terça-feira, 24 de abril de 2012

Notas ao Magnum e Serenata do Porto

Para os verdadeiros Académicos, os Tunos, os Praxistas, os estudantes, que não apenas do Porto.

Leiam com tempo e paciência. É longo, mas de sobremaneira importante pela gravidade e pela necessidade de informar e formar.



I PARTE


Começar por dizer que tem sido, nestes últimos dias, um corrupio em torno deste lamentável incidente, o qual, contudo, veio apenas confirmar o que toda e qualquer pessoa de bem e com dois dedos de testa sabe: é o “Magnum do Porto” (o dito "Conselho de Veteranos" - que é mais um grupo geriátrico de ressabiados, isso sim) um organismo que parasita a Praxe e é liderado por uma pessoa que me escuso adjetivar para não cair no insulto grosseiro.


O video que se segue retrata a ponta o icebergue:


O que se passou, de facto? Bem, apesar do que, precipitadamente, e sem ouvir as partes, referiu a publicação "Porto24" (publicação que, mais tarde, então sim, trouxe a lume a outra versão), o que sucedeu, segundo as fontes consultadas, e que assistiram in loco, foi o seguinte:

 a) O Grupo de Fados do OUP (instituição que celebra no corrente ano o seu centenário e à qual se deve a manutenção das tradições académicas no Porto, nomeadamente a Serenata), foi, como é costume, convidado para a Serenata.
b) Houve uma reunião, com presença dos grupos envolvidos, da FAP (organizadora da Queima) e do Dux e alguns elementos do "Magnum". Tudo ficou acertado, sem problemas.
c) Ficou acordado que o Grupo de Fados do OUP, o qual estava no ano do seu Centenário, levaria mais elementos do que o costume, num total de 19 pessoas, pertencentes a várias gerações do grupo - algo que todos acharam boa ideia - por ser este ano o dos 100 anos do Orfeão.

Apesar disso, alguns elementos do “Magnum” (devido a questões antigas, algumas pessoais, nomeadamente o facto de OUP não se vergar ao Conselho de Veteranos), queriam que o grupo do OUP não fosse a palco com essa gente toda ou nem fosse sequer.

O Dux, numa atitude surpreendente (pois foi caloiro "expulso" do OUP), tomando a defesa daquilo que ele considera “carinhosamente”, ainda o assim, “o seu Orfeão” afirmou que não, que o grupo de fados do OUP ia (como tinha de ir, forçosamente) e que era ele que mandava. Tudo isto se passou à frente da própria esposa do Dux (antiga orfeonista) que ali estava também.

 Como tradicionalmente acontece, o OUP cedeu os estrados onde os fitados convidados assistem à serenata, em cima do palco, em representação das diferentes faculdades.

 No dia da Serenata, estava agendado um check-sound da parte da tarde. O grupo de fados do OUP compareceu, tendo-lhe sido dito que afinal não se realizaria e que comparecesse ao fim do jantar.
Tudo decorreu com normalidade, até à hora em que o Grupo do OUP (que não era composto só de estudantes, mas de muitos antigos estudantes) se apresentar, como combinado, para entrar, tendo chegado ao local por volta das 23:30. Dirigiu-se ao palco para fazer a calibração de som, sem que tivesse havido qualquer impedimento. Cerca de 5 minutos depois, um elemento da organização pediu com todo o polimento que saíssem a fim de se fazer um controlo de entradas – pretensão razoável, face ao exagero de “acompanhantes” que se verificou em anos anteriores.


 O grupo assim fez, tendo-se dirigido para uma “zona de aquecimento” na parte de trás da Cadeia da Relação. Ao regressar à zona do palco (cerca das 23:45), foi então barrado pelo Dux do ISEP (mais uma vez o nome dessa instituição metido onde há distúrbios - e começa-se a perceber porquê, tudo por causa de uns quantos que denigrem os demais) que os não quis deixar passar, alegando que só poderiam entrar 10 elementos.

 Tendo reunido, decidem os elementos mais antigos do Grupo de Fados do OUP não actuar, pois o OUP, a Queima e a Praxe são para os actuais estudantes.
Os elementos do Grupo de Fados protestaram, dizendo que não fora isso o combinado com o Dux Veteranorum e a FAP, sem resultado. Entraram em contacto directo com o Dux Veteranorum, tendo o mesmo solicitado que passassem o telemóvel ao Dux do ISEP.
Este recusou, alegando que “Não tenho nada que falar com o [Dux Veteranorum] por telemóvel”. Pediram então para falar com o Coordenador da Serenata e o responsável da FAP, e o mesmo indivíduo continuou a recusar chamar fosse quem fosse. Continuaram as tentativas de o chamar à  razão, sem sucesso.

 Declara então que afinal só poderiam entrar 5 elementos: já não 10 nem os 19 acordados.

Está bem de ver o ridículo e a má fé e uma "vingança pessoal", abusando de um poder que não tinha sequer.
A ideia era fazer arrastar a questão com o objectivo de atrasar a entrada do OUP o mais possível, para dar pretexto a que se mandasse um outro grupo abrir a serenata, colocando a culpa na “intransigência” do OUP – eventualmente fazendo-os desistir, vencendo pelo desgaste.

 Lamentavelmente, houve um outro grupo que se prestou ao papel: o de Medicina.


 ATENÇÃO: Tradicionalmente, cabe ao Grupo de Fados do OUP abrir a Serenata, por ser o mais antigo.


Porque eram assim injustificadamente impedidos, e já fartos daquela palhaçada, passava pouco da meia noite (dá para ver pela hora do vídeo), deram voz à sua indignação os orfeonistas (e antigos orfeonistas) cantando a "Samaritana", ali mesmo onde estavam.
Esta atitude de protesto enfureceu o Dux do ISEP, que investe da forma que se vê no vídeo e empurra diversas vezes um elemento do OUP (segundo 16 do vídeo), que, farto de se ver agredido – apesar de outros elementos do OUP o tentarem dissuadir – mais não fez do que reagir a uma agressão (segundo 20 do vídeo): quem “atirou a primeira pedra” foi o dito cujo veterano da praxe.
O Grupo de Fados do OUP retira-se, então, do local
Pouco depois (por volta das 00:30), e muito convenientemente, chegava o Dux Veteranorum.

O que fica, contudo, para a história, é que, formalmente, a serenata começou já quase às 00:30, sem abertura oficial por parte do grupo que deveria fazê-lo: o do OUP.
MAS PIOR DO QUE ISSO: A SERENATA COMEÇOU SEM QUE HOUVESSE A TRADICIONAL ABERTURA COM A FÓRMULA DA PRAXE: “ In nomine Solenissima Praxis, Serenatae Queimae Fitarum MMXII aberta est.”

A vaidade pessoal, o ódio incontido, a vontade de insultar e humilhar foi mais forte do que a Praxe que dizem defender. Triste.

 Nos estrados cedidos pelo próprio OUP, estiveram todos, menos quem devia.
Note-se que o OUP poderia ter exigido que os estrados que emprestara lhe fossem imediatamente devolvidos., mas não quiseram estragar a festa. Mesmo estando a ser insultados, humilhados e agredidos – também fisicamente.
É uma atitude pequenina? É.
É daquelas atitudes sem impacto mediático, mas que mostram claramente quem respeita a Academia e quem a não respeita.


Vergonhoso.



II PARTE


Na madrugada desta terça-feira, os elementos do OUP, reunidos de emergência, em razão dos incidentes ocorridos, foram importunados pelos dito "Conselho de Veteranos" à porta da sua sede, procurando estes últimos a intimidação e desafiando os elementos reunidos a apresentarem-se na Praça dos Leões para ali serem, pelos vistos, expeditamente julgados e, pasme-se, praxados.
Poderá o Dux Veteranroum alegar que era só para conversar com o Presidente do OUP, mas só um néscio acredita, pois quando queremos conversar, pegamos no telefone e falamos com a pessoa, combinamos um lugar ou vamos ter com ela.....e não mandamos a matilha fechar a rua, fazendo cerco à sede do OUP.

Um clima de ameaça por parte de gentalha que não tem qualquer legitimidade, não existe juridicamente, é claramente anti-praxe na sua forma de agir e estruturar e, contudo, veste a pele de uma qualquer milícia do 3.º mundo, pronta a ajustes de contas à boa maneira de um gangue de meliantes.
Essa trupe de facínoras, composta pelos líderes e dezenas de ultra-radicais (que nem devem saber do que se passa, mas seguem o líder da matilha sem questionar) manteve-se de pedra e cal até bem perto das 5 da manhã.

