domingo, 24 de abril de 2011

Notas Praxísticas I

Não me posso impedir de transcrever um post colocado no fórum do Praxe Porto, por um utilizador que dá pelo nome de "Mocas".
Uma crítica tão acertada que é uma verdadeira "moca", uma autêntica "mocada" no actual estado desta Praxe burocratizada e mais papista que toda a galeria de pontífices que ocuparam a cátedra de S. Pedro.

Ao fim de algumas matrículas (parcas para uns, vagamente abundantes para outros) ainda me consigo surpreender com a necessidade que as pessoas têm de criar grupos específicos, com nomes, com funções, cargos e hierarquias próprias simplesmente para fazer coisas, refiro-me mesmo a coisas no geral. Não percebo muito bem porque é que um grupo de pessoas que, com muito valor, e para minha/nossa sorte, lutaram para restaurar a Praxe do Porto não são tão simplesmente um grupo-de-pessoas-que-lutaram-para-restaurar-a-Praxe-do-Porto.

Então eu agora pego em 3 ou 4 amigos e vou a um Festival de Tunas e somos o quê? Os Tunestus? E eu que os convidei e tive a ideia? Sou o Master-Tunestus? E quem paga? É o Tesoureiro-Tunestus? Obviamente estou a fazer uma redução ao ridículo e sei bem que ir a um Festival de Tunas é um bocadinho diferente de re-instaurar Praxe numa Academia. Isto nao é nada contra ninguém, apenas um desabafo de quem olha para as coisas no geral e vê que, hoje em dia, é preciso formar um grupo praxístico, ali bem apetrechado de nomes e tachos, nem que seja para ir ali jantar com uns amigalhaços.
A espontaneidade da Praxe está cada vez mais abafada e pegamos num Academismo que devia ser vivido em conjunto e compartimenta-mo-lo em grupinhos que se juntam só para uma dada funçãozinha e com a sua hierarquiazinha. Isto nao é Praxe, isto é uma repartição de Finanças! E daquelas bem burocratizadas. Está-se a pegar na Praxe como forma de se ser estudante no mundo real, e faz-se disto um teatrinho que todos representamos quando pomos a capa às costas. Quando estou na minha Faculdade sou quartanista ou quintanista, sou caloiro no Grupo de Fados, sou Cardeal no Transeptus, sou Bolinho-de-bacalhau quando almoço trajado com a minha avozinha.
Não percebo porque é que as pessoas não têm uma ideia, juntam-se e a põem em prática como Estudantes que são, tão simplesmente.
(In http://www.forum.praxeporto.com/viewtopic.php?f=3&p=1375&sid=593d99351f623592415dbb00f838f8ff#p1375)

Nada mais verdade.
Por diversas vez se encheu o mail deste blogue a pedir parecer ou conselho, a pedido de estudantes que pretendiam criar grupos de reflexão, tertúlias, e outros "ajuntamentos" com fins praxísticos, no nobre e louvável intuito de imprimirem nova dinâmica à Praxe da sua casa, de lutarem contra o que consideravam más práticas.
Muitos desses grupos desejavam promover o debate, a informação e formação, lutando contra os mitos e as ficções e certos dogmas que não tinham lógica ou fundamento.

É certo que são iniativas que devem ser apoiadas e incentivadas e, até aí, nada a apontar.
O problema é que, quase sempre, à mistura perguntavam como deveriam fazer para se distinguirem, se deveriam/poderiam usar algum sinal distintivo (mediante conssentimento do organismo de Praxe). Outras vezes, apresentavam, à cabeça, um organigrama a implementar no grupo e nomenclatura a atribuir aos membros. Uma outra vez, deparei-me com um pequeno elenco de estatutos e normas internas, para um mero grupo de meia dúzia de pessoas que apenas pretendiam discutir (mas depois sairem à rua de forma mais ou menos formal.


Como está bem de ver, apesar dos nobres ideias, há ainda esse sentimento de que para se fazer algo é preciso trazer um cartão ao peito, que só um sinal, um emblema, uma devisa ou insígnia qualquer é que conferem legitimidade para se ser ou fazer algo.
Já não basta ser-se estudante ou trajar, mas antes ter chancela de "organismo" revestido de autoridade ainda antes de ter feito algo para merecer tal (ou como se tal fosse preciso, de facto).

Muitas Comissões de Praxe (que não são mais do que comissões de praxes) são, neste entender, o exemplo mais evidente disso mesmo.

Note-se que se chega ao ridículo de tratar/conceber essas comissões como verdadeiras associações estudantis ou comissões de curso, com listas e tudo, como o exemplo AQUI.

É importante que as pessoas se associem, porque o direito á livre associação é algo consagrado na lei. É impiortante existirem, muitas vezes, grupos à margem dos organismos de Praxe, que possam contribuir com uma visão mais imparcial e equidistante, e apoiarem esses mesmos órgãos de Praxe (ou, quando não, serem uma alternativa credível, mas não um governo sombra num pseudo-exílio).
Mas mais importante do que posições, rótulos e burocracias, importa é tratarem do essencial, e não criar mais regiões autónomas.

Também a Praxe precisa de um programa "simplex", que devolva simplicidade e pragmatismo, e passe uma borracha sobre tudo quanto é acessório (mesmo que por vezes tenham de "rolar cabeças" nos próprios lugares de chefia, de modo a que se faça o que é preciso, e todos o possma fazer sem precisarem de ter cartão de "partido", mas apenas como cidadãos académicos, como praxistas.
Como dizia uma colega minha: "quem não tem competência não se estabelece".

Nenhum comentário:

Postar um comentário