cara de ser mais um procurar, precisamente, o que se quer encontrar.
 
Conforme se quiser, encontraremos as explicações mais "lógicas" noutras áreas que não a mística ou religiosa, seja na geometria, na própria matemática ou noutra área qualquer, para tanto defender o par como o ímpar. Sejam as rebuscadas explicações do sujeito como alguém ímpar e único, o tempo de praxe que é singular, etc&tal, tudo é muito giro, mas ditos e contos de embalar não, por favor!

Não sejamos ímpares de inteligência!

Ora se em Praxe é o N.º ímpar que reina e que domina, em alguns sítios, penso que encontramos nisso falíveis casos que contrariam essa ideia e disposição.
O facto é que tanto encontramos Nºs pares e ímpares, tanto mais de uns do que de outros conforme assim o quisermos ou der jeito.
Se os botões de um colete são em n.º ímpar, acabam por formar um par com as respectivas casas. Os buracos dos atacadores são em número par, tal como usamos um par de sapatos, um par de calças ou meias. E contudo, as fábricas de calçado não fazem sapatos tendo em conta isso. os estudantes compram o que as fábricas propõem e não são as fábricas a fazer sapatos sob indicação regulamentar da Praxe.
Veja-se, também que o mítico termo "Dura Praxis Sed Praxis" é composto por 4 palavras, embora com 19 letras e 7 sílabas, tal como os termos "Praxe" ou "Praxis" ora são com letras em n.º ímpar ou par, mas ambas par no n.º de sílabas.
As fitas da Pasta da Praxe, por outro lado, são 8, a qual é composta, por sua vez, por 2 abas.
Do mesmo modo, os logótipos de Praxe mais correntes utilizam 4 insígnias: Colher, Tesoura (um par de tesouras), moca e penico. Mas temos, igualmente, para o n.º ímpar, as "insígnias" de finalista que são 3«4: cartola, bengala, laço e roseta. É o grelo 1, mas termina em 2 pontas; é "Dux" ímpar, mas "veterano" e "doutor" são par (nº de letras e de sílabas).
Conforme o que queremos ver/defender, ambos os nºs aparecem.
 
Não me parece que haja qualquer fundamento em ligar tal a misticismos ou religiosidades por conveniência, sobretudo porque, claramente, essa explicação aparece depois para tentar legitimar algo que foi "inventado" por alguns, há largos anos atrás.

Em algumas casas, determinou-se ser assim, convencionou-se ser o N.º ímpar aquele que se sobrepunha, mas não entremos em exageros e ficção, nomeadamente numa matéria que não é, de todo, essencial ou essência da Praxe.
Os fundamentalistas praxistas que parem para pensar um pouco sobre o ridículo de querer tornar esta questão em cerne e fulcro da Praxe (juntamente com outras questões - que são tantas - deste género).
Em Coimbra, a título de exemplo, isso não é Praxe nem da Praxe. Aliás, falando em Tradição Académica Nacional, essa coisa dos números ímpares não tem fundamento algum: nunca foi, nem é Tradição ou Praxe.

Pedir discernimento e alguma inteligência não é pedir muito, ou é?

Existe a convenção do n.º ímpar em algumas situações, nomeadamente quanto à composição de organismos colegiais, com o intuito de evitar situações de empate nas decisões tomadas, embora possamos acudir com o facto de  pro alguma razão existir a figura do voto de qualidade.
Convenciona-se um n.º que tanto pode ser par ou ímpar, sem precisarmos de o justificar seja onde for. Se são 3 bengaladas na cartola, ou se são 4 tesouradas; se são 2 flexões ou se são 21, isso nada tem de místico, significativo ou se assume como dogma.

Ainda assim, quando nos deparamos, por exemplo, com a publicaçao de coisas do tipo " Latada, dia 20+1 de Outubro de 2008+1" (em que o "+1" é para não terminar é n.º par) isso não merece qualquer respeito, porque a estupidez não se respeita nem é Praxe.
O mesmo sucede com a estupidez de colocar as horas nesse mesmo preparo: 21:59 para não serem 22h00 ou 00.01 para não ser meia noite.
Nada tem de Praxe, nem nunca teve. É preciosismo bacôco e parvo e quem acredita, e defende isso, exemplo de pequenez intelectual.

Notas aos Relógios na Praxe

O relógio de bolso e o relógio de pulso na Praxe

 Não há como negá-lo: grassa uma enorme confusão e um enorme equívoco quanto ao uso de relógio de pulso com traje académico.
Muito se ouve dizer, nos meios estudantis, nos meios praxísticos, que não se usa relógio de pulso quando trajado.
Nunca ninguém, contudo, conseguiu dar uma cabal explicação e justificação para esse facto. Nenhum código que preconiza tal tonteria sequer explica o porquê dessa determinação.

Esse mito, criado sabe-se lá bem quando e onde (entre os anos 80 e 90 do séc. XX), foi replicado por sucessivas criações de novos códigos de praxe, nas emergentes e recém-criadas instituições de ensino superior, que mais não eram do que cópia de outro(s) que se adaptava(m) e reformulava(m) – e que outros copiavam e alteravam…e assim por diante.
O facto é que essa ideia, tornada lei proibitiva em muitos códigos, não passa de um enorme equívoco que não tem qualquer suporte histórico que o valide.
Todos eles (os que dizem que é proibido o relógio de pulso) permitem, apenas, o uso de relógio de bolso (vulgo cebolas), supostamente por ser a tradição histórica entre os estudantes de antigamente; supostamente porque nunca o relógio de pulso foi de praxe, era usado, era tradicionalmente utilizado.

Pois nada mais falso.
Este é mais um dos muitos mitos, das muitas mentiras e ficções que enchem páginas e páginas de códigos ditos “de Praxe”.
E vejam que até estudantes de Coimbra e Porto encontramos com essa ideia errónea, quando nunca o código de Coimbra, nem mesmo o projecto de código do Porto (de Balau e Soromenho), alguma vez, proibiram o relógio de pulso.
De Praxe não é nenhum relógio, como nunca o foi historicamente.
De Praxe, então, é qualquer relógio, seja de pulso ou de bolso, de ponteiros ou digital, de marca ou comprado nos chineses.