Só não se percebe por que razão não foi pedida intervenção da PSP. Eram identificados os senhores e acabava-se, logo ali, a brincadeira.

III PARTE


O que espantou, ou não, meio mundo (pelo menos aqueles que andam atentos e/ou não se deixam levar em conversas), foram as declarações do Dux ao "Porto24" (acima linkadas), contradizendo-se, contrariando o que dissera na reunião preparatória (como se pode assim mentir, quando a própria esposa desse senhor estava presente na reunião onde concordara com tudo?) e dando o dito pelo não dito, num claro exercício de perjúrio e de total falta de carácter.

Só que a versão que o "Porto24" tão depressa publicou (sem ouvir as partes - quase parecendo um artigo feito por encomenda) foi logo desmentida nos comentários que a ela se seguiram (às dezenas).
Fica aqui apenas um deles (datado de 7 de Maio e colocado às 22h54), por parte de quem assistiu, que se identifica como "Tiago", e que não era parte envolvida:

"Eu estive a 2 metros do acontecimento.
Vi tudo e ouvi tudo.Facto 1 – A FAP convidou o Grupo de Fados do OUP a abrir, como sempre aconteceu, a Serenata Monumental.
Facto 2 – Às 23h40m o Grupo de Fados foi informado no local que apenas poderiam entrar 10 elementos. 3 semanas antes o Grupo de Fados do OUP havia informado a FAP que iria levar 25 elementos
Facto 3 – O Grupo de Fados do OUP realizou o Sound Check normalmente.
Facto 4 – O Orfeão Universitário do Porto cedeu os estrados à FAP para a realização da Serenata.
Facto 5 – Os elementos do Grupo de Fados do OUP ao dirigirem-se para entrar no acesso ao palco foram informados que em vez dos 10 afinal só poderiam entrar 5 elementos.
Facto 6 – Um elemento do Grupo de Fados do OUP telefonou ao Américo Martins relatando o sucedido. O Américo pediu para passar o telemovel ao Dux do ISEP que barrava a entrada, que recusou dizendo “Eu não falo com o Américo pelo telefone”
Facto 7 – Passado 5 min da meia noite e cumprindo a tradição que criou, o grupo de Fados do OUP juntamente com outros estudantes começaram a cantar a Samaritana o que levou o Dux do ISEP partir para a agressão.
Facto 8 – O Américo quando chegou já esta situação tinha terminado."


Perante tudo isto, claro está que foi grande o burburinho, com amplo eco nas redes sociais e na Net (informar, já agora, segundo se sabe, que o "Magnum" proíbe os seus seguidores de comentarem na Net, porque dizem que a Praxe não se discute aí, como se a Net fosse "anti-praxe", só para verem a tarimba dessa gente que no seu autismo prepotente, nem se submete ao contraditório, pois sabe que seria ridicularizada pela sua falta de competência, saber e argumentos).

Recentemente houve uma discussão acesa no blogue do Praxe-Porto, sobre a Praxe no ESEIG e ficou bem patente os muitos insultos de certos partidários radicais e fundamentalistas (acabando muitos deles por retirarem os posts, depois de terem sido, como se veio a saber, advertidos pelo seu pseudo-organismo de praxe, para não comentarem mais ou retirarem as intervenções,nas quais se cobriam de ridículo, diga-se).

IV PARTE


Em razão do sucedido, o OUP deliberou e expressão tal numa carta aberta que publicou ontem:

CARTA ABERTA DO ORFEÃO UNIVERSITÁRIO DO PORTO

AO MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO, AOS PRESIDENTES DOS CONSELHOS DIRECTIVOS DAS FACULDADES DA U.PORTO, AOS DIRIGENTES DAS ESTRUTURAS ACADÉMICAS DA UNIVERSIDADE E DA ACADEMIA DO PORTO, AOS FUNCIONÁRIOS, AOS ESTUDANTES A TODA A UNIVERSIDADE DO PORTO E RESTANTE ACADEMIA DA CIDADE


Uma deliberação que vem já com anos de atraso, mas que veio, finalmente.
Resta esperar que possam os prevaricadores, esses tais, porventura frustrados por não terem lugar nas juventudes partidárias, e que só conseguem polir seus egos no meio dos putos (nomeadamente dos mais ingénuos e desinformados), serem devidamente punidos, desde logo lhes retirando todo a autoridade e reconhecimento; ignorando-os, simplesmente.


V PARTE


Decorrente da deliberação do OUP, é publicado o seguinte cartaz, em jeito de comunicado:




É de aplaudir, porque finalmente se bate o pé a um evento que, pasme-se, deve observância ao Dux e ao seu séquito (com direito a subir a palco e tudo, vejam só a lata), quando é um certame de Tunas.
Lá está: quando as pessoas misturam Praxe Tunas........

Bem sabemos do que sucedeu há pouco tempo, com o Magnum a atacar vergonhosamente as Tunas da Portucalense (apenas como consequência de terem exonerado o Dux de lá), declarando-as anti-praxe, e ameaçando todas as demais que aceitassem ou lhe fizessem convites do mesmo ostracismo.
Obviamente que grupos houve que despiram a sua condição de Tunas e se venderam, passando a Trupes Musicais da Praxe (claro está, com o ISEP à cabeça).

Desta feita, a TUP e a TFOUP, responderam à altura, não se misturando e deixando claro que o que é de Tuna não é de Praxe.
Mas tarde se seguiram outros grupos do OUP, não participando no Sarau.

Pena, ainda assim, que só agora, e porque lhe pisaram os calos, é que se insurgissem, quando ficaram (como tantas outras) caladas aquando do vil ataque do “magnum” às Tunas da Portucalense.

Quem sabe se com estes exemplos, o mundo tunante não passa a agir e a pôr em campo a devida auto-regulação, a unir-se e a defender a sua comunidade como um todo. O mesmo com os praxistas, os académicos e com os que querem uma Praxe digna.



EPÍLOGO


A resposta adequada a tudo isto seria que todas as demais tunas, Tunas de facto, procedessem do mesmo modo, mas bem sabemos que o palco do FITA é razão suficiente para trocarem a sua idoneidade e venderem a própria alma.

 O mesmo dizer de outros grupos académicos, os quais deveriam rejeitar ter esses ditos "veteranos" como interlocutores e rejeitar-lhes qualquer subserviência.
Cabe aos estudantes e forças vivas da Academia do Porto uma resposta. Será mediante ela, ou falta da mesma, que se verá quem é quem e que tipo de Praxe, de académicos e de carácter dita e define as gentes de capa e batina na Invicta; quem assobia pró lado, quem baixa as calças e quem se decide, de uma vez, a bater o pé e a mudar o estado das coisas.

 O certo é que, como dizia o “Saraiva das Forças”: "Quando a Academia faz m*rd*, limpa o c* à Capa".

Alongo-me, ainda mais, com uma citação de um artigo fabuloso, escrito em 2007, e já nessa altura mostrava precisamente estas ingerências do Conselho de Veteranos, demonstrando a pequenez intelectual, a mediocridade praxística, e falta de chá de uma pandilha que nem o seu lugar sabe ocupar, pensando poder ombrear com o OUP.
O artigo em causa teve que ver com o facto de o Grupo de Fados do OUP não ter sido convidado para a Serenata de Recepção ao Caloiro. A coisa já vem de longe.

"Ora, ou muito me engano, ou há aqui veteranada. Fartos de não terem autoridade, as cabecinhas pensadoras da nossa praxe viraram-se para o autoritarismo. Deu-lhes para porem no mesmo pé de igualdade o OUP e os restantes agrupamentos circum-escolares (se é que têm esse estatuto). E aqui começa o erro fatal:

1 - o OUP é uma instituição mais antiga do que a maioria das faculdades da Universidade do Porto;

2 - o OUP, do alto dos 95 anos de História e de memória viva da Academia - para o bem e para o mal -, não aceita lições de praxe de ninguém, nem precisa de ser chamado às responsabilidades académicas que sempre soube cumprir - quando para isso teve condições;

3- o OUP trajou capa e batina durante o PREC, numa altura em que os pais de alguns dos actuais "Duces Facultis" ainda nem haviam começado a namorar...

