Mais do que questionar a pertinência das trupes (e, até, da sua legalidade à luz da lei), é de questionar por que razão perduram noções/regras praxísticas que colidem não apenas com o bom-senso, mas com a própria Constituição da República e as leis em vigor, como as que justificam ou concebem a violência física como conceito e prática aceitáveis.
Faltam estudos mais concretos, nomeadamente por parte da sociologia, que permitam explicar as razões para práticas praxísticas violentas e abusivas que, em crescendo, despontaram, de forma generalizada, a partir da década de 1990, um pouco por todo o país.
Na Coimbra de outros tempos, a violência existente era reflexo da própria sociedade e valores (moral punitiva, de castigos físicos, educação pela coação...), algo que foi desaparecendo a partir da década de 1920-30 (depois de consolidada a República).
Na Coimbra dos anos 40-50-60 (em tempo de uma ditadura repressiva), salvo as trupes (com os rapanços), os casos de abuso eram rarefeitos e existia como que um decoro que servia de auto-regulação.
Estranhamente, após o hiato do luto académico e a génese da reabilitação das tradições académicas nos anos 1980, começou a assumir contornos de pandemia, a violência física, verbal e psicológica para com os caloiros, especialmente fora de Coimbra.
Ainda assim, e voltando ao início, estranha-se que as várias revisões posteriores ao CP de 1957 não tenham conseguido expurgar um certo discurso e noção de "violência aceitável", num espaço onde se promove a excelência académica e cívica como é a Universidade.
Infelizmente, outros códigos existem que contêm artigos que colidem com a legalidade (para não falar da colisão com a tradição ou o simples bom senso). Alguns estão, aliás, devidamente analisados no blogue, expondo uma triste realidade: a larga maioria nem para papel higiénico serve.
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