O que sabemos, historicamente?

 O relógio de pulso aparece na 2ª metade do séc. XIX, com várias empresas a reclamarem para si o ónus da invenção, como é o caso da empresa Patek Philippe, no fim do século XIX com rápida difusão, a qual, segundo consta, se deve, igualmente, ao famoso Alberto Santos Dumont que, em idos de 1904, pediu ao seu amigo, o famoso joalheiro Louis-François Cartier, que lhe desenhasse um relógio adequado aos rigores e necessidades dos aviadores, e que viria a ser o 1º relógio de pulso masculino (pois femininos já existiam).

Dada a enorme fama que gozava, foi, de imediato, imitado, popularizando-se o uso do relógio no pulso, passando a ser ícone de “estar na moda” e, logo, entrando nos adereços imprescindíveis da toilette masculina, a começar pelos da alta sociedade.

Note-se, a título de curiosidade, que o relógio de pulso se torna referência social para diferenciar o lado esquerdo do direito, dizendo a etiqueta que “o lado esquerdo é o do braço onde colocamos o relógio.”

 Sabemos, igualmente que, em Portugal, o relógio se populariza muito rapidamente a partir de 1914, como aliás em toda a Europa, por impulsão da I Guerra Mundial, pois os soldados precisavam de um meio prático de saberem as horas.
Um artigo publicado na revista "Sábado" (nº 334 de 23 a 29 de Setembro de 2010, p. 52-68), sobre "O dia-a-dia em Portugal há 100 anos", do historiador Rui Ramos, confirma (p. 60) que " O relógio de pulso se tornou popular entre os jovens em 1914".

Assim, a rapaziada rapidamente teve acesso a um “gadjet” bem mais barato e apetecível, bem mais prático e na moda, substituindo, rapidamente, os dispendiosos relógio de bolso (que não estavam ao alcance de todas as bolsas e eram reservados à idade adulta – muitas vezes passados de pais para filhos, normalmente ao mais velho, em jeito de herança, quando estes se emancipavam e “substituíam” seus pais no “comando” da família).

 Relógio de Bolso? Só para alguns.

 É, pois, natural que, até mesmo em Coimbra, Porto ou Lisboa, assim se verificasse essa mudança entre os estudantes.

 De realçar que afirmar que era prática generalizada os estudantes usarem relógio de bolso (que é o que supõem, mal, os códigos de praxe, numa espécie de revivalismo histórico romanceado) é falacioso. Não apenas por ser objecto dispendioso, mas porque a larga maioria dos estudantes nem posses teriam para ter um seu – mas porque, para terem horas, podiam sempre recorrer ao rebater da “Cabra[1]” ou de qualquer outro sino que, do alto das torres das igrejas, iam dando as horas (as “matinas”, as “ave-marias” pelas quais o povo organizava a sua vida no campo ou na cidade).

O relógio de bolso era, de facto, usado pelos estudantes até à década de 40-50, e António Nunes diz que "O relógio de bolso ou “cebola”, em ouro e prata, com ou sem símbolos, com e sem monogramas, é um objecto de prestígio tradicionalmente usado pelos estudantes de Coimbra do sexo masculino" , mas, mesmo assim, não o era pela maioria, tendo sido gradualmente substituído pelo de pulso (esse sim bem mais generalizado).
Estranha-se, assim, que os muitos praxistas que defendem (e defendem mal, por ignorância) que o traje foi criado para esbater as diferenças sociais (bem sabemos que tal é falso), sejam, muitas vezes, os mesmos que dizem ser proibido o relógio de pulso para se usar o de bolso – quando o relógio de bolso, nesse contexto, é, até, sinal de riquismo e, logo, discriminatório (se visto desse prisma).

O meu amigo Zé Veloso, cujo belíssimo artigo dedicado às Latadas o N&M reproduziu, diz, a esse propósito, que “(…) só uma sociedade de abastança e desperdício como a de hoje se pode dar ao novo riquismo de adquirir um relógio de bolso (quando muitos nem relógio têm e usam o telemóvel) para usar meia dúzia de dias, que é o tempo que muitos hoje vestem a capa e batina.”

Uma coisa é inegável: o relógio de bolso desde sempre está ligado a uma imagem iconográfica da alta aristocracia, dos mais abastados (burgueses, clérigos…), ou como peça de valor inestimável que só aparecia nos trajos domingueiros da plebe masculina.

Eduardo Coelho diz-nos, sobre o assunto:

"...a ostentação do relógio de bolso na viragem do séc. XIX era uma declaração política da burguesia republicana - tal como o bigode, por contraposição às barbas, preferida pela nobreza (ou com aspirações a...)
Outros
símbolos eram o chapéu de coco e a casaca.
Não podemos esquecer que a moda das sociedades secretas anarquistas, maçónicas - libertárias, de uma forma geral - assolou a comunidade estudantil de Coimbra e, em muito maior medida, a do Porto, cujas propensões livre-pensadoras encontravam expressão muito mais declarada num meio burguês como o do Porto (cf, por ex., a revolta dos sargentos de 31 de Janeiro).
Que se vejam inúmeras fotos de académicos de 189... sempre de relógio de bolso, entendo, por 2 razões: a raridade do relógio de pulso e a afirmação política, por um lado, e a ostentação de riqueza - as correntes dos relógios não seriam propriamente de latão.
Além disso, o relógio de pulso não se via. Na mentalidade do burguês, de que serve gastar dinheiro em algo que não se vê nem dá para esfregar na cara do vizinho?
Se essa gente soubesse história... Perceberia que o relógio de bolso ( a corrente do relógio) é muito mais um sinal exterior de riqueza (porque se vê) do que o relógio de pulso ( que não se vê).
Na Tuna de Arentim, Braga, nos anos 40, um dos elementos comprou um relógio de pulso. Mandou o alfaiate subir a manga esquerda do casaco para que, ao tocar viola, todos pudessem ver a maravilha - era o primeiro das redondezas. Esta história é verídica.".