4 - o OUP sempre manteve um grupo de fados, dentro da medida das suas possibilidades artístico-etílico-voluntar​iosas e, com isso, criou uma escola e uma continuidade - coisa que nenhuma das outras faculdades da UP (e não só) mantém, sequer; regra geral, esses grupos foram (são) intenções espúrias e sobrevivem para Queimas e afins graças a velhas glórias que só aparecem nessas alturas;

5 - este vosso criado, que tantos ouvidos arranhou com as suas guitarrices, por exemplo [não desfazendo o enorme Zé Costa, o supremo Ruizão, o academíssimo Misha, o incansável Astro, o veteraníssimo Tocas, o esforçadíssimo Tutan, e tantos outros (perdoem-me a não-inclusão no rol) que actualmente militam na Veterana] deixou o OUP e, por consequência, o Grupo de Fados, ainda as cabecinhas (muito "inhas"...) pensadoras não sabiam as primeiras letras;
 (...)
 onde estavam esses "senhores" quando o OUP:
1. reintroduzia a capa e batina no Porto?

2. constituía o acervo da memória da Praxe?
3. cedia as suas instalações e o seu potencial humano na adopção da capa e batina como traje académico nacional em detrimento da velha "loba"?
4. aderia aos lutos académicos de 1914, 1939 e 1969?
5. levava aos quatro cantos do mundo o nome da Academia, ao som dos Amores de Estudante?
6. criava o conceito de Festival de Tunas em Portugal?
7. moldava o rosto da queima com a Romaria Académica?

8. manteve a Praxe viva, contra ventos e marés politiqueiras?
9 . criava o traje feminino?...
10. era agraciado com a Medalha de Ouro de Mérito Artístico da Cidade do Porto?
11. a sua alta conduta cívica e moral lhe valiam a Comenda da Ordem de Benemerência (atente-se bem no significado desta comenda)?
12. o seu papel inigualado na divulgação da cultura portuguesa junto das populações mais isoladas lhe valia a Comenda da Ordem de Instrução Pública (e reflicta-se no significado deste galardão) - quantas ambulâncias foram compradas com o dinheiro angariado pelos espectáculos que o OUP ofereceu? Quantas igrejas recuperadas? Quantas agremiações culturais reestruturadas, reequipadas, "re-sedeadas"?

14. dava dos estudantes do Porto a imagem de generosidade, daqueles que, mais favorecidos pela sorte, partilhavam com irreverência e galhardia o seu tempo, sempre com o mesmo brio, no palácio como na choupana?

Quantas outras instituições de cariz académico desta cidade, e mesmo sem este cariz, pode apresentar algo que sequer se assemelhe? Não certamente o Magnum... Sem desprimor para os outros grupos de fados, que não devem ser responsabilizados por esta fantochada: também eles não podem fazê-lo...

Para tudo resumir: onde estava o Magnum Consilium Veteranorum quando o OUP cumpria SOZINHO as OBRIGAÇÕES DE TODOS?
Espera lá: NÃO estava, pura e simplesmente. E pasme-se: PORQUE NEM SEQUER EXISTIA!...

Isto, se mais não fosse, deveria fazer corar de vergonha os perpetradores da aleivosia.

Como Académico, sinto-me desconsiderado e injustiçado. Como Orfeonista, sinto-me muito acima desta tropa fandanga de veteranos de 3/4 de mês - tanto que a surpresa é maior do que o real valor do insulto.
Pessoalmente, reajo muito mal às injustiças. Não me critiquem por reagir ainda mais a uma injustiça que considero pessoal."

in http://tvpenianos.blogspot.pt/ (artigo de Eduardo Coelho, de 22 Outubro 2007).

Termino deixando o link para 2deliciosos artigos de opinião, precisamente sobre esta questão:

http://asminhasaventurasnatunolandia.blogspot.pt/2012/05/aventura-da-teima-das-pitas.html
e
 http://asminhasaventurasnatunolandia.blogspot.pt/2012/05/aventura-do-fita-requiem.html

Notas de curiosa "Benção"

Tropecei no seguinte video a que derma o título de "Benção das Pastas".
Curioso, cliquei, esperando ver um excerto da referida benção, até para perceber de alguma semelhança ou diferença de monta.
Obviamente que a diferença foi de monta, foi abismal, até. Com efeito, isso da publicidade enganosa faz que muito patinho caia, como eu caí.
Afinal, não se trata de nenhuma benção, mas de uma "estranha" cerimónia onde uma qualquer autoridade (que não se consegue identificar só pelo vídeo, mas presume-se que um docente) entrega as pastas fitadas aos finalistas.



Não se percebe muito bem de onde vem essa prática.
Em lado algum se entrega uma pasta fitada ao próprio dono. Qual o sentido ou simbolismo?
Certamente que gostaríamos de saber, para melhor entender.
Mas dou de barato ao acto que, ao que parece, pretenderá assinalar o rito de finalista (embora o que a tradição consagrou chegasse perfeitamente).
Não dá para perceber muito bem em que moldes é isso e quando foi inventada tal cerimónia, mas é algo que só os próprios nos poderão esclarecer.

Seja como for, um erro crasso ali ocorre: os estudantes, finalistas, apresentam-se de capa ao ombro, quando em qualquer cerimónia oficial o devem fazer de capa descaida pelos ombros.
Benção não é, fique claro, e pena é que os autores do vídeo (que serão estudantes da academia em causa) não tivessem tido o cuidado de atribuir correctamente o título àquilo que as imagens ilustram.



Já o vídeo que se segue, apenas consta para que se veja e perceba a estupidez de certa gente. Uma vergonha que alunos assim se comportem e sejam tão mal educados, grosseiros e brejeiros, principalmente num acto público, numa cerimónia oficial.
Se aquilo é um hino, é lamentável que o tivessem adoptado, de tão porco e nojento que é.
Se há gente que o entoa, ainda mais lamentável, pois não se esperava tal conduta em estudantes do superior.
Geração rasca? Os que estão ali retratado, sem dúvida!

Notas de Capa e Batina Lafonense




Dois clichés que provam que mesmo no interior do país, em pequenos núcleos escolares, o uso da capa e batina era generalizado e simbolizava, inequivocamente, o estudante (fosse liceal ou universitário), independentemente de ser de Braga ou Faro, Coimbra, Porto ou Lisboa.
Neste caso, estas fotos dizem respeito aos primeiros alunos do antigo Colégio Lafonenses (Oliveira de Frades - Viseu), diririgido pelo Dr. Mário Oliveira e Silva, antigo docente dos liceus de Aveiro e Bragança, que trajam capa e batina (a menina que se vê na segunda foto, ao centro, apenas tem capa pelos ombros, pois não teria traje), apesar de estar tão distante da sede de distrito ou dos grandes meios urbanos.
Estávamos em 1935-36.
Pormenor interessante, é ver que na primeira foto temos, à porta, um estudante trajado com laço, como também era usual.

Fonte:
GOUVEIA, Luis Alberto C. Fernandes e GOUVEIA, António Castanheira F. - 75º Aniversário dos Bombeiros Voluntários de Oliveira de Frades - Pontos nos is, 2004, pp.97,99.

Notas aos Bandos Precatórios

Eram denominados de "Bando(s) Precatório(s)"  o(s) grupo(s) de pessoas que ia(m) pelas ruas implorando a caridade pública em benefício próprio ou alheio.
Já há tempos aqui se abordou esta questão, num artigo dedicado à acção das Tunas neste aspecto, que podem (re)ler AQUI.

Numa época de muita miséria (quem não ouviu já falar na famosa "Sopa do Sidónio"?), de muita fome, encontramos inúmeras manifestações com fins de beneficência.
Fosse para asilos (infãncia desvalida, crianças  pobres, etc.), caixa dos estudantes pobres, para socorrer vítimas das cheias ou  outras intempéries, para acudir a diversas necessidades de gentes em aflição, os "cortejos de oferendas", os peditórios, os leilões (que ainda hoje se fazem por iniciativa das comissões fabriqueiras, mordomos ou outros grupos paroquiais), as quermesses, saraus, missas e matinés, tinham quase sempre, entre finais do séc. XIX e início do XX um cariz solidário. Podemos dizer que até aos anos 40, essa é uma característica inata e presente ao meio cultural e artístico: a arte em favor dos que mais precisam.

Com o alvor do Estado Novo, e querendo esconder a miséria do povo (pois o Estado queria passar a ideia de governar bem), esse tipo de iniciativas  praticamente desapareceu, embora a fome não (nomeadamente nos anos 40-50, anos marcados pelo racionamento), daí que a continuasse a "sopa dos pobres" (que ficou sempr  com o nome de Sidónio Pais, que a instituíu) e que os nossos pais e avós recordam sem grande saudade.

