quarta-feira, 25 de junho de 2014

Notas ao Código de Praxe da Universidade de Évora (CEGARREGA)


Vamos, desta feita, analisar alguns aspectos do Código de Praxe da Universidade de Évora, denominado de CEGARREGA ou C.E.G.A.R.R.E.G.A, (Código Estudantil de Graus Académicos Regulamentos e Regras de Exegese e Gírias Académicas, da Universidade de Évora).
 
Código disponível AQUI
 
Começamos, desde logo, pela denominação escolhida.
Cegarregaé, segundo os dicionários mais conceituados,

“o mesmo que cigarra; 2 som semelhante ao produzido pela cigarra; barulho monocórdico; 3 instrumento popular que produz som semelhante ao canto da cigarra pela fricção de sarrafo sobre um tubo canelado; 4 pessoa que fala demais e possui voz desagradável; 5 conversa continuada, monótona, lenga-lenga, ladainha.”[1]

 ou ainda

 [Insecto que, durante o verão, faz um barulho característico e muito forte com as asas, também conhecido pro cigarra; 2 Instrumento de pequenas dimensões que se faz girar, segurando-o por um cabo e cujo som imita o que é produzido pelas cigarras; 3 Pessoa que fala muito, repetindo sempre a mesma coisa, e tem uma voz desagradável e impertinente. “Ela é uma cegarrega, está sempre a repisar no mesmo assunto”; 4 Repetição constante; falta de variedade; 5 Ruído ou barulho repetitivo, desagradável. “Desliga o rádio e para-me a cegarrega dessa música”.][2]

Como nos parece claro, não se consegue estabelecer uma relação qualquer entre o termo usado e o estrito universo estudantil. Escapa-nos, de momento, a significância do termo, quando aplicado ao âmbito académico.

 O que nos parece bem mais óbvia é a forçada transformação de um substantivo num acróstico que, por sua vez, foi artificialmente tornado em acrónimo (sigla), tentando fazer corresponder a cada letra um termo e, assim, obter um determinado efeito linguístico-significativo[3].

Mas adiante.

Vamos ao conteúdo do código em causa (que é disso que se trata: de um código de "praxe", salvo seja).

Logo no seu preâmbulo, afirma que, sobre a U. de Évora, “Ao reaparecer, a Universidade retoma das mãos do Liceu de Évora, a tradição académica que tenta desenvolver, aproveitando os ensinamentos que a sua irmã mais velha de Coimbra foi angariando ao longo dos séculos.”[4]

Quer parecer-nos que algo nesse processo se terá perdido, pois não conseguimos vislumbrar esse tal “retomar” da tradição académica tendo por fonte o Liceu e a UC.

 Muito menos entendemos uma certa presunção naquilo vem descrito no resto do preâmbulo, nem na altivez com que ajuízam a falta de bons costumes, a corrupção de valores, ou de, como referem “repugnantes modelos de virtude para com os superiores desígnios que são o convívio e a sabedoria universitárias”[5], sobrepondo-se às competências da própria reitoria ou prefigurando-se como uma brigada de costumes e zelosos guardiões de “virtudes”.

Mas mais: termina o preâmbulo dizendo que o CEGARREGA é uma resposta ao facto de, e passamos a citar: “….ninguém se lembrar das normas de conduta instituídas na data da fundação da Universidade”.

E com razão. Como poderia tal ser possível se essas normas de conduta nem existiam sequer, além de não haver registo de quaisquer ritos estudantis alguma vez assemelhados com Praxe na UE até aos anos 1980-90?

Contudo, existia uma tradição, precisamente aquela que era vivenciada no Liceu de Évora, especialmente no que concerne à etiqueta do uso da capa e batina (por concessão da Rainha D. Maria II ou de D. Pedro V – não está claro[6], na segunda metade do séc. XIX), ela própria definida pela tradição cujo alfobre é Coimbra.
E para quem tenha dúvida da existência de tradições académicas nos liceus, convidamos a ler o seguinte artigo AQUI.

 
Grupos de índole Académica (secção 2, do Capítulo I)

Sobre isso versam os artigos 3 a 5, sendo que não compreendemos essa concepção de que eles estejam sob alçada de um organismo de Praxe ou, como refere o documento, no seu artigo 5, que qualquer grupo que queira ser considerado como “Grupo de índole Académica” tenha de requerer tal reconhecimento ao Conselho de Notáveis. Muito menos entendemos que sejam referidos o Coro Académico ou a Tuna Feminina como exemplos de tais grupos, como se estes precisassem de tal reconhecimento para o serem efectivamente.
Deixamos o seguinte artigo sobre Tunas e Praxe (e a quem obedece a Tuna, afinal) AQUI.

No que concerne a Tunas, ou não entendem o suficiente de Praxe para saberem distinguir as coisas, ou o suficiente de Tuna para não as misturar (e aplica-se a outras áreas, sejam coros, grupos de fado ou de xadrez).
 
 
Sugerimos também uma leitura atenta do Manifestvm Tvnae ou do QVID TVNAE?, especialmente a quem pertence a uma Tuna.

 
Graus Académicos (Secção 1 do Capítulo II)

Os artigos 13º e seguintes enfermam alguns equívocos no que respeita à nomenclatura.

Com efeito, diz este código que os alunos que se matriculam pela 1ª vez na UE são denominados “Bichos” e que só passam a “Caloiros" a partir do dia 1 de Novembro desse ano.