De onde vem a questão da proibição?

 O historiador, e investigador, António M. Nunes, autor do reputado blogue Virtual Memories, diz que, e citando, “A interdição do uso do relógio de pulso é uma regra de etiqueta própria da grande casaca preta civil de abas de grilo, muito usada por chefes de estado, cantores de ópera, membros de grandes orquestras, ilusionistas. O porte da casaca obedece a normas muito rigorosas, que constam habitualmente dos manuais de cerimonial e protocolo. Por extrapolação, alguns estudantes oriundos das classes populares e da média burguesia em busca de afirmação social importaram para o mundo das tradições académicas preceitos do cerimonial de Estado.”.

Não estou em crer que fosse essa a razão entre os estudantes, pois a proibição nasce a partir da década de 80-90 do século XX, pela mão de algum saudosista que, como está bem de ver, pouco ou nada perceberia de protocolo, de história ou mesmo de tradição académica.

 Não deixa de ser verdade que, em momento de gala, de cerimonial, manda a etiqueta que não se use relógio de pulso. António Nunes sublinha que tal é “desaconselhado quando se envergam vestes de gala sejam elas masculinas ou femininas.”. Mas, nessas mesmas circunstância, também o de bolso não se permite.

Ora, em quantas situações o Traje Académico é usado em momento de gala ou cerimonial, de facto (julgamento e baptismo do caloiro, latada, cortejo da queima, entre outros, não assumem essa dimensão)?

Ora, exceptuando uma Oração de Sapiência, uma Missa de Finalistas, uma Entrega de Diplomas, um Chá Dançante (Baile de Gala), considerando que sejam os momentos de maior gala e solenidade……. poucas serão as ocasiões onde o relógio tenha de sair do pulso (ou do bolso do colete, no caso da "cebola").

Na larga maioria das vezes em que os estudantes trajam não o fazem nesse contexto, daí não haver qualquer fundamento para proibir o relógio de pulso.

Aliás, disse-me António Nunes que “Pela praxe conimbricense, não há nada que proíba o porte de relógio de pulso e quem o vier proibir será por desconhecimento.”, a que acrescentamos que também o não é pela praxe do Porto, como nunca o foi, até finais de 1980 e inícios dos 90, em nenhuma outra academia.

 Ao que parece, a proibição virá de uma interpretação deturpada de algum testemunho pessoal, do ideário construído em torno das imagens de época retratadas em tantos e tantos filmes, no fundo, uma espécie de febre do passado, a relembrar o gosto dos historiadores de finais do séc. XIX e inícios do XX, na sua adulação pelo medieval, pelo antigo (o mesmo que levou tanta gente a dizer, erradamente, que as Tunas eram uma tradição de 6 séculos).


Qual usar?

 O facto é que, goste-se ou não, essa febre pelo relógio de bolso em detrimento do de pulso, que tanto código apregoa, mais não é do que mero snobismo, quando imposto.

Esteticamente é bonito, não podemos negar. Quem o quiser usar, pois que o faça, mas não se queira é tolher o entendimento e vir com argumentos sem qualquer fundamento, a quererem proibir o relógio de pulso e a elevar as qualidades histórico-praxísticas(inexistentes) da “cebola”.

Não há nenhum motivo de natureza tradicional ou histórica que, em Praxe, determine coisa alguma.

Usou-se o relógio de bolso, tal como, depois, e de forma muito mais generalizada (e em maior número) o relógio de pulso.

Note-se que, até à data, ainda não encontrei qualquer documento fotográfico de época, que evidenciasse o uso corrente do relógio de bolso; aliás, todas as fotos que observei (abarcando clichés desde o séc. XIX), é difícil vislumbrar estudantes com relógio de bolso (um ou outro, apenas), prova de que o uso não era generalizado (se bem que, e em abono da verdade, quando devidamente trajado, seja difícil ver o mesmo, quando se está a posar para a máquina).

Alguns exemplos:

1907:
























1908:





























1909:




















1912:














1923:



















1927:













1936:
















 Inquirindo o ilustre Zé Veloso, também ele um investigador destas matérias, o mesmo me disse que, e passo a citar, “não tenho dúvida de que o meu pai, nos anos 30, usava a capa e batina com o único relógio que tinha, que era um relógio de bolso, já que os de pulso não eram correntes naquela época

Assim como não tenho qualquer dúvida de que no meu tempo de Coimbra - anos 50 (liceu) e 60 - só se usava relógio de pulso... porque o relógio de bolso tinha caído em desuso e só era usado por homens maduros ou velhos. Falo também pela Academia do Porto, onde estive integrado de 66 a 69.”


Parece, pois, evidente, que o relógio de pulso era usualmente utilizado pelos estudantes, já nas décadas de 50 e seguintes, em contraposição ao relógio de bolso, entretanto caído em desuso.

Note-se, também, este testemunho elucidativo:

“Cheguei à Estação Velha, um quase descampado, já com muita noite caída sobre mim e o mundo. A folhinha marcava o dia 15 de Outubro de 1960: os ponteiros do relógio de pulso que minha Avó me oferecera pelo meu 19.º aniversário, ainda não tinham iniciado a ladeira que sobe até à meia-noite (…)” Cristóvão de Aguiar, Escritor, In Corpo de delito na ilha de Coimbra, http://www.mundoacoriano.com/index.php?mode=noticias&action=printMe&id=92)




Concluindo:


Se quiséssemos ser puristas, e numa toada mais ortodoxa, diríamos que nenhum aparelho medidor de tempo deveria ser usado com traje académico, pois quando este surgiu, nomeadamente a capa e batina, os relógios de bolso não eram usados (quanto mais de pulso ou os telemóveis).