Numa recente incurssão à Torre do Tombo, encontrei alguns clichés, datados de ca. 1909, sobre este tipo de desfile (a que os periódicos da época  davam grande destaque), no qual as pessoas estendiam os cestos ou sacos, para receberem donativos.
Esses grandes desfiles (que iam das poucas dezenas às centenas ou mesmo milhares) eram quase sempre acompanhados por bandas ou filarmónicas, ou pelas Tunas, bem como, no caso de iniciativas académicas, pelos estandartes e docentes das escolas envolvidas.
Nesse especto, muito há que salientar a acção meritória e altruista dos estudantes (que não apenas os das Tunas), que redobravam em esforços e iniciativas caritativas.

Eis alguns desses clichés, tirados às portas dos jardins da Escola Politécnica.


Às portas dos Jardins da Escola Politécnica, podemos ver o pormenor do traje estudantil, com as características fitas no ombro direito e, em primeiro plano, dois deles levando o cesto/balde para recolher as oferendas/dádivas. Vemos ainda os alunos da Escola do Exército (devidamente uniformizados), lembrando que a larga maioria dos cursos ministrados (salvo o 5º, que era geral e o 1º que também dava acesso a engenheiros civis) servia a formação militar (exército e marinha), só numa fase mais recente serão ministrados estudos preparatórios ou acessórios para engenheiros hidrógrafos, professores do ensino secundário, alunos de veterinária e alunos de medicina.
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-03034_m0001





Em destaque a banda que acompanhou o bando precatório, servindo de chamariz à população, como era costume, já desde o tempo das bigornias nos desfiles carnavalescos, mais tarde as comparsas e estudantinas (Vd. "QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal".)
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-03035_m0001




Neste imagem vemso algo bastante comum nos desfiles onde se incorporavam estudantes trajados: as capas abertas (também se fazia com eleas enroladas, como cordas), que os estudantes seguravam pelas extremidades.
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-01370



Foto do actual portão de onde, em 1909, saiu o bando precatório acima descrito.

Notas de Imprensa ao Canelão e à Troça de 1898

Um dos costumes estudantis mais conhecidos em Coimbra diz respeito aos ritos de recepção aos caloiros, e que deu grande parte da má fama à Praxe, é precisamente o "canelão" (literalmente ir às canelas, ou seja dar caneladas/pontapés aos novatos) e a "troça", conjunto de práticas (a "pastada" que consistia em dar na cabeça dos caloiros coma pasta cheia de livros ou o "rapanço, entre outros) que pretendiam gozar os "bichos" (numa época em que muito disso passava por práticas violentas e vexatórias).

Encontrámos 2 artigos sobre o assunto num periódico de Viseu, o qual faz eco do que se passou em Coimbra, em Outubro de 1898.
No primeiro, datado de 21 de Outubro, temos o relato da prática, com a reportagem a dizer que mesmo com a polícia por perto, nada poderia fazer, tendo em conta a desproporção de forças.

Ainda um pormaior: o texto fala ainda em "polícia académica", supostamente abolida em 1834, data a partir da qual alguns dizem que se formaram as trupes constituídas por alunos.
Ou, de facto, só mais tarde a polícia é efectivamente extinta (note-se que ainda temos os archeiros a mando do reitor em 1898) ou então a polícia não era académica, mas o repórter assim a apelidou por força da tradição.
Parece estranho, contudo, que em 1898, mais de 50 anos após a suposta extinção da polícia académica, um repórter a ela se refira como existente, Mais ainda se ainda em 1898 existiam os archeiros, que são o corpo policial próprio (polícia académica) da Universidade.

No outro artigo, já datado de 25 do mesmo mês, temos notícia de ter sido publicado um edital a proibir os abusos e a prometer sérias penalizações, dizendo-se que isso levou os estudantes a conterem-se (a que terá ajudado o facto do reitor ter mandado os archeiros disporem-se na Porta Férrea).

A Liberdade, 21 Outubro 1898, ANNO XXVIII, Nº 1769, p.2




A Liberdade, 25 Outubro 1898, ANNO XXVIII, Nº 1770

Só no virar do século o canelão desapareceu, quando as praxes foram proibidas, aquando da implantação da república, dando lugar, a partir de 1919 (quando foram novamente "permitidas"), a outros ritos mais "disfarçados (como o eram os "pontapés da praxe" e, ainda mais tarde, os "calduços" ou "chachaçadas"). Também a designação "troça" vai paulatinamente desaparecer (embora, por exemplo, o rapanço se tenha mantido), vindo a ser substituído po rnovo vocábulo, sinónimo, "gozo".






Notas livrescas à Greve Académica de 1907

Um breve apontamento fotográfico sobre a Greve Académica de 1907.




Fonte: Portugal Século XX - Crónica em Imagens 1900 a 1910 de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores, pp. 178-179.
Fonte: MÓNICA, Maria Filomena - A Queda da Monarquia, Portugal na viragem do século. Publicações Dom Quixote, Lisboa 1987, p. 263 (Foto do jornal O Século)


Para saber mais, aconselho um clique nos seguintes links (2 deles com Pdf que poderão guardar):

http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/EFEMERIDES/Greve1927/GreveAcad1907.pdf

http://dererummundi.blogspot.pt/2009/03/greve-academica-de-1907-em-coimbra.html

http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/rle/n9/n9a05.pdf

http://lagosdarepublica.wikidot.com/l-a-greve-academica-de-1907

e um video:


Notas a uma Capa e batina(zinha)


Na esquina de uma estante de livros, entre os corredores silenciosos de uma pacata biblioteca de vila, podemos sempre esbarrar em algo fora de vulgar.
Desta feita o livro é insuspeito (e quantos documentos assim o são, contendo, afinal, verdadeiras preciosidades?). Um livro de fotos de época, que me merecem sempre curiosidade,  onde o cliché que se segue apresenta algo incomum: um jovem rapazito trajando, a rigor, capa e batina, e com a capa descaída pelos ombros (como manda a Praxe que se faça em momentos "solenes").
Note-se que não se trata de Carnaval ou de qualquer festa de máscaras. Não é nenhuma rábula ou teatro de qualquer espécie, mas uma cerimónia oficial onde as pessoas se apresentavam vestidas para a ocasião (com seus melhores fatos, fatos domingueiros, ou fardas - que será o caso daquele "miúdo").

Haveria, de alguma forma, o hábito de também a instrução primária adoptar pontualmente capa e batina?
Sabemos, como comprovámos no artigo referente aos alunos do Colégio Lafonense, que não apenas os liceais dos liceus de cidade usavam capa e batina, mas daí a termos rapazes tão novos a trajar......
É curioso, de facto.
Conhecemos diversos exemplos de jovens alunos a frequentarem os Seminários ditos "Menores" (para os mais novos) onde os pequenso seminaristas se fazem fotografar em grupo, todos de batina eclesiástica, mas o caos aqui é outro, até porqu eo contexto nem é escolar sequer.


Acompanham o cliché o seguinte título e legenda, respectivamente:
Em 1931 a estrada chega à Ribeira do [rio] Teixeira. in Boletim Paroquial de Cepelos - Ecos do Povo n.º 50 (Julho Agosto de 1996).
53. Foto da inauguração da abertura de mais um troço de estrada até ao Rio Teixeira.



Fonte: Vale de Cambra, meio século de imagens. Vol. III - Macieira de Cambra - Fotografias da Família Sousa. Edição Comemorativa do 75º Aniversário de Elevação de Vale de Cambra a Cidade e do Reconhecimento de Macieira de Cambra a Vila. 2000

Notas aos Estudantes de Coimbra em manifestação de apoio à Monarquia, 1908

Em 1908, ainda no rescaldo do regicídio (assassinato do Rei D. Carlos e do príncipe D. Luís Filipe a 1 de Fevereiro),  chega a Lisboa, a 27 de Maio, uma delegação da Universidade de Coimbra, para saudar o novo rei, D, Manuel II, acompanhada pelo reitor, Alexandre Cabral, e pelo secretário da Universidade, Manuel da Silva Gaio. Integram a comitiva de estudantes, entre outros, Carneiro Pacheco, Fezas Vital, Pacheco de Amorim, Paulo Cancela de Abreu e Luís de Almeida Braga.

À noite, realiza-se uma sessão no Teatro D. Amélia. O Times de Londres observa, na altura,  que "numa cidade, em que os republicanos predominam, as manifestações monárquicas, públicas e agressivas, tendem a tornar-se provocadoras". Com efeito, vários estudantes republicanos lançam um manifesto denunciando o processo e entre os subscritores estão futuros monárquicos como António Sardinha, Amadeu de Vasconcelos, Henrique Trindade Coelho e Martinho Nobre de Melo.

Alguns clichés dos estudantes, onde, mais do que aqui dissecarmos as questões d enatureza política, podemos observar o traje académico, nomeadamente no facto de, contrariamente aos dias de hoje, o laço ser bastante mais comum do que hoje (quase só para ocasiões de gala).