 

Tal não corresponde, efectivamente, à Tradição, pois o termo caloiro é o correcto para se designar o aluno que ingressa pela primeira vez na Universidade. Bicho é antes a designação que, em Coimbra, era dada aos alunos do liceu, mas que acabou por ser substituída pela designação de “cabaço” (usada um pouco por todo o país), passando o termo “bicho” a ser equivalente e sinónimo de “caloiro” (desaparecendo da hierarquia o termo "novato").
 
 
Depois, este CEGARREGA criou, inoportunamente em nosso entender, a hierarquia de estudante, esquecendo-se que “estudante” não é uma hierarquia e sim a designação do mester (equivalente a aluno), sendo que estudantes já os caloiros são há muitos anos e que foi nessa condição que chegaram à Universidade e nela o continuam sendo.

 
Do Traje Académico (Secção 1 do Capítulo III)

Contempla este capítulo um conjunto de normativos que contradizem desde logo o preâmbulo e justificativo da própria existência da Praxe e Tradição Académica na UE.

Com efeito, o artº 34º e seguintes determinam que os caloiros não podem trajar senão no 2º ano – e isto apenas a partir do dia 1 de Novembro (nem sequer no final do ano de caloiro ou início do ano lectivo seguinte).

Não podemos senão questionar tal directriz, tendo em conta que o CEGARREGA afirma que a sua legitimidade lhe advém da, e passamos a citar:

“…retoma das mãos do Liceu de Évora, a tradição académica que tenta desenvolver, aproveitando os ensinamentos que a sua irmã mais velha de Coimbra foi angariando ao longo dos séculos.”[7]

Das duas, uma: ou não conhecem essa tradição e esse “parlapier” apenas serviu de pretexto para adornar/enfeitar o código ou então em algum momento alguém decidiu inventar e borrifar-se para a Tradição.

Em momento algum se pode proibir um caloiro de trajar, tendo em conta que o traje é uniforme estudantil e não praxístico. Pior ainda quando se afirma que a base que legitima o próprio CEGARREGA é a anterior tradição existente em Évora. Ora, em Évora, os liceais já usam traje há mais de 100 anos, tal como sucedia em todos os demais liceus (ver AQUI). Os estudantes de liceu transitavam, pois, com a sua capa e batina, para a faculdade, sem alteração do figurino. Todos os demais que, por alguma razão, não usavam traje, tinham como primeira tarefa, após alugar casa (ou alojar-se em repúblicas) e organizar as demais comodidades, comprar o traje.

Assim, pelo lado da tradição do Liceu de Évora, estamos conversados: os alunos usavam traje (e ainda usam - os da Tuna). Se for pelo lado da tradição da “irmã mais velha” (Coimbra) também não tem ponta por onde se lhe pegue, porque nunca foi proibido o traje a caloiros, muito pelo contrário.

Um traje que esteja vedado a caloiros ou a determinado grupo de alunos, não pode ser, de facto, considerado como traje académico (ver AQUI).

 
Constituição do Traje Académico (Secção 2)

O artº 36º parece-nos assaz curioso, porque considera que um código de praxe é parte do próprio traje (obriga a que quem traja ande sempre com o CEGARREGA), embora não refira em que parte do traje ele deve ser colocado (omitiram a questão da pasta da praxe, pelos vistos). Claro está que nos parece um pouco exagerado e excesso de zelo, nomeadamente quando o estudante vai com a tuna, vai para uma festa ou para qualquer actividade em que, convenhamos, transportar tal anexo não faz qualquer sentido.
Aluno do Liceu de Évora,
António Augusto de Carvalho, em 1922
Seguem-se os determinativos quanto à constituição do traje, entrando a inexplicável obsessão por números ímpares, especialmente quanto a nº de botões da batina ou orifícios para atacadores (chegando ao ridículo de mandar inutilizar um deles de modo às casas correspondentes serem sempre ímpares). Claro está que se esquecem que quem determina o nº  de botões são as fábricas e que os Nº ímpares não são senão papismos sem sentido e sem razão de ser (ver AQUI).

Pelo menos elogiamos o facto de, quanto ao uso de relógios, permitirem os de pulso, não caindo no erro de os proibir em favor dos de bolso.

Seja como for, nestas questões de traje, conviria conhecer um pouco mais da sua história e etiqueta associada, de modo a não complicar e encher de preciosismos inúteis a praxis associada ao uniforme académico, corrompendo a Tradição.
 
Sugerimos os seguintes artigos, a propósito do traje:
 

 
 
 Capa do Estudante (Secção 3)

Não vemos qualquer necessidade de esmiuçar à exaustão as formas de usar a capa, até porque a Tradição sempre foi, neste capítulo, pragmática e simples.
Deixamos aqui algumas informações sobre como, de facto, a capa se deve usar.
  • Usa-se no ombro (que bem quisermos), quando dá jeito;
  • Usa-se traçada quando nos apetece e sem obrigação de esconder os colarinhos;
  • Usa-se traçada, secundum praxis, na Serenata Monumental e em trupe (aí sim, há o cuidado de procurar esconder as golas da camisa), apenas e só (nem mesmo para “praxar” isso é norma ou tradição);
  • Usa-se descaída pelos ombros quando nos apete;
  • As dobras que se fazem na capa são as que cada um achar mais convenientes. Não existe qualquer tradição em que sejam 2, 3, 4 ou por alma seja de quem for;
  • Usa-se totalmente descaída, secundum praxis, e sem dobras, em cerimónias solenes e em locais específicos (como locais de culto, por exemplo), e os colchetes apertam-se em cerimónias fúnebres (altura em que as carcelas da batina também se fecham) ou em estado de luto.
Tudo o mais que os artigos em causa contemplam, tipificam e escrutinam ao milímetro são papismos sem fundamentação na tradição.

Termina a secção com alguns lapsos, desde logo não explicitando que tipos de emblemas se cosem na capa (falta de regulamentação dos mesmos) e porquê; os mesmo sucedendo com os pins.
Sobre emblemas na capa, sugerimos que clique AQUI e, sobre o uso de pins, AQUI.
 
Os rasgões na capa também carecem de regulamentação quanto às suas dimensões (ver AQUI) e, já agora, quanto à sua razão de ser.

No final (artº 43º) ocorre mais um mito, sobre o facto da capa não se poder lavar, coisa que, como sabemos, não tem qualquer fundamentação (ver AQUI). São mitos a mais que estranhamos serem tão incautamente promovidos por um denominado conselho de "notáveis".

Para trajar secundum praxis, não seria má ideia tomarem como exemplo a longa tradição do Liceu de Évora (aquela que o CEGARREGA diz tomar como fonte) e verem como tal se processava (e processa) com rigor e simplicidade na sua Tuna (e estamos a falar de miúdos, note-se bem).

 
Finalidade e Realização da Praxe (secção 1 do Capítulo IV)

 
O artigo 44º define a praxe como sendo

 “…um acto solene que tem como finalidade a integração do Bicho no meio académico e representa o primeiro passo da vida académica que, passando por todas as manifestações, cerimónias e solenidades académicas, chega apoteoticamente à Queima das Fitas”[8]

Parece-nos existir aqui alguma confusão entre Praxe e gozo ao caloiro (ritos de iniciação), ou pelo menos tal distinção não é devidamente esclarecida e definida – antes pelo contrário, quando deitamos um olhar à página web do Conselho de Notáveis da UE e lemos o que lá se diz sobre Tradição Académica e Praxe, naquilo que é claramente uma interpretação errónea e que induz em confusões.


Nada mais errado do que afirmar que "A tradição Académica não é mais do que a condensação de todas as praxes e rituais" (in  http://www.cn.uevora.pt/pt/node/5)
Com efeito, a Tradição Académica não é um conjunto de praxes ou ritos, nem mesmo a Praxe, como explicamos AQUI.

Grave, quanto a nós, é o facto de o CEGARREGA ser electivo e descriminador, tendo em conta que considera que quem não tiver sido praxado fica, e passamos a citar “…automaticamente excluído de toda e qualquer tradição académica”[9], algo que não tem qualquer cabimento e, uma vez mais, denota a falta de conhecimento suficiente para distinguir o que é Tradição Académica e o que é a Praxe (e as praxes).

Com efeito, nenhum aluno pode ser excluído da Tradição Académica, até porque nem tudo o que é Tradição Académica está sob alçada da Praxe – e mesmo aquela que a Praxe regulamenta, em tempo algum pode excluir alunos em função da sua participação em praxes (ver AQUI)

Não é Tradição nem no Liceu de Évora nem na “irmã mais velha”, como a Coimbra se refere o CEGARREGA.
Aconselhamos bom-senso e alguma verticalidade intelectual para a devida reflexão sobre o chavão dos "anti-praxe" (ver AQUI).


 
Cerimónia Final (Secção 3 do Capítulo V)

Saltámos outros cerimoniais mais ligados a assinalar ritos com caloiros, para os dois artigos que compõem esta secção e que incluem um conjunto lato de cerimónias solenes, contudo tratadas pela rama (as que o são, porque outras são curiosamente omitidas).

Do conceito de Queima das Fitas (art.º 62º), são contempladas a Missa de Bênção das Pastas, a Queima das fitas propriamente dita e o Banho.

- Da Missa pouco ou nada se diz senão que com ela se iniciam os festejos da Queima e que ocorre “num dos templos religiosos da urbe eborense”. Lamentavelmente nenhuma alusão à pasta da praxe e fitas (regulamentação da mesma, segundo a Tradição). Também omite que a cerimónia é uma cerimónia cristã, pelo que não será qualquer templo religioso (como o poderia ser uma sinagoga ou mesquita). Nenhuma indicação ao facto de ser uma cerimónia solene dirigida aos finalistas.

- Da cerimónia da Queima das Fitas, pouco esclarece, antes confunde, pois apenas refere que decorre nos claustros da Universidade e que é o momento em que “o finalista atinge o cume do seu percurso na tradição académica”.

Infelizmente, este tipo de tratamento por omissão ou carência de informação leva a muitos e dolosos erros. A cerimónia em causa não é dirigida apenas a finalistas, pois quem de facto queima alguma coisa são os alunos grelados que queimam o grelo que foi retirado da pasta da praxe (após o qual soltam as fitas, tornando-se “novos fitados”), sendo que os finalistas não têm qualquer papel de relevo nessa cerimónia que não passe, como em alguns lados ocorre, pela queima de cábulas (num gesto de provante e irreverente humor, mesmo que nunca tenham cabulado).
O que sucede é que nessa altura (usualmente na manhã do cortejo) impõem a cartola e apresentam-se com os adereços fantasiosos próprios para ir ao cortejo (bengala, laço, roseta, cartola, bandas de cetim da cor do curso. Ver AQUI).
É muitas vezes nessa altura que se tiram os retratos de curso (de finalistas).

A Queima das Fitas, propriamente dita, consiste,
afinal, na queima do grelo.

Outro grave erro deste CEGARREGA, neste aspecto, é promover a ideia sem nexo de que os finalistas queimam fitas (mais uma vez, alguém não procurou saber em que consistia a Queima das Fitas e por que razão assim se chamava).
Sobre a Queima das Fitas, sugerimos um clique AQUI.