Mas se, como muitos propalam, e bem, a Praxe deve, gradual e pertinentemente, acompanhar os tempos, então é preciso olhar para a evolução social e perceber, quanto a este assunto de relógios, que, em momento algum, faz sentido ignorar o relógio de pulso sob o pretexto analéptico de reavivar o de bolso.

Ambos são legítimos, conquanto sejam úteis.



Use-se, pois, relógio, seja ele de bolso ou de pulso, pois se há algo que a Praxe nunca preconizou foi que ela prejudicasse o estudo e a pontualidade às aulas, daí que impedir o uso de um instrumento desta natureza nem lógica sequer tem.

Cabe a cada estudante escolher o que mais lhe apraz.

Obviamente que, no meio de tudo isto, existe a questão estética, daí que deva existir o devido bom senso na escolha do relógio de pulso a usar, para que seja discreto e sóbrio (em harmonia com o traje). Na falta desse discernimento, mais vale, mesmo, é não usar e recorrer ao telemóvel.



[1] O relógio da Torre da Universidade andou avariado na década de 1860, e em Abril de 1867 esteve em Coimbra um relojoeiro francês com a missão expressa de consertar o maquinismo. As horas eram tangidas na mesma pelo sineiro da Universidade (cabreiro), mas manualmente, o que obrigada o pobre empregado a subir o escadão de caracol com frequência. O arranjo do relógio teve repercussão mediática na cidade e originou a polca O Tocar da Cabra, de Francisco Lopes Lima de Macedo, datada de 1867, segundo informa A. Nunes no blogue de Octávio Sérgio, Guitarra de Coimbra (Parte II),  artigo de 2 de Novembro de 2008 (em linha: http://guitarrasdecoimbra.blogspot.com/search?q=rel%C3%B3gio)

Nota: Um agradecimento penhorado pelos informes e prestabilidade do Zé Veloso e António Nunes.

Notas à Capa Suja - Lavar a capa

Estava eu ontem à conversa com a minha afilhada, que me apareceu toda bonita de capa e batina (só agora passou a vestir, porque na sua faculdade  - Lisboa -  dizem que os os caloiros só na noite da Serenata é que trajam pela 1ª vez; prova de que continua a haver muita gente ignorante e que só diz besteiras), quando reparei na sua capa, ainda tão recentemente estreada, já suja com grandes manchas beje-acastanhadas.

Logo lhe disse que devia, na 1ª ocasião, depois da Semana Académica,  tratar de limpar aquilo, a que se seguiu a seguinte conversa (aqui abreviada):

- A capa não se limpa!
- Mas onde ouviste isso? Que parvoíce é essa de não se poder lavar?
- Foi o que me disseram.
- Ah, pois, mas não faz sentido nenhum.
- Mas está no nosso código e diz que nunca se lava a capa!"

Está bom de ver que algo de errado se passa naquela faculdade, e em tantas e tantas outras,  no que toca a coisas tão simples que querem transformar em papismos de meia-tigela.
Para o lixo com códigos que colidem com a Tradição e se arrogam o direito de inventar, deturpar e desvirtuar com base na ignorância, na pequenez intelectual e na falta de dois dedos de testa para pensasr e perguntar, antes de se armarem aos cucos!

Para o lixo com todos eles, com todos esse libelos da treta que conseguem ser mais anti-praxe do que outra coisa qualquer, enganam e induzem em erro os estudantes.
Já neste blogue se demascararam outros mitos (pins, emblemas, colheres de café na gravata, relógios, pasta de praxe, origem do traje, o nº impar, latim macarrónico, o grito FRA, insígnias......) e este é mais um.

Desde quando é Praxe e Tradição não se limpar a capa?
Desde quando é Praxe ou Tradição andar porco e sujo, trajando-se um uniforme (capa e batina ou qualquer outro traje académico)?

Propalam-se muitas patetices, a começar por esse supostos "líderes da praxe", cujos cargos são verdadeiros hinos à ignorância e incompetência, secundados pelos praxeiros em rebanho obediente no seu balir praxístico.
Depois a justificação é "o nosso código diz...", como se um codigozeco inventado à pressão se pudesse sobrepor à Praxe e à Tradição que lhe são anteriores e que são património basilar e transversal para a própria fundamentação de qualquer código de Praxe digno desse nome.
Não percebem que é imperativo haver um precedente e uma justificação na Tradição para validar um código que se arroga, ele próprio, repositório de tradição?

O traje e a capa devem ser limpos, sempre que andrajosos, sempre que sujos. Na capa não se colecciona esterco ou sujidade como se de medalhas se tratassem. A sujidade não é brasão que se cosa à capa e não é marca que digifique seja quem for. Se assim fosse, alguns sem-abrigo seriam Super-Dux.
Quem pensa e diz tais besteiras não é só a capa que devia limpar, mas o cérebro.

Aprumo e limpeza sempre foram exigidos em qualquer uniforme, em qualquer traje, e o Traje Nacional ou Traje Académico não foge à regra.
É uma questão de civismo, educação e excelência.
Aturar maus praxistas é uma coisa, mas que ainda por cima sejam porcos..........

Legislar a dizer que se tem de andar com uma peça de roupa mesmo que imunda é vergonhoso, triste e completamente parvo. Nem parece vindo de estudantes do superior.

Essa "moda" já não é nova, tem alguns anos, sabemo-lo.
Advém da mente de gente que queria, à força toda, (para darem nas vistas) imitar os antigos estudantes que só tinham o seu traje como indumentária diária (quando o porte era obrigatório, ou mesmo depois quando era a pouca roupa que possuíam) e que se rompia e sujava devido ao seu uso intensivo.
Só que o traje não é de porte obrigatório há 100 anos, nem o recurso a quem tem pouca roupa - que hoje é bem caro, até, comprá-lo!!!