Reportagem "A manifestação monárquica da Universidade de Coimbra". Jornal O Século, Joshua Benoliel.

 Os estudantes de Coimbra saindo da estação do Rossio.
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-08338


Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-08221_m0001


 A caminho do Paço no jardim de Santos.
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-08335

Notas de Imprensa à Troça de 1890

Todos ouvimos já falar da "Troça" designando alguns ritos ou "brincadeiras" (verdadeiramente entre aspas) com que os veteranos brindavam os caloiros.
Por "troça" entenderíamos, hoje (com as devidas diferenças), "gozo ao caloiro".

Num recente artigo aqui publicado, tratando do Canelão e Troça em 1898 (de notar que o "canelão" seria um dos ritos integrantes da "troça"), ficou a dúvida se o rapanço seria uma prática mais ou menos comum e parte da "troça" ou se sempre figurara como punição, aplicado nomeadamente pelas trupes) em casos especiais de violação das regras vigentes na hierarquia estudantil.

Penso que o seguinte artigo, que é de 1890, será esclarecedor quanto a esta matéria, apontando o "rapanço" como uma prática usual (mas também não seria aplicado por "dar cá aquela palha") e parte dos "mimos" que os pobres caloiros recebiam dos mais velhos.
Neste caso, parece que a tentativa de rapanço serviria de "despedida" antes dos exames (e da Latada - que na altura se fazia no final do ano lectivo), após os quais o estudante deixava a condição de caloiro. Tudo assim o indica, se atentarmos que o artigo é precisamente de Maio.

Outro aspecto, prende-se com as "pauladas", reforçando o que já aqui se avançou sobre Insígnias de Praxe (moca, colher....) onde se questionou a "moca" como ícone praxístico, quando a arma mais utilizada pelos estudantes era, afinal, o varapau.

Jornal A Liberdade (Viseu), de 23 Maio de 1890, 20º Anno, nº 1016, p.2



Notas que dão socos

Poderia este artigo ser comentáriuo de uma qualquer notícia da nossa actualidade (infelizmente tem sido comum), mas o facto é que tem mais de 100 anos.
Afinal, até certo ponto, parece que estamos, volta e meia, a repetir certos "costumes", embora nem sempre o bons, que algures se parecem ter perdido.

Em 1892, um certo lente de Direito viu a vida a andar para trás, quando um jovem estudantes decidiu vingar-se de um chumbo recebido.
Era uma época conturbada e violenta, em plena efervescência entre os âmagos feridos do Ultimatum inglês e os fulgores republicanos que se exacerbavam cada vez mais,  num país que atravessava a bancarrota, numa sociedade de contrastes onde muitas soluções passavam por ajuste de contas corpo e corpo.

Note-se, contudo, que este tipo de incidente não era norma, tendo em conta que tal valia ao estudante não apenas a cadeia, mas também a expulsão da Universidade e, consequentemente, a possibilidade de um futuro que não passasse por "vergar a mola".
Bem diferente, portanto, daquilo que hoje sucede, onde o contexto é bem diferente (apesar da actual crise financeira) e as agressões a professores são resultantes da ausência de valores, de educação e de lei que puna duramente quem o faz.

 Jornal A Liberdade (Viseu), de 09 Julho de 1892, 22º Anno, nº 1127, p.2

Jornal O Comércio de Viseu,  de 20 de Agosto de 1893, VIII Anno, Nº 741.

Notas (en)Latada(s)

Este artigo traz-nos uma novidade para a larga maioria dos leitores: que as latadas também ocorreriam também nos Liceus (nomeadamente os ditos "centrais").
O artigo que se segue fala-nos de uma latada que, contrariamente ao que hoje sucede, assinalava, precisamente, a alegria do final do ano lectivo no liceu local  (à semelhança do que se fazia na Universidade).
Sabemos que só a partir dos anos 40 em diante é que a "Latada" foi movida para o início do ano escolar, ligada à imposição de insígnias.
Sobre a história das Latadas, já AQUI reproduzimos o que tão bem se escreveu no blogue Penedo d@ Saudade.

Sabemos que não apenas a capa e batina, mas muitas outras tradições eram partilhadas entre liceus e Universidade, fosse na recepção aos novatos, fosse em algumas festividades ou mesmo na formação de grupos de cariz musical (em Coimbra, por exemplo, a TAUC admitiu liceais durante décadas). Não se estranha, por isso, esta latada, embora ao invés dos nossos dias, tivesse sido levada a cabo em regime nocturno.

O caso concreto, aqui, é singular pelo facto de estarmos perante uma adopção recente, uma estreia, numa pacata cidade de província e em plena noite, o que motiva a crítica do próprio jornalista.

Recordemos que Viseu (e outras vilas nos arredores, como Tondela, por exemplo) era visitada 2 a 3 vezes por ano pelos estudantes de Coimbra (que não apenas os naturais), em saraus caritativos e, tradicionalmente, nas famosas récitas de quintanistas (normalmente de Direito), daí que houvesse uma tão grande proximidade aos costumes estudantis e o fascínio dos alunos do Liceu local que, tal como sucedia noutros brugos, procuravam imitar esses modelos, fascinados que ficavam por aqueles doutores de capa e batina, os quais gozavam de enorme prestígio e simpatia junto das populações.

O facto é que a dita latada protagonizada pelos liceais, ainda para mais à noite,  deu mais dores de cabeça que outra coisa, numa cidade pouco habituada aos ruídos estudantis (e aqui vem à memória uma das razões pelas quais a Universidade, nos seus primeiros anos de fundação saiu de Lisboa para Coimbra: as queixas da população quanto ao barulho e desacatos dos estudantes).

Não se encontrou ainda registos adicionais de novas latadas, deixando a entender, porventura, que a coisa não pegou.

Jornal A Liberdade (Viseu), de 04 Junho de 1892, 22º Anno, nº 1122

Notas a Baladas de Despedida Liceais


Esgravatar o passado é sempre uma caixinha de surpresas.
Desta feita, um artigo muito interessante que nos dá conta de mais uma prática copiada dos seus colegas universitários pelos estudantes de liceu, desta feita os finalistas do curso do 7º ano de liceu, em Viseu.
Também os alunos mais novos tinham, pois, suas récitas e festas de final de ano, como aliás já vimos em artigos anteriores, sendo que também compunham e entoavam Baladas de Despedida, ao jeito do que se fazia em Coimbra.
Pena não ter encontrado partitura alguma do tema ou pista sobre a mesma, caso tenha alguam vez existido.


Uma vez caloiro, nunca mais caloiro



Paulo Moreno Toscano escrevia no "Palito Métrico" (Conselhos para os Novatos ocuparem o tempo das férias...) [Coimbra Editora, 1942, p.191]

«É tão antigo o costume de chamarem Novatos aos que na Universidade se matriculam no primeiro ano, como são as Universidades no mundo.»

A palavra «caloiro» designava originalmente o aluno dos liceus, sendo o «novato» aquele que, como se vê, se matricula no primeiro ano.

Qual seja a origem da palavra «caloiro» é irrelevante para o caso que aqui me traz: É possível ser-se caloiro mais do que uma vez?

Este é um dos erros mais incompreensíveis que se têm transmitido ultimamente em Praxe. Como se terá chegado até aqui? Como é possível que alguém defenda que se pode ser caloiro 2, 3 - n vezes?

No Porto usava-se o seguinte aforismo: «Ser caloiro é um estado de espírito». E assim é, de facto. Tal como há «adultos» (em idade...) que nunca passaram da adolescência, também há veteranos com mentalidade de caloiro, de bicho e até mesmo de polícia: «Caloiro está três furos abaixo de cão e sete acima de polícia».

Pelo contrário, caloiros há que sabem mais que a Lúcia. E por isso existiu sempre a figura da alforria. Se o caloiro mostrava dotes invulgares de humor e companheirismo, muitas vezes era imediatamente alforriado logo no primeiro dia, significando que perdia o estatuto de caloiro/novato, passando poder sair às horas que queria sem ser incomodado, etc.

E quando isso não acontecia? Vejamos o que diz ainda o «Palito Métrico», num soneto de António Duarte Ferrão:

«Conselho saudável a um Novato

Será muito obediente ao Veterano,
Será no seu falar muito encolhido
E quando for (quod absit) investido(=praxado),
Tudo executará com rosto lhano (=cara alegre):

Se acaso ouvir dizer: "Fora, pastrano", (=pastor; nada que ver com "pasta"...)
Vá andando, não se dê por entendido;
Porque o mais é mostrar-se compreendido,
E além disso, arriscar-se a maior dano:

Se dos quinze de Maio se vir perto
Sem que lhe tenha alguém montado em cima,
Pode pesar-se a cera pelo acerto:

Mas de gabar-se disto se reprima;
Pois lá diz um ditado muito certo,
Que até lavar os cestos é vindima.»