Na página 33 do código da praxe de Évora, consta uma adenda (Adenda 1) que estabelece as fitas a serem usadas pelo finalista, numa amálgama confusa de atropelos de cores e de pessoas que oferecem as mesmas.
Não podemos deixar de ser críticos a este respeito, sobre um código que diz ter por modelo a tradição do Liceu centenário liceu da sua cidade e, nomeadamente nestes aspectos de fitas e pastas, o modelo da Tradição Académica que é Coimbra.
O nº de fitas, seu tipo, cor, tamanho……estão bem definidos pela Tradição, e não percebemos, pois, como se pode alegar que ela é seguida, tida como referência (porque o CEGARREGA se assume com fiel depositário e herdeiro das mesmas), para depois praticar contra a mesma, desvirtuando-a e delapidando-a.
Sobre Pasta da Pasta e Fitas, sugerimos que aponte AQUI e/ou  AQUI.

 - Da cerimónia do “banho”, não adiantamos considerandos, por ser algo inventado de que desconhecemos o sentido ou até questionamos a fundamentação.

Lamentavelmente, nenhuma referência, por exemplo, à imposição de insígnias, nenhuma referência a insígnias de praxe ou pessoais (grelo, por exemplo) nem nenhuma referência à Serenata Monumental.


 Grito Académico (Secção 4 do Capítulo V)

 Neste particular, a nossa surpresa foi deveras considerável, ao verificarmos as condições que foram inventadas para o mesmo poder ter lugar.
Com efeito, o CEGARREGA diz o seguinte:

 “(…)2. Não pode ser lançado ao microfone, megafone e/ou outros meios que não sejam as melodiosas vozes estudantis, nem ser acompanhado por qualquer tipo de sons vocais ou instrumentais, que não o do próprio grito;
3. Não pode ser lançado em recintos fechados ou debaixo de tecto;
4. O estudante que lançar o Grito Académico terá de estar obrigatoriamente trajado e de capa traçada.”

Não percebemos, de todo, tais disposições, que não têm qualquer nexo (chegam ser algo ridículas) nem fundamento na Tradição. Um "notável "exercício de non-sense.

Mais: a adenda que consta do código (adenda II, p. 34), que reproduz textualmente o grito está não apenas pejada de termos impróprios (um código contemplar, como tradição e solenidade alguns palavrões, é altamente questionável – para não dizer reprovável), além de erros de fórmula. Notável seria o organismo de praxe da UE tratar de rever tais aspectos.

A nosso ver, quando se pretende colocar num código algo importado (mesmo que depois adaptado), seria de esperar um maior cuidado em conhecer, de facto, como se faz, e deve fazer, o Grito Académico. Saber da sua origem e da sua fórmula ajudaria a evitar estes logros pouco consentâneos para constarem de um documento destes.
E tendo este código sofrido actualizações (a última data do ano passado, 2013), não é manifestamente por falta de informação adequada e correcta que tal não sucedeu.
 
Sobre a origem e forma correcta do FRA, leia AQUI, esperando que tal permita a devida correcção.

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E termina o documento com o capítulo VI, das disposições transitórias.

Não podemos deixar de elogiar o facto de ser um documento bastante condensado e leve, que não se estica em tamanho, embora consideremos que carece dolosamente de algumas informações, a que ainda há pouco aludimos, para além da omissão sobre pasta da praxe (algo inexplicável), decretos, fórmulas em latim macarrónico (caso existam), entre outros.

Ainda acrescentaríamos o enorme e gravoso erro deste código não contemplar qualquer regulamentação para os limites daquilo que é permitido no acto do gozo ao caloiro. Nada sobre definição de limites e daquilo que é permitido e aceitável, nada sobre protecções, nada sobre consequências a eventuais abusos por parte de alunos mais velhos sobre caloiros….nada senão o dúbio e genérico apelo ao bom-senso, coisa que equivale rigorosamente a coisa nenhuma!

Recordemos que casos de abuso e o crescente número de relatos de incidentes ligados às praxes, merece a devida reflexão e uma resposta que se faça, de facto, na defesa da imagem do estudante universitário (ver AQUI e AQUI)

Um código que só teria a ganhar se os responsáveis/membros do Conselho de Notáveis procurassem informar-se melhor sobre os assuntos legislados, e as Tradições de que se afirmam herdeiros, fossem mais pragmáticos e simples, e usassem do devido bom-senso em alguns aspectos acima mencionados (o tal bom-senso que apregoam como recomendação, no final do código, à forma como a Praxe –desta vez escrita com maiúscula – deve ser “executada”), evitando papismos, precavendo abusos e promovendo uma maior aproximação do genuíno. Nessa altura mereceriam, sem dúvida, a notabilidade da sua auto-denominação e ganhariam notoriedade em razão da sua competência praxística.
 
O que não se pode é alegar a Tradição para umas coisas e "evolução" para justificar "tra(d)ições" (ver AQUI).