E mais: não existem registos de estudantes andrajosos, sujos e com o seu traje/uniforme imundo! Não, não existe, porque era obrigatório, precisamente, o aprumo.
Em lado algum existe referência a não se poder lavar a capa. Só mesmo em codigozeco de meia-tigela.
As capas, e o restante traje também, sofriam com o passar dos anos, e andavam bem rompidos no caso dos mais veteranos, mas não consta que andassem sujas como hoje alguns as deixam (sob pena de nem poderem entrar nas salas de aula). Aliás, não era invulgar alguns estudantes comprarem novas capas ou mesmo calças, batinas ou coletes, a par com sapatos.

Note-se que há quem propositadamente suje a sua capa, a deixe pelo chão, só para lhe dar um ar "veterânico" (a lembrar aqueles filmes onde se amachuca uma folha, se passa por café e outros quejandos, para imitar um papel antigo), naquilo que é um desrespeito total pelo uniforme que envergam, inventando depois essa coisa estapafúrdia que não se limpa a capa porque as nódoas são recordações da vivência académica!
É preciso ter lata e ser muito estúpido para tal argumento, tamanho é o ridículo e absurdo do mesmo.
Quem assim faz, faz triste, patética e ridícula figura, pretendendo obter veterania pelo que aparenta e não pelo que deve ser e saber.

Historicamente, tradicionalmente, fique claro, não há nada que justifique não se limpar o traje e a capa também, muito pelo contrário.

Com efeito, bastaria recordarmos aqui  o Edital da Vice-Reitoria de 22 de Abril de 1839, e depois o Decreto de 25 de Novembro (Regulamento da Polícia Académica) desse mesmo ano, que determinava que quem entrasse nos Gerais e nas salas de aula o fizesse com "vestuário próprio", ou seja envergando o traje académico. Determinava explicitamente o art.º 27º que o traje reservado aos lentes, doutores, professores e estudantes deveria ser limpo e decente.

No entendimento da época, como refere António Nunes [in Identidade(s) e moda, Percursos contemporâneos da capa e batina e da sinsígnias dos conimbricenses. Bubok, 2013, p.73], "limpo e decente" abrangia a higiene corporal e vestimentária.
Assim, o traje e a capa eram limpos/lavados, sempre que se apresentavam demasiado sujos para exprimirem o aprumo que se exigia a um uniforme como era o traje estudantil.

No edital datado de 24 de Abril de 1862, pouco depois do reitor Basílio Pinto ser reconduzido no cargo, ordena-se que "qualquer estudante que for encontrado em público com vestido talar académico, sem ser limpo e decente, como ordena o art.º 27 do Regulamento da Polícia Académica de 25 de Novembro de 1839, será recolhido à casa de detenção académica pelso empregados da Polícia Académica que o encontrarem, ou dele tiverem notícia, dando-me logo parte de assim o terem praticado".

[idem, p. 84]



In "Legislação académica desde o anno de 1851 inclusivamente até ao presente" , editada em 1954 pela UC. Edição Impressa colligida e coordenada por José Maria de Abreu.



Aliás, como podemos esquecer, por exemplo, que o acto de passar em revista o traje  não concerne apenas o correcto porte, mas igualmente o aprumo, a sua limpeza (capa incluída)?

Nota: Como disso damos conta no artigo sobre "Foro Académico", no qual também abordamos a questão da Polícia Académica, é possível perceber que, em finais do séc. XIX, fruto de um crescente descontentamento interno e externo (desde a revolução vintista e guerras liberais que a UC vive tempos conturbados), muitos estudantes que eram contra o traje talar (e reclamavam "modernidade" - que resultaria na transição para a "abatina") se apresentavam propositadamente com os seus trajes em condições lastimáveis ou então com adereçso proibidos pelo regulamento de disciplina em vigor, como forma de provocar as autoridades e atitude reaccionária. Convirá não confundir tal com o romantismo ficcionado dos velhinhos estudantes de trajes puídos pelo uso.


Nota: também me disse essa minha estimada afilhada que só era Pastrana quando inciasse o seu 2º ano na faculdade, revelando que na instituição que ela frequenta andou muita gente a aparvalhar a Praxe, deturpá-la e a espalhar mitos; gente que manda na Praxe lá do quintal deles, mas que destes assuntos não passou ainda de caloiro.

Pastrano é a designação dada ao estudante que deixou de ser caloiro com o início da Queima das Fitas (época que marca a emancipação), até à 2ª matrícula.
É caloiro, mas já pode usar a pasta da praxe.
No palito métrico, "pastrano" é um nome equivalente a "caloiro"/"felpudo"/"loiraça" ou "boroeiro" - expressão injuriosa para designar os novatos. Aliás, o próprio João Fernandes do Palito Métrico é descrito como tendo descido do monte/casal até Coimbra. Termina a aventura a guardar cabras e ir à tábua. mesmo em Espanha, era frequente nos colégios dizerem ao recém-chegado que era filho de lavradores/pastores, etc.
Pastrano deriva de "pastorano" - pastor, daí o significado de "rústico, grosseiro". Cf. http://www.lexico.pt/pastrano/


Como lho disse a ela, digo-o para qualquer outro do género:

-Para o lixo esses codigozinhos da treta. Para o diabo tanta ignorância e estupidez disfarçadas de grandes heranças do passado.
Rasguem-se as páginas desses manuais e deixem apenas o que é TRadição, de facto.
Os códigos ficavam mais magros, mais fáceis de conhecer, transportar e respeitar, por só conterem o essencial, o genuino, o que de facto importa.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Notas ao Apadrinhamento do Caloiro (das origens à actualidade)


Muitas são as perguntas que, volta e meia, são colocadas na tentativa de perceber de onde vem a tradição do apadrinhamento na Praxe.

 Vamos tentar fazer alguma luz sobre o assunto.

O Apadrinhamento é uma prática já bem antiga que consistia, grosso modo, no recomendar do novato e algum estudante mais velho, lá da terra, para que este último tomasse conta, orientasse e protegesse o “miúdo” de todas as partidas, usuras e vícios.