"Quinze de Maio" era o fim do ano lectivo e início da época de exames. Se o caloiro não tivesse sido montado até essa data, podia pesar a cera pelo acerto (podia acender uma velinha aos santos), mas que não se gabasse de não ter sido investido (praxado, diríamos nós), pois até ao fim dos exames ainda podia ser... mas a partir daí, já não.

Ora, como se vê, a tradição (os textos que citamos são anteriores a 1765 - sim, mil setecentos e sessenta e cinco, não é engano) consagra que a partir do fim do primeiro ano lectivo o aluno deixa de ser Novato (Caloiro, para nós). Mais: a mudança de designação é automática. Isto é, o aluno deixa imediatamente de ser "Novato" para passar a "Semiputo", etc. Não precisa, pois, sequer de ser investido (praxado) para deixar de o ser.

Como se justificam expressões como "Passar na Praxe" ou "Matrículas na Praxe"?

Como ensina ainda Paulo Moreno Toscano:

«Aos do segundo [ano] costumam nomear por Semiputos (...). Aos do terceiro, Pés de Banco (...). Aos do quarto, Candeeiros (...).»

E o traje? Quando pode o Novato/Caloiro usar traje? Seja agora António Castanha Neto Rua, em meados do séc. XVIII (dezoito, sim, não é engano) em «O Sábio em Mês e Meio» (Palito Métrico, Coimbra Editores, 1942, p. 332) quem no-lo ensine:

[Um bacharel recém licenciado por Coimbra está de visita a um pároco de aldeia seu amigo. Um dia, apareceu por lá um sobrinho do bom abade, rapaz espigadote, que ia candidatar-se à Universidade. O bacharel engraçou com o moço e começou a dar-lhe conselhos sobre o que fazer quando chegasse a Coimbra]

«[Depois da investida dos veteranos amigos do seu primo, e antes de fazer sequer os exames de admissão], como eu desejo que Vossa mercê seja completo, passe imediatamente a comprar a sua batina em segunda-mão. A isto objectou o Tio (...) - Que ele tinha muito dinheiro e não queria que seu Sobrinho apanhasse os suores de ninguém. Ao que o [aldrabão] do bacharel tornou com [o seu] costumad[o ar de gozo]: Senhor Padre,  Vossa Mercê destas coisas não pesca: a batina que lhe recomendo é para o primeiro ano, a fim de não parecer Novato e livrar-se da injúria de lhe chamarem Calouro, Boroeiro, Felpudo e outros nomes que se engendram segundo o vagar e a fantasia de cada um, pois, [lá diz o ditado] "Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele" e foi indo por diante.
Vestido pois de batina, peça a seu primo que o ensine a traçar segundo a moda (...)»

O Novato/Caloiro pode ou não trajar? Cada um conclua daqui o que puder... ou fique caloiro para sempre.

E os caloiros estrangeiros? Este problema só se começou a pôr a partir de 1911, com a criação da Universidade do Porto (e de Lisboa) - uma vez que até essa altura existia apenas a Universidade de Coimbra.

Com o trânsito de alunos entre as duas universidades, foi necessário, a partir de determinada altura, chegar a entendimentos entre as duas academias. Penso que a princípio o problema continuou a não existir, sendo cada aluno imediatamente aceite no grau hierárquico que lhe competia.

Verdadeiramente, aparece a designação de caloiro estrangeiro no Código de Coimbra de 1957 e, mais tarde, no projecto de código do Porto (anos 80), que  se limita a copiar o de Coimbra, com muitos laivos de invenção pelo meio.

É efectivamente a partir dessa altura (anos 60 em Coimbra e sobretudo a partir  de finais dos anos 80 e início dos anos 90, no Porto) que deixa de haver "paralelismo", embora os alunos transferidos não fossem molestados ou alvo de certos "abusos", como anos mais tarde viria a suceder (e que hoje se observa).
Não praxavam, mas também não eram praxados.

Sobre isso, disse-nos o nosso amigo Zé Veloso (do blogue Penedo d@ Saudade, e estudante de Coimbra e Porto nos anos 60) o seguinte, quando por mail o questionámos sobre como era no tempo dele:

"No meu tempo de Coimbra, quem chegasse a Coimbra vindo de outra universidade era sempre considerado "caloiro estrangeiro".
Eis o que diz o Código da Praxe de 1957:
«Pertencem à categoria de caloiros estrangeiros os alunos que, embora já tendo estado matriculados no ensino superior, português ou estrangeiro, todavia estejam matriculados na Universidade de Coimbra pela primeira vez.»
Os caloiros estrangeiros tinham limitações de circulação na cidade, idênticas às dos restantes caloiros, depois do toque da cabra, mas não podiam ser rapados. Estas prescrições eram seguidas.
Os caloiros estrangeiros não eram "mobilizáveis", ou seja, não eram alvo de troças (de prática e de jure).

Quem chegava ao Porto... nada havia de praxes. Nem na Faculdade de Engenharia nem da de Ciências (onde fiz uma cadeira que trouxe de Coimbra atrasada)."

Os anos 80 vêm, pois, agravar o problema, com a criação exponencial de universidades e a criação de códigos de praxe a metro. As novas universidades quiseram diferenciar-se a todo o custo, criando as suas próprias praxes. Surgiu assim o argumento de que o aluno que vem  de outra universidade não conhece "a nossa praxe", pelo que terá de ser "caloiro" para aprender a praxe da casa...

Esta postura contém um erro de base, uma vez que parte do princípio que a praxe serve para ensinar a Praxe aos caloiros. Não serve. A Praxe existe acima do caloiro e do veterano, vinculando ambos a um conjunto de direitos e deveres.

Ninguém sabe tudo de praxe. Quem o afirmar é um mentiroso. Ora, se ninguém sabe tudo de praxe, então andamos todos a aprender. Então somos todos caloiros!  - é a única conclusão a que podem chegar aqueles que dizem que a praxe serve para ensinar a Praxe... Ora isto não parece razoável a ninguém.

Quando um aluno muda de universidade, não me choca que passe por um período de iniciação/adaptação a novos costumes. Um semestre parece-me razoável. O que me parece igualmente é que este já não será um "novato" nas andanças universitárias, pelo que não deverá ser tratado como um «caloiro puro», sendo integrado no grau hierárquico que lhe cabe, de acordo com o ano curricular que frequentar - mesmo que seja o último.

"Putus" (e o feminino "puta"), em latim, significa "Puro, sem mistura, não adulterado". "Semi puto" quer dizer "quase puro", "quase refinado". Ora a investida (praxe, se quiserem) destinava-se a isso mesmo - a purificar, a refinar, a retirar as impurezas do caloiro, identificado como sendo aldeão, rústico, pastor. Sendo assim, e partindo do princípio de que já foi "depurado" noutra universidade, precisará agora apenas de "limar algumas arestas" - o tal período de adaptação.

Sejamos razoáveis - tanto é o que se pede e aconselha, tendo em conta que um caloiro é, antes de mais e acima de qualquer outra coisa um ser humano e um colega de curso, não um saco de pancada para as nossas frustrações.

Há quem entenda que o caloirado é em tudo semelhante à instrução básica da tropa: só quando o recruta dominar um conjunto de técnicas básicas (marchar, formar, pôr a arma ao ombro, identificar as divisas e as patentes, etc.) é que pode passar ao grau seguinte. Nada de mais profundamente errado! Embora a praxe e a instituição militar sejam fortemente hierarquizadas, em praxe a passagem de um estatuto ao seguinte é automática - na tropa, não. Outra diferença reside no facto de na tropa existir subordinação efectiva e um poder real e legal entre superiores e subordinados - em caso de guerra, o superior chega a ter poder de vida e morte sobre os subordinados. Nada disso se passa em Praxe, onde não existe poder efectivo,  mas apenas consentido. Triste do que acredita que é efectivamente mais do que um caloiro...

O caloirado é uma janela temporal, que fica aberta durante um ano lectivo e se fecha automaticamente. E é dentro desse limite temporal que o caloiro pode ser sujeito (se nisso consentir) a um determinado número de práticas.


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As imagens publicadas neste artigo foram retiradas da Internet.

Distinguir Caloiros de Veteranos.....ecos do passado.