 

[1] Instituto António Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa, Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Temas e Debates, Lisboa, T. I, A-Cza, p. 863: 2003.
[2] Academia das Ciências de Lisboa e Fundação Calouste Gulbenkian, Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, Editorial Verbo, II Vol., A-F, p. 751: 2001.
[3] Outro exemplo disso é o que sucedeu com o termo “tasca” que daria origem ao pouco conseguido acróstico “T.A.S.C.A” – Tuna Académica de Setúbal, Cidade Amada.
[4] In CEGARREGA da EU, p.5, edição de 2013
[5] Idem, p.6-7
[6] Como disso dão nota Adília Zacarias e Isilda Mourato Mendes in “Tuna do Liceu de Évora, 100 Anos de história e tradições”, p.32-35: 2012.
[7] In CEGARREGA da UE, p.5, edição de 2013.
 8] In CEGARREGA da EUE p.21, edição de 2013.
[9] Idem, artigo 50º, p.23.

domingo, 25 de maio de 2014

Notas a Trajes Não Académicos


Em idos da década de 1990, inicia-se um fenómeno, tão inusitado  quanto pandémico, de criação de trajes estudantis que visavam, na óptica dos seus promotores/inventores, conferir identidade e diferenciação face ao paradigma do Traje Nacional, conhecido na gíria por “capa e batina”.

O objectivo era emancipação face a Coimbra, e afirmação do novel burgo universitário/politécnico (quase sempre sem olhar a meios) ou sem ponderação, recorrendo-se a uma panóplia de invencionismos diversos (quase sempre pegando na Tradição e desmembrando-a para, sobre ela, enxertar novas práticas: como por um limoeiro a dar bananas - justificando que a cor do fruto é a mesma -  e pretender que são toranjas), traduzidos no cúmulo de pretender apelidar de Tradição a algo recente (um paradoxo de todo o tamanho).
A criação de novos trajes foi uma dessas expressões.
Sabemos das diversas falácias que esses panos, contudo, encerram:
 - Criados porque se dizia que a “capa e batina era de Coimbra, quando tal é falso (traje de Coimbra só no folclore).
- Criados para, supostamente, identificar a instituição e localidade (cidade/vila), quando, histórica e tradicionalmente, nunca os traje estudantis visaram tal, mas apenas identificar a condição estudantil (pois são uniformes identificativos do estatuto de estudante, apenas e só);
- Criados recorrendo à colagem/inspiração/fusão de peças do folclore ou etnografia local/regional, quando o traje estudantil existia precisamente para distinguir o estudante dos demais mesteres e classes (a figura do estudante nem sequer figura em qualquer tradição etnográfica ou folclórica), sendo por isso um contra-senso e fazer do traje precisamente o contrário daquilo para que sempre existiu.
Pior, ainda, quando alguns delinquentes intelectuais decidiram, há uns anos, mesclar o traje nacional com peças do vestuário escocês (na escócia não existe uniforme estudantil sequer), desrespeitando quer a etnografia anglo-saxónica quer, principalmente, a nossa cultura e tradição.
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Bem, mas o que hoje aqui motiva este artigo é questionar muitos desses supostos trajes quanto à legitimidade de se considerarem como “trajes académicos”.
Vamos lá então:
 Um traje académico/estudantil é, convém não esquecer, um uniforme.
Como uniforme, ele tem a exclusiva função de identificar a condição daquele que o enverga.
Assim, qualquer traje académico, neste contexto estudantil, existe para dizer que aquele e/ou aquela são estudantes.
 É essa a sua função primária e exclusiva.
 Depois, se o traje, pela sua configuração, ou por algum símbolo adicional, identifica igualmente a instituição e cidade da frequência dos estudos, isso é já outro patamar que aqui não é relevante sequer. Mas bastaria a analogia aos uniformes militares em que os soldados vestem por igual,s ó se distinguindo a sua especialidade pela insígnia na boina e no peito/braço.
 Assim sendo, como podem alguns auto-proclamados “trajes académicos” terem a distinta lata de pretenderem reconhecimento, quando o seu uso é vedado, por exemplo, a caloiros?
 Não são os caloiros estudantes da instituição em causa? Temos Apartheid praxístico?
 Como podem pretender que determinado fato seja “traje académico”, quando o código da praxe o enquadra como indumentária não permitida a quem não foi praxado (vulgo “anti-praxe”)?
 Quem se recusa a ser praxado deixa de ser estudante da instituição? Desde quando?
Como pode um traje ser apresentado como o traje dos estudante da instituição X, se existe um regime de apartheid praxístico que diz que nem todos os estudantes podem trajar; não por não serem estudantes, mas porque não partilham da mesma opção praxística de uma suposta doutrina obrigatória (ridículo, até, quando muitos dos respectivos códigos até dizem que só adere à praxe quem quer)?
Até onde nos foi possível apurar, sabemos que nenhum traje é proibido em função das convicções políticas, religiosas, cor da pele, estrato social, etc.
Então por que diabo temos uns anormais, auto-intitulados de "praxistas", que criam um regime de segregação em função de algo que nada tem a ver com ser estudante da instituição?
 Quem elaborou, em 1º lugar, e quem continua a defender esses códigoszecos tem real noção das enormes e ridículas contradições de tudo isto?
 
 Não, caros leitores, muitos dos supostos trajes que por aí andam a fazer de conta que são trajes académicos são, na verdade, equipamento praxístico, a par de outros equipamentos para a prática de actividades diversas.
Burra Praxis Sed Praxis, diríamos nós, uma vez mais, nestes casos, onde ser curto de vistasparece atributo sine qua non para se ser praxista.



Nota: Também existem casos de instituições onde se diz que a"capa e batina" não pode ser usada por caloiros ou por quem não foi praxado (por quem é anti-praxe), coisa que, obviamente, releva de uma total ignorância e perverte a tradição, pelo que ilegal tal disposição.

Sobre o Traje Académico Português, leia AQUI.

Notas à terminologia praxística

Vamos lá agitar as águas e falar das coisas frontalmente.


Sabemos que por Praxe se deve entender o conjunto de normas que regulamentam usos e costumes da Tradição Académica. Assim, quando nos referimos a Praxe não nos referimos a tradições (e muito menos a praxes), mas ao protocolo, etiqueta e normas que as regulamentam (ver AQUI).

Sabemos que a Tradição Académica abarca um conjunto de costumes que se manifestam através várias expressões - o que não significa que toda a Tradição Académica esteja sob alçada da Praxe, pois não estão, sendo que algumas só na etiqueta ou protocolo a observar, nomeadamente no porte adequado do traje (ou seja é o indivíduo e não o evento que está), estabelecemessa ténue ligação.


Respeitante a ambos os casos, existe, por isso, uma terminologia própria que, linguística e simbolicamente, distingue o foro académico (aquilo que expressa e é próprio da natureza e praxis estudantil), seja na gíria ou no uso de denominações que reportam ao contexto e significância académicas.

 
Qual será, pois, a lógica de introduzir artificialmente termos (hierárquicos ou não) que nada têm a ver com estudantes, estudos ou qualquer ligação ao mundo estudantil?

 Qual a pertinência de introduzir na Praxe e Tradição Académicas termos e designações de outros mesteres, classes sociais, civilizações e contextos, quando o objectivo do foro académico (entendamos, neste caso, aquilo que distingue o mundo estudantil, como sucede com o traje académico - capa e batina) é precisamente não ser confundido e manter a sua identidade própria?



Qual a razão de termos centuriões, imperadores, gladiadores, condes e marqueses, etruscos ou pastores, infantes ou sertórios, grão-mestres, cardeais ou papas, carascos, aluviões ou inquisidores, eremitas, moliços ou patrões?

Se as designações da gíria estudantil são tradicionalmente ligadas ao contexto estudantil, precisamente porque ajudam a definir e circunscrever a sua identidade, o que têm a ver certas designações com o mundo estudantil?

 Do mesmo modo que introduzir traços da etnografia e folclore locais para fazer um traje académico é um contra-senso total (o traje existe, precisamente, para distinguir a condição de estudante de outros mesteres, profissões e classes - além de que a figura do estudante, por alguma razão, não existe no folclore e etnografia - ver AQUI), o mesmo não podermos dizer de certos vocábulos usados para designar eventos ou hierarquias?


Se o foro estudantil tem precisamente por objectivo distinguir-se de todas essas situações, qual a ideia de as trazer para dentro do contexto académico, pervertendo o que tradicional e logicamente se quer distinto, para garantir uma identidade única e inequívoca?

Qual o ganho e pertinência de querer rebaptizar tudo, importando, sem critério e fundamentação, aspectos que nunca tiveram nada a ver com estudantes e com a universidade?


 O que tem a hierarquia da Igreja católica a ver com a Universidade? Havia cardais e bispos como designações hierárquicas no ensino e estratificação dos estudos gerais ou não havia apenas alunos e professores?

O que tem a hierarquia militar romana ou os títulos nobiliárquicos a ver com a Universidade, com estudos ou estudantes?

 Se uma determinada academia se lembrasse de introduzir a hierarquia militar (sargentos, tenentes, majores, generais...) isso faria sentido? Dirão alguns (e bem) que não.
Pois também o não fazem outras que não pertencem ao contexto estudantil, sublinhamos nós.

E, em coerência, perguntamos, então, porque não se vestem precisamente de acordo com a cultura a que foram pescar os termos? É que, no que respeita a termos hierárquicos em Praxe, não conheço nenhum barão, senador, highlander ou quejandos que usassem traje estudantil.
Designa-se, a título de exemplo, um estudante de gladiador e usa  traje académico? Designa-se um estudante de senador e o traje não é uma toga? Designa-se um estudante de Grão-Mestre e não o vemos vestido de túnica templária ou hospitalária, ou ainda de avental maçónico?

E obviamente que já nem nos reportamos ao facto de muitas designações nem sequer terem a ver com a história da localidade a que pertence a instituição de ensino, ou daquelas que misturam, numa mesma hierarquia, um pouco de tudo (figuras romanas de classes e profissões distintas, junto com figuras do povo, figuras de títulos de ordens militares monásticas ou maçónicas, hierarquia universitária e povos bárbaros), sem qualquer organização e circunscrição geográfica e/ou social lógicas.
 

Claro está que alguns, e bem, alegarão que alguns termos tradicionais, como pastrano, são designações que originalmente não eram do meio estudantil, mas não podemos esquecer que surgem inicialmente como alcunhas atribuídas de forma espontânea e não definidas à partida como uma hierarquia ou designação formal. Foi o seu uso reiterado que os cristalizou – algo bem diferente de inventar um termo com o propósito de seriar ou promover o paradoxo de instituir uma tradição autóctonamente, passe o neologismo, artificial.


No desejo de ser diferente a todo o custo, de inventar identidades próprias, assistimos nos anos 1990, e seguintes, a uma desenfreada corrida ao exotismo, muitas vezes subsidiado pelo romantismo das grandes produções hollywoodescas ou num saudosismo históricos artificial, como pretexto para incorporar tudo o que desse uma ideia de antiguidade e grandeza, fosse buscando por figuras históricas locais, fosse pegando em nomes de civilizações perdidas ou que merecem vastas páginas nos compêndios de história.
Sei do que falo, também tenho de assumir que contribuí para a asneirada, pese embora ter ficado circunscrita à Tuna.

 Se isso tinha algo a ver com o contexto, foi algo que se ignorou olimpicamente, sobressaindo a vontade de ser mais papista que o Papa e querer dar nome a tudo, até ao mais ínfimo pormenor, multiplicando as designações hierárquicas ou dando novos nomes para dar um toque de "identidade" e de criatividade que justificassem a noção de "a nossa Tradição".

Parecendo antigo ou revestindo-se de títulos pomposos, pregava-se a imagem de algo respeitável, muito tradicional e remoto, encarregando-se o tempo de dar largas ao adágio de que "um mentira muitas vezes repetida, toma-se por verdade", resultando, hoje, que os estudantes julgam ser tal algo sério e fundamentado, mesmo se o não é.

Complicou-se o que sempre se quis simples, o que sempre deveria ser simples e assim deveria ter permanecido.
Com isso também se conseguiu ir delapidando uma noção de identidade do estudante nacional (a par com a invenção de trajes sem nexo algum) que, fosse em que lugar fosse, falava "a mesma linguagem" e era assim reconhecido por todos.

À força de querer etiquetar tudo e todos, criar gavetas e prateleiras para tudo, criou-se uma verdadeira panóplia terminológica de confusões e equívocos, onde importa mais ter uma placa ou rótulo para exibir, do que viver, de facto, a cidadania académica.

À força de querer catalogar tudo e todos no universo da praxis estudantil, cada qual usando o seu sistema de medição (e por vezes inventando "alfabetos" próprios), cada qual procurando ser o mais exótico possível...... perdeu-se a graça e espontaneidade e, acima de tudo o lado pragmático (prático) e a eficácia daquilo que a Tradição sempre promoveu: simplificar e ser inequivocamente entendido por quem está dentro (para facilitar a integração e vivência) e fora (para facilmente distinguir e identificar) do foro/contexto académico.

Terminamos este artigo reconhecendo que muitos dos termos usados têm a sua graça e, alguns, alinhados com qualidade e criatividade, embora isso não invalide, de todo, o que acima reflectimos.

Notas à Pasta e Fitas de Finalista: o circo da Praxe


Lamentavelmente, para quem esteve na Bênção das Pastas em Lisboa, continuar a verificar que foi mais um ajuntamento de atropelos à tradição, com total desrespeito quer pela cerimónia quer pela praxis.







 Fotos retiradas da versão online do jornal "O Público".
(Artigo de José Sarmento Matos 18/05/2013)

Lamentavelmente, já não é a 1ª vez que aqui nos referimos a tal, pois já desde 2008 que temos vindo a fazer reparo (ver AQUI).
Já nem falo das dezenas de finalistas sem qualquer traje, usando pastinha e fitas, desrespeitando a Tradição e fazendo figura ridícula.
Sendo a Missa da Bênção das Pastas parte da Tradição, manda a Praxe que, nessa ocasião, os finalistas estejam trajados a rigor. A mesma Tradição define que só se usa pasta e fitas quando devidamente trajado.
Não é uma questão de ser praxista ou não, mas de respeitar e ser inteligente, porque saber ser e estar numa cerimónia como esta é algo que deveríamos supostamente esperar de gente que finda estudos superiores. Pelos vistos, "superiores" só mesmo os desaforros e afrontas com que delapidam a Tradição ao não serem dignos da mesma.
 
Reitero o veemente reparo ao uso de dezenas de fitas pregadas naquelas “pastas” (da treta) cartonadas e brasonadas. Fitas que, também elas, quando não tinham "brasone" eram pinturas e desenhos impressos. O circo e o folclore instalados, claro está, porque a “- Praxe e Tradição que se lixem, na hora de fazer o que quero”.
Mas desengane-se quem pensa que só em Lisboa sucede.
Temos disto no Algarve, Évora, Setúbal, Santarém......em praticamente todas as academias a sul do Mondego.
 
É lamentável perceber que mais do que a ignorância das pessoas (o que é ridículo em gente formada, muita dela autodenominada de "praxista"), grassa a incompetência dos organismos de Praxe dessas casas representadas.
E não é por falta de informação. Dedicámos um artigo inteiro sobre o correcto uso de Pasta e Fitas por parte dos finalistas (ver AQUI).
Tanto mais é lamentável que parece que, afinal, quem manda são as lojas de artigos académicos, elas sim são quem impõem as modas, definem o nº de fitas (ou seja, não há limite: importa é vender) e todo o material e acessórios. Qual código, qual quê?! O único código é o do lucro à custa da estúpida ignorância dos finalistas.
E não foi por falta de aviso, quanto ao papel nefasto das lojas e comerciantes que vivem à custa da Tradição e da asinus ignorantiae dos finalistas. (ver AQUI)!!!
São 8 as fitas a ostentar, já o deixámos bem claro. A haver mais, devem ficar guardadas.
E a sua distribuição obedece a uma tradição, não à parvoíce do umbigo de cada um.





Correcta distribuiçção e colocação das fitas, segundo a Tradição.
 
Recordar que a dita “Pasta da Praxe”não é “da Praxe” no sentido de ser dos praxistas ou só se poder usar se o aluno tiver sido praxado.
Diz-se “da Praxe” no sentido de ser a que está em uso (deve ser usada), que é própria do estudante universitário, assim consagrada e definida.
Fique este esclarecimento para aqueles que alegam parvamente que a pasta não é “da Praxe” e, por isso, pode ser como querem e com as fitas que bem lhes apetece.
As Pasta e as Fitas obedecem a uma Tradição, regrada pela Praxe e aplicável a qualquer um que as utilize, seja ele praxista ou não. Usando Pasta e Fitas, isso obriga ao estrito respeito pela etiqueta e protocolo associados, desde logo pelo uso obrigatório do traje.
Lamentavelmente, ainda não descobri em nenhum código (se houver informem) dessas academias, cujos finalistas parecem arautos carnavalescos, qualquer artigo em que se definisse o nº limite das fitas ou mesmo como deveriam ser (tamanho, forma, apresentação...), tudo devidamente fundamentado na Tradição.
Os muitos que conheço são, até, omissos – como é costume em casas onde Praxe é apenas um termo a pretexto do qual se inventa.
Que andam as comissões de praxe, os conselhos de veteranos e afins a fazer em defesa da Tradição?
Eu respondo: - NADA, POIS NEM SEQUER SABEM O QUE ISSO É!

O que se lamenta é a imagem que passa: a de finalistas que, estando no topo da hierarquia estudantil (e praxística), não são exemplo, muito pelo contrário, de uma cultura que lhes deveria merecer maior carinho e respeito, como sinal de coerência e credibilidade.

O que se lamenta é que, muitos que trajam, defendem a tradição, e outros que se afirmam "praxistas dos 7 costados", na hora de serem coerentes........ façam precisamente o oposto.

Notas da queima da Tradição na ESHTE


O N&M não podia deixar de mencionar o que se passa pelos lados da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, quando soube aquilo que por lá se faz no que respeita à “Queima das Fitas”.

 


Com efeito, chegou à redacção do N&M que os finalistas da referida instituição queimavam fitas.


A Comissão de Finalistas da ESHTE, questionada sobre o assunto confirmou, de facto, que os finalistas queimavam fitas, não especificando de que fitas se tratavam (mas sabemos que são mesmo fitas de finalista, a julgar por fotos consultadas no site da AE) e escusando-se a fornecer quaisquer explicações adicionais, quando tal lhe foi educadamente pedido.
 
 
 
O que mais se lamenta nisto tudo é percebermos o grau de ignorância e desrespeito que reina entre os praxistas (especialmente nos responsáveis da Praxe) daquela instituição, no que toca à Tradição.
Estamos literalmente perante um claro desvirtuar das coisas, confundido a beira da estrada com a estrada da Beira.
 
Chega a ser insultuosa a forma como a Tradição é incautamente delapidada e transformada em algo sem nexo e que julgamos inadmissível em estudantes do ensino superior que, alegadamente, seguem e vivem a Praxe ou a Tradição.
Saberão, por acaso, em que consiste a Queima das Fitas e o porquê dessa designação?
Saberão da história e significado de tal evento?
Obviamente que não, muito pelo contrário, o que consequentemente leva a verdadeiras tonterias.
 
Não deixamos, contudo, de fornecer algumas dicas:

Queima das Fitas (in CM de Coimbra): http://www.cm-coimbra.pt/ficheiros/900_turismo/Queima_das_Fitas.pdf
 
 
 
 
 
Como todos sabemos, as fitas que se queimam não são as fitas, mas o grelo. Os finalistas não queimam quaisquer fitas.
Nos primórdios chegaram-se, de facto, a queimar as fitas que prendiam a pasta e que dariam origem ao grelo. Essas fitas eram as das pastas dos quartanistas e não dos finalistas, de facto.
 
As fitas associadas aos finalistas, que estes levam à Bênção das Pastas decorrem das fitas usadas nas pastas de luxo e não consta que finalistas queimassem quaisquer fitas.
Mas também estamos certos que se perguntarmos a alguém da ESHTE da origem e significado do penico, também não saberão responder, ignorando que foi nele que se passaram a queimar as fitas (grelos), quando já não se fazia num buraco feito no chão.
 


 
Bem gostaríamos que alguém da ESHTE explicasse devidamente em que se suportam para justificar que finalistas queimem fitas, mas parece que preferem o velho lema estadonovista do “orgulhosamente sós”, recusando tudo quanto não seja ditado pela sua auto-suficiente ignorância e presunçosa arrogância (mesmo depois de por várias vezes alertados).
Infelizmente algo que não é de agora, já que por diversas vezes recebemos a mesma atitude autista, sempre que fizemos reparo e sempre disponibilizámos e partilhámos links sobre artigos de relevo ou que nos disponibilizámos para ajudar.
 
 
 
A queima da fita na ESHTE, em 2010
Foto obtida no FB da respectiva AE
https://fbcdn-sphotos-b-a.akamaihd.net/hphotos-ak-frc3/t1.0-9/27762_131019496913057_5903610_n.jpg
 
 
 
Não sabemos quem impinge tais práticas, conceitos e estórias da treta aos alunos e finalistas da ESHTE, mas não pode ser alguém sério, e muito menos alguém minimamente entendido em Tradição Académica.
 
Na ESTHE, ao que parece, a época de fogos já abriu há muito, sendo a dita “Queima das Fitas” uma celebração de pirómanos que se alegram em ver arder a Tradição.
E já para não falar no circo costumeiro de fitas e pastas totalmente despropositados - assunto que ainda há poucos dias voltámos a abordar (ver AQUI).
 

Mas não é admiração alguma, afinal, a ESHTE é já bem conhecida pelos invencionismos  a que chama "Praxe", sem respeito algum pela Tradição:


Quem quiser seguir o debate que ocorreu em torno desta sucessão de erros e tonterias pegadas ilustradas na imagem acima (entre as quais a promoção do crime, como é ocaso do roubo de pins), poderá fazé-lo via FB: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=494612653983626&set=o.353718228089868&type=3&theater
 
É triste.
 
 
Para evitar duplicações, apenas alertar que o assunto está em debate no grupo FB "Tradições Académicas&Praxe", cujo o link encontram no canto superiro direito do blogue.