Como os estudantes se organizavam em residências (cuja administração era por eles assegurada), era nesse meio fechado e altamente hierarquizado que tudo se jogava.

Na hidalga Espanha, onde temos os registos mais antigos dessa prática, as ditas residências eram conhecidas por “colégios” e, para além do novato ter deveres (faxinas várias), gozava igualmente de direitos, pois os veteranos, por imposição das leis universitárias, tinham de garantir determinadas condições aos alunos mais novos, sendo uma delas o apoio ao estudo[1].

Façamos a viagem ao interior da história, por mão do “QVID TVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal”, que claramente nos explica tal fenómeno

 “Havia uma modalidade bastante difundida até meados do séc. xvi: a pupilaje. E entram em cena os famosos bachilleres de pupilos, que tanta tinta têm feito correr, desde os tempos da literatura picaresca aos bits e bytes (e muitos «bitaites»...) da cibernética.
Os bachilleres eram estudantes que, possuindo o grau de bacharel (bachiller), alojavam em suas casas outros alunos menos adiantados nos estudos. Regra geral, o bachiller era aspirante ao grau de doutor ou ao ensino na universidade. A possibilidade de receberem hóspedes, que lhes era oferecida pelas autoridades académicas, constituía uma fonte de rendimentos para o prosseguimento de estudos. Num paralelo com o «Processo de Bolonha», diríamos que haviam concluído a licenciatura e pagavam, assim, o mestrado. Além disso, como a nomeação para uma cátedra se fazia por votação, os pupilos representavam mais uns votos na eleição.
Contudo, esta benesse impunha um conjunto de obrigações: orientar o estudo, organizar a vida em comunidade, vigiar o bom comportamento e incutir bons costumes nos pupilos, fornecer alimentação devidamente regulamentada pelos estatutos da universidade, fazer cumprir as horas de recolher, etc. O pupilero (aquele que alojava os pupilos) foi sobejamente retratado de forma satírica na novela picaresca (Guzmán de Alfarache, La Vida del Buscón) como um avarento que gastava o menos possível das mesadas que os pais dos pupilos lhes enviavam, servindo a pior comida e a mais barata em quantidades irrisórias, equipando os quartos com mobília de péssima qualidade – enfim, transformando a pupilaje num negócio sórdido e rentável.
Os estatutos universitários determinavam ainda que cada bachiller recebesse apenas alunos do mesmo curso ou de cursos afins, para assim estimular o estudo por via das afinidades electivas e intelectuais dos seus pupilos.”[2]



Fica um retrato das origens.
Em Portugal, as residências governadas por universitários (sucedâneas das existentes sob tutela de ordens religiosas – os colégios[3]) ficarão conhecidas, no séc. XIX, por Repúblicas[4].

As repúblicas que surgem em Portugal resultam da necessidade dos estudantes arranjarem uma nova forma de alojamento, após a extinção dos colégios universitários de Coimbra (que criou uma enorme falta de locais para albergar tanto estudante), quando, em 1834, é abolido o Foro Académico. São posteriores, pois, à revolução vintista e consequência da implementação do decreto de Joaquim António de Aguiar, em 28 de Maio de 1834, que extingue congregações, mosteiros, conventos, hospícios, etc.

"República" em razão do governo da residência ser semelhante aos governos dos estados republicanos. Amílcar Castro define-as como “casas onde vivem estudantes por conta própria”[5], dado que era constituída por estudantes e uma ou duas criadas (para lavar a roupa, cozinhar...), devendo prestar contas no fim do mês ao senhorio, controlar as despesas e dívidas dos moradores e a alternância na chefia da residência (às vezes semanal, mensal ou, então, anual).

 Mas voltemos ao fio da história.

Em Portugal, as relações de usura e exploração de novatos por parte dos veteranos era prática também comum à da vizinha Espanha (e outros países com urbes universitárias).

Recorremos, mais uma vez, à obra acima referida, a qual designa o conjunto literário que versa sobre esses costumes e vivências de antanho por “Picaresca Portuguesa”:

 “A mais antiga fonte documental oriunda do meio académico e respeitante à forma de vida dos estudantes é uma colectânea de textos publicados por estudantes de Coimbra, entre 1746 e 1790, e que dá pelo nome genérico de Palito Métrico. Nela se encontra vividamente retratada em primeiríssima‑mão a vida da classe estudantil: as investidas aos caloiros, as artimanhas engendradas pelos mais velhos (e velhacos) para viverem à custa dos outros, os expedientes para suprir a falta de mesadas, os costumes, as modas, a exploração comercial e os logros infligidos aos estudantes pelos habitantes da cidade, a fome, o frio...
Todos os textos pretendem fornecer utilíssimos conselhos aos novatos para que não caiam nos logros dos veteranos, chegando os seus autores ao descaramento de afirmar que um dos logros é justamente a publicação de livros que previnem contra os logros!...
(…)

Ao folhearmos as deliciosas páginas deste «Apontoado de versos macarrónicos latino‑portugueses, que alguns poetas de bom humor destilaram do alambique da cachimónia para desterro da melancolia», vamos compondo um retrato da vida académica não muito diferente daquele que os congéneres espanhóis foram deixando. São as mesmas partidas feitas aos novatos, são os mesmos expedientes de sobrevivência,os mesmos conflitos com as autoridades.
(…)
Num outro texto da autoria de um tal António Castanha Neto Rua, um suposto recém‑licenciado por Coimbra encontra‑se de visita ao pároco de uma remota aldeia. Sabendo que um sobrinho do bom velho padre pretende frequentar a Universidade, oferece‑se o bacharel para aconselhar o mancebo sobre como poupar dinheiro, evitando despesas desnecessárias e burlas de amas, lavadeiras, criados e veteranos – queixas comuns aos dois lados da fronteira.”[6]

O apadrinhamento de hoje sofreu evoluções, nem sempre no sentido correcto, muitas vezes visto como uma forma de relacionamento, ou posse, de um indivíduo como objecto para praxe pessoal.