Neste altura em que tudo está ao rubro, com milhares de praxistas em preparos e outros tantos caloiros em cuidados, julgo apropriado fazer eco de um escrito do séc. XIX, que trouxe à ribalta o amigo João Baeta na facebookiana Tertúlia do Penedo d@ Saudade.
 
Aqui fica:
 
 
"Como se distingue um caloiro de um veterano?
 
As ferias é effectivamente o tempo dos caloiros!... Desafrontados então de todos os receios, correm a toda a parte para dar pasto á sua até alli reprimida curiosidade. Não os vêdes espalhados pelo pateo e pelas escadas? não os conheceis pelas caras? «O que? conhecer os caloiros pelas caras?» observa agora um judicioso leitor.
É verdade, meu caro senhor!
É mais fácil distinguir, se um ente, que traja batina, é caloiro ou não, do que differençar um homem d'um kanguroo ou chimpanzé; e não creiam que eu sou algum Lavater, ainda assim.
Não, senhores; ha coisas que até os génios vulgares distinguem com perfeição, como por exemplo, um diamante, d'um seixo; ou um veterano, ainda que de batina nova, d'um caloiro embora com ella velha; e aqui se prova aquelle ditado portuguez muito velho e muito certo, — o habito não faz o monge. (…) pergunto pois, como se explica esta facilidade em distinguir o caloiro do veterano?
Dai-me de um lado o rapaz mais experto e mesmo o mais desembaraçado; encaixai-o n´uma capa e batina velha e bem velha; mostrai-lhe de noite, e ás escondidas, todas as ruas da cidade, para que elle se não engane; apresentai-o em público depois, e todos os que tiverem vivido um anno em Coimbra exclamarão: — é caloiro! ao passo que se de outro lado puzerdes o estudante mais acanhado, e menos desenvolvido, trajando batina nova e parecendo até receiar dos outros ninguém se intrometterá com elle!...
Não sei o que é, mas ha um certo ar no traçar da capa, no pôr do gorro, n'uma palavra, em cem minuciosidadesinhas, que só o habito de trajar tal habito (passe o gongorismo) é que ensina!
Estas differenças, já se vê, caducam no caloiro chronico, espécie hybrida, que pertence ao veterano pelo muito tempo, que tem de Coimbra, e ao caloiro pelo pouco aproveitamento que n'ella tem colhido."
 
 
In A. M. da Cunha Belém, 1863: 4/5
 
 
 
 

Vicissitudes da Capa e Batina......ecos do passado

Já diversas vezes aqui se explicou, sem papismos e mitos feitos tra(d)ições que a capa e batina não deriva do clero, mas das vestes burguesas adoptadas para, precisamente, se proceder a uma verdadeira laicização do ensino em que o velho hábito talar e sucedâneos.
Não podemos negar que os primeiros tempos do republicanismo estavam pejados de verdadeiro fundamentalismo, de desbragado anti-clericalismo que viriam a ter o seu expoente máximo com a expulsão das ordens religiosas, nomeadamente na figura (hedionda, diga-se) de Afonso Costa, o conhecido como "mata-frades".

Do velho traje académico sobrou apenas a capa, grosso modo e a designação "batina"(ou seja "capa e batina" continuou a ser designação sinónima do traje estudantil), embora não existisse qualquer batina, mas uma casaca (que não é uma batina subida e adaptada).
Ramalho Ortigão foi um dos maiores críticos desta mudança afirmando ter sido o maior golpe dado á tradição (e com razão, diga-se), tal a mudança radical (pois não se tratou, na altura, de uma evolução, mas de radical mudança).

Aqui se deixam 2 artigos (ainda resultantes da minha passagem pela Biblioteca/Arquivo Municipal de Viseu).

O primeiro que reproduz os argumentos de um feroz crítico do traje clerical, um tal Alexandre Conceição, jornalista e intelectual da época, que refere a visita de um engenheiro francês, a quem mostrou a cidade de Coimbra, e que fica admirado por haver tantos "abades" na rua (e tão novos). Inteirado de que eram estudantes no seu traje estudantil, acha disparatado tal, terminando o artigo a acusar que tal uso é retrógrado e indigno d euma sociedade que se quer moderna e a acompanhar os tempos actuais.

O segundo é precisamente um informe do reitor da Universidade de Coimbra, sobre o aprumo desejado no corpo discente, o qual estava sujeito às regras e códigos de etiqueta que regiam a vida estudantil.



Jornal A Liberdade (Viseu), de 22 Abril de 1886, 16º Anno, Nº 803




Jornal A Liberdade (Viseu), de 22 Outubro de 1886, 16º Anno, Nº 829

A Troça Coimbrã......ecos do passado

Mais uma vez me socorro do saber alheio, mais uma vez trago a lume o que o dileto João Baeta, publicou no Penedo d@ Saudade Tertúlia (página do Facebook) sobre a antiga Troça praticada sobre os novatos.
Já anteriormente nos tínhamos debruçado sobre a troça ("Notas de Imprensa ao Canelão e à Troça de 1898" e "Notas de Imprensa à Troça de 1890 "), e eis mais um conjunto de informes valiosos.
Os contributos do João Baeta têm sido inestimáveis ao tirar do esquecimento o vasto saber livresco (edições entretanto desaparecidas de circulação) e ao partilhá-lo com todos os curiosos e aficionados destas matérias.


Elucidativo, sem sombra de dúvida:



“Passatempo favorito dos estudantes era a troça, sob diversas formas.
Pelo alvará de 23 de Setembro de 1539 vê-se em que consistia a troça dentro das aulas:
«Alguns estudantes não esguardando o que cumpre a seu habito e á sua honra desses estudos, por algumas leves causas que a isso os movem, estando nas escolas ouvindo os lentes, pateiam com os pés e batem com os tinteiros aos que vão tarde e a outros».



Mais tarde Verney, no seu Verdadeiro método de estudar, notava ainda que os estudantes embaraçavam a entrada de visitantes nas aulas, raspando com os pés no chão, costumeira que ainda se usava no meu tempo de estudante.
Alguns usos caricatos, em algumas procissões, eram largamente explorados pela veia trocista dos estudantes, apesar do fanatismo religioso de aqueles tempos. Tais eram: danças profanas intercaladas nas procissões, taboleiros de pão (fogaças), à cabeça de mulheres aparatosamente vestidas e decotadas, etc.
A procissão de Corpus Christi, acompanhada de danças, jogos e figuras impróprias, era com frequência perturbada por scenas escandalosas, como sucedeu no ano de 1724 (mais tarde em 1842, etc.); mas a procissão que mais troça provocava era a chamada procissão dos nús, que saía do mosteiro de Santa Cruz, no dia dos Santos Mártires de Marrocos (16 de Janeiro). Dos arredores de Coimbra acudiam numerosos penitentes, nús da cinta para cima, que acompanhavam as relíquias dos Mártires; os estudantes durante o trajecto dirigiam-lhes chufas, e davam-lhes repelões tremendos. Teve por fim de intervir o bispo com uma pastoral severa, proibindo que se incorporasse na procissão quem não estivesse decentemente vestido.
Por ocasião do ponto havia as soiças (mais tarde latadas), de tal maneira ruidosas, que tiveram de ser proibidas por carta régia de 4 de Julho de 1541.





(Teixeira Bastos: 1920:17/18)


Sobre a PROCISSÃO DOS NUS:

«A comunidade religiosa e civil consignou o dia 16 de Janeiro como dia santificado e feriado, por neste dia se efectuar a Procissão dos Nús, de bastante concurso de gente, iniciada no rocio de Santa Clara, junto ao Convento de S. Francisco da Ponte, e a terminar na igreja do mosteiro crúzio.
A Procissão dos Nús advém de um voto e promessa de um cidadão de Fala, arrabaldes da cidade em 1423. Aquando de uma epidemia de peste, prometeu o cidadão aos Mártires, no caso de cura dos filhos, todos os anos ir em procissão com os filhos nús de cintura para cima e joelhos para baixo rezar a Santa Cruz. O feito materializou-se e a devoção divulgou-se, verificaram-se muitas adesões e no século XVIII constituía uma das maiores procissões de Coimbra. No entanto, pouco depois degenerou em algo com desacatos e actos desonestos, o que levou o bispo de Coimbra, D. Francisco de Lemos Pereira Coutinho, no ano de 1798, a determinar a suspensão.»