 O que sabemos é que ele tem por base a convivência em comunidade: as Repúblicas, onde se criavam afinidades (fosse com alguém da mesma terra, fosse por viverem debaixo do mesmo tecto). Recordemos que muitas emancipações (cartas de alforria)[7], ocorriam no seio das Repúblicas:

 “- Tu, e esticou o dedo na direcção de outro, pega nesta espingarda (era uma vassoura velha), põe-na ao ombro e vai fazer guarda, à porta da República. E não te esqueças:- sempre que passar uma gaja boa, grita “às armas”, para nós irmos admirar a bela Dulcineia.
O caloiro destacado, para fazer a guarda, desceu as escadas e foi postar-se à porta, de vassoura ao ombro. De vez em quando fazia ronda, como na tropa, andando de um lado para o outro, mas sempre em frente da República.
De repente, ouvimo-lo gritar:
- Às armas!
Todos corremos para as janelas. E lá ia, na verdade, a passar uma beldade de se lhe tirar o chapéu. (…)
Nesse momento, saía a D. Maria [criada da República], para ir às compras ao mercado.
Consciente da sua responsabilidade, a sentinela apressou-se a apresentar-lhe armas, no mais puro estilo marcial, o que lhe valeu um louvor de todos os presentes. Voltámos para dentro, mas, um ou dois minutos depois, voltou a gritar:
- Às armas!
Todos corremos de novo para as janelas, mas, desta feita, era uma pobre velha, alquebrada ao peso dos anos, que, muito custosamente, subia a calçada.
- Às armas, gritou outra vez o caloiro.
E porque, nesse momento, ela fosse a passar na sua frente, apresentou novamente armas.
- Ah” sua animália, você não vê bem, pro causa do cabresto ou perdeu os óculos?
No entanto, acharam que o caloiro se tinha portado por forma a merecer um segundo louvor e que a piada era, na verdade, de registar, o que lhe valeu ser imediatamente desmobilizado, para se sentar à mesa, com os “doutores”, a tomar o pequeno almoço.[8]

Também pululam invencionismos sem nexo, com doutores a exigirem que os caloiros peçam apadrinhamento por escrito ou outras formas descabidas, em detrimento do pedido pessoal e simples à pessoa. Um “altar” de ridículo no qual se colocam certos praxistas que redobram de presunção, na falta de algum pingo de senso, e humildade.


O Baptismo

 O apadrinhamento tem a sua formalização no “baptismo” (nas festividades da Latada/semana do Caloiro), acto em que o doutor se compromete a orientar e ajudar o novo aluno na sua integração na vida universitária (que não propriamente nas praxes). O caloiro, por sua vez, compromete-se a respeitar e acatar os conselhos daquele que escolheu livremente (a escolha é exclusiva do caloiro), sem que isso implique aceitar formalmente quaisquer abusos ou práticas que atentem à sua integridade.

O baptismo marca, igualmente, o reconhecimento simbólico e jocoso do caloiro como "inter pares", ou seja como académico, como colega, cessando, com o baptismo, a fase de recepção ao caloiro e as praxes ao mesmo.
Apadrinhamento de um Caloiro (à direita).
Pintura de Varela dos Reis, feita na
República dos Paxás, anos 50.
O caloiro não ganha nenhuma designação nova (não existem graus hierarquicos dentro da noção de caloiro: aluno que frequenta o Ensino Superior pela 1ª vez), antes o reconhecimento académico dos colegas mais velhos e a formalização do seu caminho de integração, com a entrada, na sua vida, do seu padrinho ou da sua madrinha.

Praxis do Baptismo

Sendo o “baptismo” um acto solene, copiado ou inspirado das práticas religiosas, implicaria que os doutores estivessem de capa descaída pelos ombros, ao invés de traçada, do mesmo modo que se deveria usar da colher ou, quando muito, o penico, evitando exageros na quantidade de água (daí serem descabidos os duches a que alguns sujeitam os caloiros ou os banhos em lagos, no mar e afins).
O acto solene do baptismo (inicialmente à beira rio, Mondego, mas também em fontenários) será normalmente conduzido por quem tem o ministério da Praxe (indicado para liderar a cerimónia) para aquele acto (o Dux ou outro responsável), cabendo ao padrinho/madrinha, ficar ao lado (e não, como se faz em alguns sítios, baptizar o próprio afilhado - embora neles possa ser delegado, em razão do número elevado de caloiros).

É derramado um pouco e água sobre a cabeça do caloiro, com recurso à colher de pau ou, eventualmente, a um penico, proferindo uma fórmula em latim macarrónico, que poderá andar à volta de algo como "In nomine solenissimae praxis, caloirum (nome) baptizatum est".


Quem pode ser padrinho ou madrinha?


Em rigor, qualquer estudante com possibilidade de também proteger (exercer protecções), ou seja com pelo menos 3 matrículas. Nada na tradição impede que possa ser alguém com menos matrículas, embora seja mais comum a escolha de um estudante já mais avançado nos estudos, em razão da sua maior experiência.



Quantos afilhados se pode ter?

Na prática, e com senso, diremos que não mais de 1a 2 por ano (o que dará cerca de 5 a 10 afilhados apadrinhados no fim do curso (o que já é muito).
Isto porque, como acima deixámos claro, o apadrinhamento é, da parte de quem apadrinha, uma responsabilidade; o dever de acompanhar e orientar, ou seja estar presente e atento.
Seguindo a antiga tradição dos estudantes que recebiam a incumbência de zelar por ouros mais novos, conforme acima mencionámos, citando a obra "Qvid Tvnae", cada aluno que apadrinha deve ter em conta que acompanhar um colega mais novo implica uma dedicação que não se compadece com legiões de afilhados como quem mete dezenas de pins e emblemas "para inglês ver".
Ser padrinho não é uma afirmação de popularidade, mas um serviço que se deve prestar em verdadeira solidariedade académica.
Tal não se consegue apadrinhando às carradas, só para parecer um tipo fixe e popular.
Lá diz o ditado que "quem toca muitos burros, algum deixa para trás". Ser padrinho não é colecionar afilhados.


Pedidos de apadrinhamento

Uma das coisas mais ridículas que temos assistido em algumas "casas" é o facto de ser exigido aos caloiros que o pedido de apadrinhamento se faça através de carta, de um documento escrito ou outra qualquer forma criativa.
Depois variam os tipos, de acordo com a tonteria dos veteranos. Ora é numa língua quem nem eles dominam, ora exigindo que a carta seja escrita de baixo para cima e da direita para a esquerda, ora assim ora assado.

Como forma de gozar o caloiro, em tom de brincadeira, tudo bem. É como mandar o caloiro ir à farmácia buscar pregos.
Mas levar isso a sério, ou seja como procedimento "administrativo" obrigatório, apenas evidencia a estupidez de quem se faz difícil e exige esse tipo de coisa sem nexo.
O pedido faz-se pessoalmente, cara a cara, perante o qual só duas respostas são possíveis: "sim" ou "não".

Não é preciso, porque nem é Praxe (nem de gente equilibrada), andar a inventar "démarches" e papeladas para algo tão simples como responder a uma pergunta/pedido.
Quem deve sentir-se honrado é o padrinho ou a madrinha, em ser escolhido(a) para orientar alguém cuja escolha demonstra reconhecimento pelas qualidades humanas e académicas.
O caloiro, ao escolher alguém, está implicitamente e reconhecer e honrar uma pessoa que vê como exemplo e como capaz de ajudar a ser melhor.
Não se percebe, pois, que os doutores se coloquem num pedestal de presunção bacôca a colocarem obstáculos e provas para que o caloiro se rebaixe q.b. para conseguir algo que se quer simples e sem folclores.
Doutor que se arma em difícil para aceitar um pedido de apadrinhamento está desde logo a falhar como doutor, desde logo por não perceber o apadrinhamento nem respeitar o caloiro na sua escolha livre e sincera. Em certos casos, obrigar alguém a fazer pedidos originais (e de facto reconhecemos a criatividade de muitos deles) chega a ser falta de educação para com quem faz o pedido.

Resumindo: não é Praxe exigir a um caloiro que apresente o seu pedido desta ou daquela maneira. Também não é lícito induzir os caloiros, sugerir-lhes, dar-lhes a entender que os pedidos se fazem mediante apresentação de algo criativo, deixando-lhes a ideia que é da praxe fazer-se desse modo.


 
Protecções

No que toca a protecções, as mesmas são tradicionalmente para com as trupes, pois a partir do baptismo cessam os ritos de recepção e as praxes.
Por vezes sucede que antes do baptismo o caloiro já tenha padrinho (ainda não oficializado, apenas um apadrinhamento "de facto", tal como as uniões). Nada muda com isso.
O padrinho ou madrinha, querendo proteger pode fazê-lo,
 conquanto a protecção se faça segundo a Tradição[9], sabendo-se que as mesmas seguem uma hierarquia de quem pode proteger, como e em que condições isso ocorre.

A ter em conta:


Temos vindo a observar que, em alguns locais, se municiam conceitos algo estranhos, como os de "família de Praxe", estabelecendo, por via dos apadrinhamentos, como que uma relação de parentesco, usando-se designações como "avó" ou "avô" para designar, por exemplo, o padrinho do padrinho (ou madrinha da madrinha).
Tal é totalmente descabido e pernicioso. De Praxe nada tem, e seria importante travar quanto antes essa moda, porque é precisamente assim, a partir de coisas que parecem inofensivas, que se deturpa a Tradição. E como em tantos casos conhecidos, só se está a alimentar que, de futuro, tal venha também a ser propalado como sendo Praxe (e pior ainda, poder vir a integrar alguns códigos).
Evitem-se esse papismos e verdadeiros non-sense.
O Padrinho ou madrinha não é um laço de parentesco, pelo que não se percebe que se queira estabelecer tal relação na Praxe, quando dela isso nunca fez parte.
Haja discernimento, mesmo para com aquilo que parece inofensivo.

Ficam estes dados que, esperamos, possam esclarecer e ajudar.



[1] Um estudo que, em alguns casos, ganha tal qualidade e reconhecimento que alguns colégios serão integrados na própria Universidade, como foi o caso do Colégio Fonseca, em Santigado de Compostela, ou mesmo do colégio da Sorbonne – que dará o seu nome à actual Universidade de Paris. Em Coimbra, isso sucederá com o Colégio Pontifício de S. Pedro, por exemplo.
[2] COELHO, Eduardo; SILVA, Jean-Pierre; SOUSA, João Paulo e TAVARES, Ricardo – QVIDTVNAE? A Tuna Estudantil em Portugal. -  Euedito, Porto, 2011, pp.49-50
[3] Em Coimbra, no séc. XVI, foram fundados 2 colégios: uma para os nobres, o de S. Miguel; e outro para os estudantes “honrados pobres”, conhecido como o “de Todos os Santos”
[4] RIBEIRO, Artur – Repúblicas de Coimbra, Edição do Diário de Coimbra. Coimbra,
[5] CASTRO, Amílcar Ferreira de – A Gíria dos Estudantes de Coimbra – Coimbra: Fac. De Letras, 1947 (suplemento de Biblos), pp.99-100.
[6] Op. Cit, pp. 57-58
[7] A emancipação, por via oral ou registo documental (carta de alforria) determinava que o caloiro ficava isento de quaisquer futuras praxes, pois tinha, em razão da sua graça, de algum feito ou comportamento tido como meritório, sido isento, gozando de total imunidade praxística, embora continuando caloiro.
[8] ABRUNHOSA, Octávio – Coimbra…ontem. Memórias de um estudante (1945-1951). Almedina, Coimbra, 2001, pp. 13-14
[9] No Código de Praxe de Coimbra, de 1957, tais condições estão consagradas no Título XI, artigos 144ª 149.