(http://www.mensageirosantoantonio.com/messaggero/pagina_articolo.asp?IDX=82IDRX%3D16 , acesso em 04/09/12)


SOIÇAS:
«Em carta régia de 4 de Julho de 1541 proíbem-se as soiças dos estudantes: “quanto à soiça muito custosa que alguns estudantes este ano fizeram de que vos escandalizastes por não ser coisa de estudantes, hei por bem, havendo respeito ao que dizeis que se não faça mais e vós lhe defendei”. Pela época da proibição se infere que a soiça seria o divertimento por ocasião do ponto, que ainda hoje se pratica, e a que se dá o nome de tocar as latas.»



(Teófilo Braga, História da Universidade de Coimbra, vol. I, p. 478.)

« Em certos dias do anno, especialmente pelos Reis Magos, organizavam-se em Coimbra festas nocturnas, as soiças, em que os estudantes appareciam com os fatos do avesso ou cobertos de farrapos, mascarados e livres, por antiga praxe, de toda a intervenção das auctoridades.
Havia excessos e abusos com largueza que uma provisão regia (1541) cohibia, não permittindo as soiças para o futuro, por serem muito dispendiosas e impróprias de estudantes, e ainda outras providencias se succederam sem resultado efficaz.
As soiças morreram com o tempo, mas dellas devem derivar ainda as latadas no dia do ponto que nalguns annos têem resurgido de improviso, ruidosamente.»
Hipólito Raposo
Coimbra Doutora
Coimbra: França Amado, 1910 - Pág. 40/41               


------------------------------N.B.1: “Reis Magos” é o dia dos Reis que ocorre em 6 de Janeiro

N.B.2: A denominação vulgar “árvore-de-ponto” do Liriodendron tulipifera tem raízes académicas?
Esta designação é tipicamente lusa e tem a sua origem em Coimbra. “Ponto” no contexto escolar refere-se ao encerramento das aulas. A denominação está relacionada com a época de floração desta árvore (em Maio) que ocorre quando as aulas escolares findam.

http://cct.portodigital.pt/gen.pl?sid=cct.sections/1515105&fokey=cct.jardins/306 (acesso em 19.09.12)
 




Tuna & Praxe - A quem obedece a Tuna, afinal?

 

CARTA A UM - qualquer - PRAXISTA
QUE ACHA QUE A TUNA ESTÁ SOB ALÇADA DA PRAXE.
 por Eduardo Coelho
 
Preãmbulo: O contexto é o da Academia e Praxe do Porto e a questão em torno da tentativa do MCV e seu "Dux" quererem mandar nas Tunas.
 

"Quer entender que é primeiro praxista e depois tuno? Está no seu direito. Vai por um caminho perigoso, mas faça como entender. E aqui lhe deixo uma série de "primeiro sou":

"Primeiro sou praxista e depois namorado" - e oxalá nunca a sua namorada desagrade ao seu Dux ou ao Magnum... Ou, talvez pior, oxalá nunca agrade...

“Primeiro sou praxista e depois estudante” - comece a responder nos exames só às perguntas de número ímpar...

“Primeiro sou praxista e depois condutor” - comece a conduzir pela esquerda (já que se diz por aí que, em praxe, é tudo com a esquerda) e só ceder prioridade aos elementos do CV da sua faculdade ou do MCV - e comece a perguntar aos outros condutores o que eles são pela praxe, sob palavra de honra.

“Primeiro sou praxista e depois cidadão da República Portuguesa” - declare os deputados anti-praxe, mobilize caloiros para cercar o parlamento e exija ao Presidente da República que vá aos Leões à meia-noite (esta, se calhar, era bem vista). Para esta, pode contar comigo.

“Primeiro sou praxista e depois portista” - como está sob alçada da praxe, no Dragão comece a torcer pelo Benfica (pois é o clube do seu Dux) no meio da claque dos super dragões. Depois explique-lhes que eles pela praxe são bichos e você veterano e que têm de começar a torcer pelo Benfica, e cite-lhes “em praxe não se pensa, obedece-se!”

Portanto, você pode ser praxista e adepto do FCP, praxista e condutor, praxista e namorado, praxista e cidadão, praxista e estudante - e também pode ser praxista e tuno, sem que, por ser praxista, os órgãos de praxe se possam meter na sua vida.

Um jogador de futebol da Académica de Coimbra tem de jogar como der na veneta ao Dux Veteranorum? Essa é boa. E por que não? Porque o futebol não emana da praxe. Houve um grupo de estudantes que resolveu formar uma equipa de futebol à semelhança de outras que já havia por aí. O futebol não passou por isso a ser regulado pela praxe, pois não?

Em 1888 houve um grupo de estudantes que resolveu formar uma tuna à semelhança de outras tunas que já existiam por aí. Os tunos têm de passar agora a obedecer ao Dux Veteranorum? Porquê? Se isso não aconteceu com a equipa de futebol, que não foi nem é um costume exclusivamente universitário, por que razão é diferente com a tuna, que também não foi nem é um costume exclusivamente universitário?

E agora, um pequeno teste:

Complete a frase que se segue, assinalando com uma cruz (X) a opção correcta:

O futebol NÃO emanou da praxe NEM é uma prática exclusivamente universitária, portanto a praxe NÃO tem nada que regular o futebol. As tunas NÃO emanaram da praxe, NEM são uma prática exclusivamente universitária, portanto a praxe...

1. tem de regular as tunas;

1+1. não tem nada que regular as tunas.”

[Até só usei números ímpares (1+1), para não ir contra a praxe...]

Ou então divirta-se a completar o seguinte axioma:

“X não emana de Y; portanto, Y não regulamenta X”

Várias sugestões:

X=basquete; Y=Vaticano
 X=cinema; Y=Federação Portuguesa de Columbofilia;
 X=tunas; Y=praxe;
 X=arame farpado; Y=Associação Portuguesa da Panificação e Produtos Similares.

Aposto que pensa: "Mas aquelas coisas (ser namorado, condutor, etc.) ou já existiam antes da praxe ou não foram criadas pela praxe, e além disso são questões de consciência, por isso a praxe não tem nada que se meter." E pensa bem.

Mas se eu, usufruindo da minha liberdade de consciência, resolver fundar uma tuna, que tem a praxe que ver com isso? Ou só não há liberdade de consciência quando se trata de tunas?

Diga-me uma tuna que tenha sido criada por um conselho de veteranos: será caso raro, se não mesmo único, se é que há algum exemplo.

Explique-me em que medida é que as tunas são uma emanação da praxe. Eu já provei - com documentos - que não são. As provas estão à sua disposição num livro intitulado “Qvid Tvnae? - a Tuna Estudantil em Portugal.”

Ainda ninguém PROVOU que são, com factos, com documentos. O que ouço é muita gente a DIZER QUE SÃO, mas sem nunca alegarem provas documentais.

E eu digo-lhe porquê: porque pura e simplesmente não há tais provas. E não há porque não pode haver. E não pode haver porque as tunas não emanam nem nunca emanaram da praxe.

Se tudo aquilo que você faz quando está trajado cai imediatamente sob alçada da praxe, então quando conduz trajado está sob alçada da praxe, não do código da estrada (conte essa à GNR).

Se faz um exame trajado, então está sob alçada da praxe. Diga ao seu professor que não lhe pode dar negativa porque, segundo a (invenção que lhe venderam de) praxe, os números têm de ser ímpares. Exija cotação total.

Se vai ao parlamento trajado, então está sob alçada da praxe. Exija aos deputados licenciados que declarem as matrículas que tiveram e obedeça só às leis que tiverem sido aprovadas por deputados que tenham tido um número de inscrições superiores às suas e exija aos restantes que votem como você quer. Explique depois ao juiz, se ele tiver mais matrículas do que você. Se tiver menos do que as suas, ponha-o de quatro no tribunal.

Se estiver a namorar trajado, então está sob a alçada da praxe. Ponha a sua namorada à disposição de qualquer indivíduo que tenha mais matrículas do que as suas, ou deixe de namorar com ela, se assim lhe for exigido.

Ou então, pense um bocadinho melhor no que é primeiro e no que é depois.

Ou não pense, se não lhe apetecer.

Sabe que a praxe não é uma ditadura, ao contrário do que lhe devem ter ensinado. E eu prezo demasiado a liberdade. Eu não puxo brasa à minha sardinha: o que não tolero é que haja quem queira roubar as sardinhas todas - as que pescou, as que não pescou e as que vierem a ser pescadas. E há até quem queira decretar que todo o ser vivente que habite as águas do mar é sardinha - porque em praxe não se pensa, obedece-se, certo?

Se me fiz entender, óptimo. Mas confesso que não tenho grandes esperanças. Como se argumenta contra a falta de argumentos?"
 
Dr. Eduardo Coelho (antigo Dux Facultis e Magister da TUP, em finais dos anos 80 e inícios dos 90, co-autor do livro "QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal").