sábado, 25 de abril de 2015

Notas sobre Recrutas nas praxes


O título poderia muito bem ser algo como "Quando, nas praxes, os estúpidos brincam aos soldadinhos de chumbo."


 
 
Já não é de agora o contágio, a influência e um certo fascínio pela imitação dos exercícios militares nas praxes ou práticas que usam a gíria militar sem qualquer nexo ( e não apenas a actual - porque há palermas que usam como hierarquia nomes como "centurião", para não ir mais longe).
Não apenas os exercícios, mas toda a panóplia de autoritarismo, de berros, de vozes de comando, de paradas e gente alinhada, reproduzindo o que viram nos filmes ou brincaram em casa com soldados miniaturas armados em Rommel ou Napoleão.
Nada contra os militares, note-se, mas cada coisa no seu lugar.
Isto de ver garotos (que não têm outro nome) que nunca foram à tropa (se fossem, não fariam certas coisas aos colegas mais novos) a implementarem práticas de recruta militar (numa versão rasca e brejeira, ainda por cima) nas actividades não apenas de gozo ao caloiro, mas chegando estes verdadeiros retardados mentais, a perverter a tradição académica, em práticas em eventos com alunos não caloiros (paradas, de pé ou de joelhos, conforme a estupidez do Dux ou comissão presente)........ tem tanto de ridículo como de altamente prejudicial e desrespeitador para com a Praxe.

 


A palavra "recruta", a palavra "parada", entre outras (e outros conceitos) - próprios ao foro militar, não têm lugar no contexto académico e muito menos nas praxes.
É anti-Praxe.
Recrutas, paradas, etc. , não são Praxe, não são Tradição, antes alienação do nosso património por parte de gentalha que, essa sim, precisava de uma boa recruta na Amadora, em Santa Margarida, Tancos ou Lamego para ver se perdiam as manias e a infantilidade própria de alguém com claros problemas do foro psiquiátrico.
 
Na defesa e promoção da Praxe e da Tradição Académicas genuínas, pela imagem digna e credível dos estudantes universitários, digam "basta" e batam o pé aos rambos que desrespeitam e desvirtuam e a esses Dux e Comissões que se julgam generais do "Age of Empires" e afins ou pelotões de forças especiais do "Call of Duty".


Perante tudo isto, perguntamos nós, a propósito do termo "recruta", se não era de rever os mecanismos de recrutamento de alunos na Universidade, tipo inspeções militares de outrora.

Notas ao Código de Praxe do ISCAL (CITA 2015)

 



Dá pelo nome de CITA, Código Iscalino de Tradição Académica, este código de praxe, aprovado recentemente (12 de Outubro de 2015).

O dito código pode ser descarregado/acedido AQUI (via Google Drive).
O tema está a debate no grupo de Facebook "Tradições Académicas&Praxe".

Claro está que não se trata, de todo, de um código de Tradição Académica, porque não se codifica a Tradição nestes termos.
Com efeito, a Tradição Académica não é assunto de Praxe. O que é assunto de Praxe (de legislação, de regras, de etiqueta e protocolo) é o modo como o aluno trajado deve estar e agir em algumas das manifestações próprias da Tradição Académica, ligadas essencialmente aos momentos festivos do calendários estudantil (início e fim do ano).
Começa mal a coisa, desde logo,pelo nome.


Vamos analisar alguns dos artigos deste documento, começando, desde logo, pela nota introdutória, redigida pelo Dux do ISCAL.




Dizer que o espírito Académico é parte de um conjunto de costumes e práticas parece exercício assaz difícil, desde logo porque ainda estará para vir o primeiro a conseguir definir e circunscrever objectivamente o que é isso de "Espírito Académico". Depois, esta enorme confusão de meter no mesmo saco Tradição, Praxe e "espírito", revelando total desconhecimento sobre a definição e conceito de cada um.

Mas se, e bem, o autor destas linhas, defende que, no que concerne a Praxe/Tradição é preciso "preservar e transmitir às próximas gerações", a leitura deste "código" ilustra precisamente o contrário, ou, pelo menos, uma noção totalmente distorcida da res praxis, do que é Tradição Académica e do que de facto é preciso fazer (e ser) para poder-se promover a cultura lusitana estudantil.
Não, as tradições não são um modo de vida, tal como o não é a Praxe.
Modo de vida estudantil era o "correr la tuna", extinto no início do séc. XIX.

O verdadeiro "espírito", que deve ser lido como "propósito", da Praxe Académica não é ajudar a integrar-se no Ensino Superior, mas regrar o modus procendi/faciendi que o protocolo académico exige. A Praxe não tem o propósito de desenvolver laços de camaradagem (muito menos nos moldes em que este código se apresenta ao tratar os novos alunos como trata). Não, a Praxe não desenvolve amor e orgulho pela instituição. Nunca foi esse o seu propósito, nem sequer tem essa valência.
Se a praxe fosse assim tão fundamental para criar empatia e identificação com a instituição, não teriam já as reitorias aprovado as praxes e tomado as rédeas da coisa, dado o enorme "benefício" das mesmas?
Tretas, portanto.

Depois, vem este argumento falacioso e ridículo da praxe servir para preparar as pessoas para a vida futura. Como é que os pais não se lembraram disso e implementaram as praxes em casa, e as  escolas de ensino primário, médio e secundário idem?
Vindo de pessoas que nem sequer têm idade ainda para saber o que é vida, quanto mais armarem-se em pais ou avós de jovens da mesma idade, achando que uns berros, mandar andar de joelhos, fazer umas flexões é que são preparar...... vai de uma presunção a todos os títulos questionável.

Definição de Praxe



De facto, quando o autor do preâmbulo refere que não se pode confundir Praxe Académica com pseudo-praxe executada por indivíduos ignorantes na matérias, não podia estar mais de acordo.
Pena é que o autor não se tenha olhado ao espelho e percebido que tal lhe assentava que nem uma luva (a ele e demais outorgantes deste "código").
Com efeito, quer por este texto introdutório quer pelo conteúdo do documento, é possível comprovar que há quem, de facto, não saiba o que são tradições académicas.............. mas julga saber, subscrevendo idiotices disfarçadas de praxe.

Se o "Espírito Académico" não é apenas copos ou festas não sei. Ainda não consegui que alguém me explicasse e definisse devidamente o que era isso de "Espírito Académico".
Tangas, portanto.

E tal como ainda há pouco dizia, é de facto lamentável que um Dux que se arroga o direito de criticar todo aquele que não sabe de Praxe ou Tradição (os tais indivíduos ignorantes) cometa a suprema argolada de afirmar que o traje académico (capa e batina) representa a humildade e o respeito pelos outros.
Como é que permitem que alguém que diz estas barbaridades se torne Dux? Não é suposto o Dux ser uma pessoa conhecedora da Tradição e da Praxe?
Pelos vistos, não (o artigo anterior a este bem no lo confirma).
Não, meu caro, a capa e batina não representa nenhuma dessas coisas e muito menos simboliza igualdade.

Sobre o mito do traje para igualizar, leia AQUI e cultive-se.

Uma vez mais, no que toca ao facto do desrespeito pela Praxe Académica se transformar muitas vezes num verdadeiro insulto, estou plenamente de acordo. 
E nem precisamos de ir mais longe: basta ler este texto introdutório e desfolhar este "código".
Se a Praxe Académica, resultante e legitimada na Tradição genuína e original, fosse respeitada, certamente que as práticas seriam não apenas mais respeitosas, mas dar-se-iam mais ao respeito também. E, assim sendo, este documento nem sequer existiria, pois é um libelo que colide precisamente com tudo aquilo que supostamente pretende defender.

Se a tradição académica é muito rica, isso não impossibilita que ela esteja devidamente documentada e estudada. O que parece não perceber é que um código não tem por intuito expressá-la, mas apenas regrar e definir o protocolo, os usos a ter em determinados momentos expressivos da Tradição Académica (e apenas quando trajados), fazendo-o com base no conhecimento factual e documentado da Tradição, de modo a evitar inventar e desvirtuar. Se, como disse o autor do prefácio, é preciso defender o que se herdou, convirá conhecer a herança, a Tradição, a qual difere da "repetição".



Noutro aspecto em que concordo, no princípio, com o autor, é que não é lendo uns meros códigos de Praxe que se fica um iluminado.
Perguntava era o que mais leu o Dux, autor deste exórdio, porque parece que escreveu isto num breu cerrado. Perguntava que experiência afinal tem para se alavancar a, sem qualquer noção das coisas, escrever um texto destes tão repleto de erros.


E terminamos com os tais "3 avisos".

1. Se o ISCAL tem tradições próprias, e concedemos que sim, perguntava se é tradição desrespeitar a Tradição, inventando e redigindo normas contrárias ao que é uso e costume secular, tradições enraizadas que estão a nascente.
Isto é claramente conversa da treta; uma maneira de dizer: "Nós fazemos de conta que é tradição, dizemos que a defendemos, mas é para inventarmos à vontade e podermos sempre desculpar a nossa parvoíce com: isso é tradição nossa".
2. Não, não é impossível pôr por escrito todas as normas da Praxe; o que parece impossível aos autores deste "código" é redigir as regras correctamente, secundum praxis e de acordo com a Tradição.
Um documento onde omitem aspectos fundamentais, mas o enchem de invenções e de coisas que não são Praxe nem fazem sentido num código de Praxe.
3. Era bom que a experiência, como base da Tradição, fosse igualmente expressiva e ilustrativa de respeito e conhecimento por essa mesma Tradição, ao invés de meras palavras bonitas que, na prática, não encontram eco, antes paradoxos absolutos.
Para fazer bem, é preciso saber bem. Se ter muita experiência em fazer coisas erradas é meritório, então têm todo o mérito em fazer mal. Não lhe chamem é Praxe nem façam disso um exemplo de virtude, porque não somos ovelhas a balir de quatro e muito menos estendemos as nossas capas para um Dux passar por cima (como é costumeiro pelos lados do ISCAL) - que isso reservamos a quem tem mérito e credibilidade.



Tal como se percebe, logo à primeira vista, este documento não é um código de Praxe, mas de praxes, pois não consegue discernir e separar Praxe de gozo ao caloiro, misturando um pouco de tudo e.....um tudo de nada.



Gostava que me fosse explicado o que é isso de desvirtuar o "Espírito Académico".
Desde quando um organismo de praxe pode condenar/punir um aluno que, por exemplo, não queira aderir às praxes? Se não consideram como estando na Praxe quem se recusa a ser praxado, então não detêm autoridade sobre o que está fora da Praxe.
Contudo, um caloiro que se recusa às praxes não está fora da Praxe, nem é anti-Praxe.
E, já agora, o Dux goza de alguma imunidade, é? Quer dizer que se ele próprio infringir ele está acima da lei e sai impune de qualquer infracção cometida?
Belo exemplo. Assim se treinam os futuros políticos.

Os veteranos têm de usar uma "fita de grelo"? O que é isso de "fita de grelo"? 

Segundo a tradição genuína, temos grelo e temos fitas (8), como insígnias pessoais que assinalam o ano curricular frequentado.


Bengala como símbolo de conhecimento? Qual conhecimento? Não será antes a falta dele?
Por outro lado, não sabia que o símbolo máximo da Praxe era a colher de pau, quando a tradição consagrou uma trindade paritária: colher, tesoura e moca, mas tudo bem.



O gorro da Praxe é reservado a membros de uma comissão de Praxe? Com base em que tradição e fundamento?
Sabem o que é o gorro, sua história, ou só usam a bengala para inglês ver?
Se podemos enfiar a carapuça de ignorante a alguém, é precisamente a quem inventou isto. Por isso, usem antes a carapuça e deixem o gorro para os estudantes, pois que é peça a que têm direito de uso.



Uma Associação de estudantes regida por um código de Praxe? Mas anda tudo doido?
Pensava eu que as AE tinham regimento (estatutos) próprios, como é suposto uma associação com personalidade jurídica ter.
As AE não são assunto de Praxe.




Começamos por perguntar o que raio o termo "mancebo", próprio da gíria militar, faz num código de praxe.
Depois, condenar essa suprema parvoíce de se achar que quem não adere ás praxes fica vedado do exercício da sua cidadania académica.
É estúpido e vindo de gente que não tem sequer a noção das coisas.
Quando muito, podem vedar a participação a um baptismo do caloiro, um apadrinhamento, mas nada mais que isso.
Queima das fitas, semana do caloiro, uso do traje não estão sob alçada da Praxe, nem nunca estiveram.




Queiram os doutos subscritores deste código justificar documentalmente que alguém que se recusou a ser praxado fica impedido de poder participar das actividades académicas. Queiram comprovar que queima das fitas, semana do caloiro, etc., são actividades sob alçada da Praxe.



Alguém que não quer ser praxado (submeter-se ao gozo ao caloiro) não é anti-Praxe, mas, quando muito, anti-praxes. É uma diferença enorme, mas vocês preferem ignorar isso, porque, afinal, receiam é não ter ovelhas para comandar e não sabem integrar as pessoas na Praxe sem ser com coação e ameaças.
Nenhum caloiro que se recuse a ser praxado fica impedido seja do que for, nos moldes que vocês colocam.



Sobre o mito dos Anti-praxe, leiam AQUI.

Sobre a questão dos Caloiros em/na Praxe, ler AQUI.

Um traje proibido a caloiros não é traje académico. Ver AQUI.




E começa bem este capítulo, insultando os novos alunos, preto no branco.
Uma coisa é a gíria e os adjectivos jocosos in loco, por brincadeira, gozo........outra é meter isso num documento como um código.
Algum de vocês acaso já leu o código penal, aquele que trata precisamente das infracções à lei, dos crimes e criminosos?
Vejam se acaso lá descobrem algum adjectivo insultuoso para com os que cometem crimes.

No que diz respeito à alínea C, é verdadeiramente vergonhoso o que está patente. É isso assunto de Praxe e de um código? Onde está a defesa pelo decoro, civismo e educação que não podem dissociar-se da Praxe? Essas formas veladas de aceitação da nudez, do cariz sexual, é não apenas de gente porca, mas igualmente indigna de usar um traje, como representativo da condição estudantil, mais ainda quando se fala de ensino "superior".

A alínea D é, a todos os título ridícula. 
Claro que o caloiro tem o direito a não fumar, tal como a fumar, nos locais onde tal não seja proibido por lei. 
Tal como tem o direito a não urinar, tal como o pode fazer nos locais apropriados. Vocês, de facto, a encher um código destas parvoíces, era impossível circunscrever o essencial da Praxe. 
Quando não se sabe mais, "enchem-se chouriços" pelos vistos.



Não consigo, de todo, perceber esse fascínio pelos tribunais e desejo de julgar pessoas a torto e a direito, até sem a presença das mesmas, em Praxe.
Mas até nem é isso o que de mais notório podemos observar neste artigo.

O que realmente é admirável é essa coisa estapafúrdia de dar o nome de "Tunum protectum" à protecção de instrumento.
Desde logo revela pequenez intelectual ao não contemplarem a possibilidade do caloiro poder pertencer a um outro tipo de agrupamento que não tunas (que não têm o exclusivo académico da música). Além disso, as Tunas não são assunto de Praxe sequer.
Depois, e continuando os autores do código a destilar ignorância crassa, porque nem sequer percebem patavina de latim, inventando a metro, dizer que "Tunum" não existe nem em latim nem em latim macarrónico.
Deixem assuntos de Tuna com quem percebe do assunto. Já pouco percebem de Praxe, menos ainda de Tunas, está visto.


Já cá faltava o reconhecimento de matrículas.
Que mania essa de os organismos de praxe acharem que possuem competência e propriedade para tratar de equivalências de matrículas!!!
Isso é assunto da secretaria da instituição, segundo o estipulado nos normativos estipulados pelo ministério da tutela.
A matrícula não é assunto de Praxe, sendo que as matrículas se reconhecem automaticamente, porque sempre foi da praxe assim ocorrer.




Desde quando um aluno tem de apresentar um documento oficial perante um organismo de praxe? Faz lembrar os anormais que também exigem atestados médicos aos caloiros, para estes justificarem ausências. É preciso ser muito quadrado.



E entramos nas questões do traje.

E, uma vez mais, recordando as palavras do introito, redigidas pelo Dux do ISCAL, verificamos estar perante gente que não tem o grave problema de falar sobre aquilo que não sabem. Algo grave, muito grave, se tivermos em conta que estamos a falar do organismo que tutela a praxe e do seu líder máximo.
Mas, como está bom de ver, importa é a experiência e não a competência.

Olhando o que se diz sobre o traje feminino

1. Perguntamos aos autores onde foram buscar essa do tacão ter um tamanho de 3 a 5 cm. Podem justificar? Isso assenta em que precedente? Deu-vos na telha? Ah, está explicado!

2. Isso das meninas terem de usar meia de vidro preta tem que se lhe diga. Não vamos imbicar com isso; apenas dizer que, na origem e segundo a verdadeira tradição, as meninas usavam meia da cor da pele ou nenhuma meia.

4. Quanto ao tamanho da saia, era bom que se decidissem: 3 dedos acima ou 3 dedos abaixo? E, já agora, andam com fita métrica ou com os dedos a medir as saias ou é a "olhómetro"?
Qual o fundamento para estipularem tal medida? Podem explicar ou é mais uma daquelas coisas que copiaram sem critério, fazendo jus às bengalas da sabedoria que usam para disfarçar a ignorância?

Sobre o tamanho da saia e cor das meias, no traje académico feminino, leiam AQUI

5. Gostava, também, que explicassem por que razão é proibido o colete às senhoras. Alguma vez procuraram pensar e pesquisar sobre o assunto, pensando-o dom sensatez e pragmatismo?
Pois............dá muito trabalho!
Recordemos que o colete nos homens sempre foi facultativo. Aparece, mais recentemente nos códigos sem essa menção, não por imposição orgânica, mas porque assim passaram a ser vendidos pelas lojas.


7. O último botão da casaca não se pode abotoar? Com que fundamento?
Há, na tradição académica, algo que suporte tal palermice?
Obviamente que não. Mas pensar e saber..........hum..........dá muito trabalho. É mais fácil copiar dos outros, sem procurar verificar da fiabilidade da informação, pelos vistos.

8. Também gostava que fundamentassem essa coisa de proibir o verniz nas unhas; algo que nem o primeiro código de Praxe em Portugal (1957 - Coimbra) contemplou, tal como, por exemplo, nenhum regulamento militar ou corporativo onde haja uniforme regrado, impede tal às mulheres.

9. E quanto a darem conselhos sobre a roupa interior, é de muito mau tom e impróprio de um código. Aliás, não conheço nenhum "code-dress" que faça tal.





E quanto ao artigo 22.º ...................chega a causar dor só de olhar.

1. Tal como para a questão do verniz, nada há nada na tradição que proíba a maquilhagem ( o mesmo sucede nos regulamentos militares e corporativos).
Pena importarem-se com picuinhices, ao invés de procurarem gastar o tempo em ler umas coisas para se cultivarem sobre Praxe e Tradição Académicas.

4. Quanto às etiquetas do traje.............. é lamentável o que preconizam. É de um ridículo total e absoluto. Podem justificar isso com base em que tradição, na do Burundi?
Na Tradição Académica portuguesa não é, de certeza.

Sobre etiquetas no traje, ver AQUI.

5. Essa do gorro (pela 2-ª vez), desta vez, é uma argolada monumental. É que nem foram capazes de reler o que escreveram. 
Então é facultativo, mas só para alguns eleitos. Não apenas está mal redigido, como não tem fundamento nenhum. O gorro é uma peça do traje a que tem direito qualquer estudante.
Pena revelarem tanto afunilamento intelectual e acharem que o gorro é, agora, sinal de pertença a uma comissão. Já começa a ser palermice a mais, ora bolas!
Escolhem os mais ineptos para o Conselho de Veteranos lá do vosso burgo? Só pode!

Sobre o gorro académico, ver AQUI.

6. Terão de explicar-nos o que são isso de adornos ou sinais exteriores de vaidade ou riqueza.
Chega a ser estúpido.
Mas os senhores Dux e veteranos, membros da comissão, conselho de veteranos e quejandos podem usar bengalas, ostentar ...... -como era mesmo nome dessa coisa? Ah, já sei - ........."fita de grelo"?
Vão dizer que não é vaidade, querem ver? Claro que é. Pelo menos só assim se conseguem distinguir e enganar meio mundo, porque distinguirem-se pelo mérito do saber e da competência, isso..................pois: está quieto!

7. Tapar piercings com adesivo? Mas você batem bem da tola?
Não percebem que isso é esteticamente ainda mais ostensivo e errático?
Sabem o que é ser pragmático?
Que tal mandar retirar os que são amovíveis? 
Ou isso ou literalmente proibir que se traje com tal (como na tropa), o que me parece, nos dias de hoje, exagerado.


8. Essa de proibir o relógio de pulso não apenas é de uma ignorância enorme, mas de uma profunda estupidez. 
E estupidez porque estamos seguros que os autores deste código terão já tido oportunidade de ter acesso a informações que explicam por que tal não faz sentido. Mas é verdade que a estupidez consiste em mesmo conhecendo a verdade, preferir continuar a errar.
Não, os relógios de pulso nunca foram proibidos na Praxe, nunca! 

Sobre os relógios com traje académico, ver AQUI


Que dizer do Dux e dos seus ajudantes, a ajuizar pelo conteúdo deste código?
Este organismo de "praxe" não cabe tão bem na definição dada pelo seu próprio Dux, sobre os usos e costumes que vemos neste código, como sendo, e passo a citar, "...pseudo-praxe executada por indivíduos ignorantes na matéria (...) [que] não sabem o que são tradições académicas..."?

9. Proibido o telemóvel visível, devendo estar no bolso? Mas isso quer dizer o quê?
Não se pode atender uma chamada, usar para tirar uma foto, ver o mail ou ir às redes sociais? Tal é proibido em Praxe?
Demasiado tonto para se levar a sério.


11. "Madeiras de curso"? Mas agora são as lojas de comércio que definem Praxe e o que é lícito usar? 
Sim, porque isso é invenção das lojas de comércio e nunca foi permitido tal. Palermices, portanto. E o que faz o organismo de praxe? Diz "amén" e aprova heresias, circos ambulantes e carnavais de vaidade - ou não são essas madeirinhas um sinal exterior de vaidade? Ah, pois..........coerência!

Sobre as lojas de comércio e a venda de invenções, ver AQUI.

13. A capa nunca se lava?
Onde forma buscar isso? Não apenas isso não tem fundamento, como a ideia em si é......porca!

A Capa pode lavar-se, sim senhor! Leiam AQUI !
E também se aconselha a leitura dos Regulamentos Disciplinares da UC, a partir da reforma pombalina, os quais estipulavam o aprumo e a limpeza, ficando proibidos de aceder às aulas os alunos mal vestidos ou sujos (e sujeitos a punições severas, até).


14. Essa da distância da capa é outra anedota. Você são mesmo picuinhas. Andam com metro no bolso a fiscalizar, é?
Nunca tal norma foi Praxe ou Tradição. Bastaria um pouco de inteligência para perceber a tontice de tal norma. Mas parece faltar.
Podem justificar isso com base na Tradição ou é mais um "ouvi dizer"?

16. A capa usa-se como bem se entende, perceberam?
Só em 3 situações a capa tem de estar colocada de uma maneira definida: pelos ombros (momentos solenes), pelos ombros abotoada (cerimónias fúnebres) e traçada (na serenata Monumental - e apenas esta - e em trupe). De resto não há etiqueta ou protocolo a seguir.
Usada pelos ombros com a gola dobrada é com as dobras que mais nos der jeito.
Não inventem, porque nem sequer conseguem justificar isso senão na vossa mania de inventar ou copiar os erros de outros códigos da treta.


Sobre as formas de usar a capa, segundo a Tradição, ver AQUI.


17. Capa dobrada em 4 partes? E que mais vão inventar? deixem-se de tangas e preciosismos.
Usa-se no ombro esquerdo? E se for o direito, onde está a infracção?



19. Os grelos são fitas de 9mm? 
Uma 9mm nos pés é o que vocês disparam sem parar!
Isso já não é apenas estupidez, mas burrice.
Grelo é uma fita, apenas, da cor do curso que usam os alunos no penúltimo ano de curso (tradicionalmente os terceiranistas) e cujas pontas se queimam (queima essa que está na origem do termo "Queima das Fitas", embora o que fosse queimado fosse o grelo).
Bravo, meus caros, conseguem justificar bem a bengala do saber não sabendo nada!

Sobre o que é o Grelo, ver AQUI.

20. Trajado o estudante usa a chamada "pasta da praxe". 





Desde quando as Tunas se regem por códigos de praxe? Desde quando as Tunas são Praxe ou assunto de Praxe?
Não apenas vocês não sabem de praxe como não sabem de Tunas.
Os tunos não devem obediência alguma ao código de Praxe no exercício da sua condição de Tunos, nem a Praxe tem legitimidade para legislar sobre as Tunas ou os Tunos enquanto tal.
É triste ver até que ponto chega a ignorância. Pena ela não doer; podia ser que se sentissem!

Sobre a diferença entre Tunas e Praxe, ver AQUI e AQUI.




Deixem-se de invenções.
Só legislam disparates sobre assuntos que nem sabem o seu porquê.
Não há nem emblemas obrigatórios, nem o número ímpar importa em Praxe, nem se metem emblemas de locais onde se esteve trajado, nem de finalista, nem a capa se traça obrigatoriamente sobre o ombro esquerdo.

Sobre o mito do número ímpar, ver AQUI.


Mas chegam à suprema imbecilidade, porque só mesmo um imbecil chega a tal, de dizerem que por pais e aluno serem da mesma cidade, o estudante tem de meter 3 emblemas iguais.
Para já, não se colocam emblemas da terra dos pais (eles que pusessem na capa deles), tal como não se mete dos filhos (se for caso disso). Mas mesmo que assim fosse (e não é), seria apenas um dessa cidade, tal como sucede se a cidade onde se estuda é a mesma onde se vive e nasceu.
Pergunto-me se vocês ao menos pensam nas coisas antes de se meterem a disparar a 9 mm para os pés.

Sobre os emblemas apropriados e o seu uso, segundo a verdadeira tradição, ver AQUI.


As fitas de finalista são 8, segundo a Tradição. São da cor da faculdade/curso.
Não há cá fitas brancas para crenças religiosas, porque as crenças religiosas não são da Praxe.
isso da fita preta de finalista é de vómitos. Se mais nenhum aluno pode usar fitas, apenas e só finalistas, a fita preta tem que propósito? Escrever os maus momentos para depois ser queimada?
Vocês inventam cada bosta! E ainda têm a distinta lata de chamar a isso Praxe!
E agora uma fita verde? Andaram a ver demasiados episódios da Floribela, meus caros!
Respeitem a Tradição, a sua simplicidade e o seu valor histórico e simbólico.
O que fazem é denegrir e delapidar o património estudantil.

Sobre os uso correcto das Fitas de Finalista, ver AQUI e AQUI.





Essa é boa!
As homenagens com a capa apenas se fazem com ela pelo chão.
Não é homenagem alguma meter uma capa pelos ombros seja de quem for.

E quanto a situações de dança, em Praxe (e neste caso apenas), é quando ocorre um baile de finalistas (também apelidado de "chá dançante") e, nesse caso, o aluno está dispensado de a usar para dançar - tal como a aluna finalista pode dispensar o traje académico e usar um vestido de gala.





Nunca se usa a capa traçada numa cerimónia solene e muito menos numa cerimónia fúnebre.
Vocês deveriam ter vergonha do que escrevem!

Sobre o Luto Académico e Cerimónias Fúnebres, ver AQUI.


E quanto ao artigo 30.º, outra falácia.
A capa só se usa traçada na Serenata Monumental e em mais nenhuma outra serenata.
Em momento algum se traça a capa a ouvir fado (a capa não é um xaile), salvo se estivermos a falar de Fado de Coimbra e apenas na Serenata Monumental.
o costume de a traçar nos fados é dos cantores e executantes, não do público.
Em nenhuma outra serenata se tem de usar a capa traçada. Pode-se usar, mas não é obrigatório.
Também é um mito isso de esconder o colarinho e os punhos. A Tradição manda apenas que esteja traçada. O resto é excesso de zelo.

Sobre a praxis da Serenata, ver AQUI.




Vamos terminar com este artigo, o 31.º.

Os caloiros podem trajar desde o momento em que se matriculam. sabiam? Pois.
Não têm os caloiros de a usar dobrada nem estão proibidos de a traçar. Vocês muito repetem asneiras sem pensar.
Qualquer estudante matriculado pode usar traje e fá-lo a partir do momento que muito bem entender.
Dizer o contrário é desconhecer a Tradição e desrespeitar a Praxe.
O ponto 7 deste artigo é outra estupidez, provinda de gentinha de mioleira reduzida.
Muito haveria a dizer dessa abjecta cerimónia do "traçar da capa" que é uma invenção escabrosa sem nexo e assente em pressupostos anti-Praxe.

O Caloiro pode trajar - Ver AQUI !!!
Os caloiros já vinham com o traje desde o liceu - ver AQUI, porque nos liceus vivia-se a mesma tradição - ver AQUI.

E sobre o Traçar da Capa, leiam AQUI.




Resumindo e concluindo


Um código que pouco tem de Código de Praxe, sendo mais uma lista de invenções, demasiado focadas em proibições e artificialismos; 

Um código que não respeita a Tradição e a Praxe;

Um código que foi redigido por pessoas verdadeiramente ineptas, incompetentes e ignorantes, tal como as descreve o Dux na sua nota de abertura.




Mas que esperar de uma instituição onde se metem alunos trajados de quatro?



Quando ainda muitos acham que quem prejudica a Praxe são os meios de comunicação social e uns quantos ressabiados, vejam que, afinal, os verdadeiros Anti-Praxe, os que mais a conspurcam e prejudicam são, pasme-se, praxistas; praxistas que usualmente militam em organismos de praxe e ostentam, entre outras, cargos de Dux.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Notas sobre praxes e Praxe.

O presente artigo pretende reflectir sobre um dos fenómenos que mais paixões e acesas discussões têm levantado na comunidade académica, quase desde sempre:
Qual a validade e pertinência das “praxes”, que sentido tem a Praxe e, neste caso, as ditas “praxes”?

Escusado será fazer, aqui, uma exposição histórica e social da praxe (até porque abordado em artigos anteriores).
Muito do que hoje é todo como definição de Praxe, decorre do que consta do 1º código de Praxe, editado em Coimbra em 1957, quando se verifica o que o prof. António Nunes apelida de "esforço de praxização", ou seja a tentativa de colocar sob jurisprudência da Praxe, aspectos e eventos (queima das fitas, serenata, tunas...)  que não são Praxe, em sentido estrito.
Deste modo, surge a confusão de definir Praxe como conjunto de usos e costumes, quando tal não é correcto.

CONTEXTO

Antes do termo "Praxe" se introduzido (séc. XIX), várias foram as designações que expressaram os actos, práticas e ritos exclusivamente ligados à relação entre veteranos e caloiros (investidas, caçoadas, assuadas, troça, gozo...).
Assim, e durante muito tempo, Praxe designava exclusivamente os ritos e regras que orientavam as relações hierárquicas entre doutores e novatos.
Era por isso uma mescla de regras com o gozo ao caloiro.
Mais tarde, especialmente com a institucionalização das regras da tradição oral em documento escrito (código de 1957), a Praxe alarga o seu âmbito, deixando de se centrar apenas naquilo que até então se considerava, para incluir toda uma panóplia de recomendações, restrições, regras e etiquetas a observar enquanto trajado e, ao mesmo tempo, praxizando diversos aspectos que, até então, estavam à margem.
Obviamente que daí resultaram erros que ainda hoje fazem doutrina.
 

DEFINIÇÃO DE PRAXE
 
 
Por Praxe, de facto, se deve entender, apenas e só, o conjunto de regras, normas de etiqueta e protocolo que regem as relações sociais dos estudantes trajados que livremente aderem.
Deste modo, a Praxe assume-se como "Lei Académica", o conjunto de leis, de obrigações, direitos e deveres a observar em diversos contextos (das protecções ao modo como trajar numa determinada situação, como usar insígnias, etc.).
Poderemos incluir igualmente as práticas (usos e costumes) estritamente ligados à recepção e percurso da vida de caloiro, como é o caso do "gozo ao caloiro (vulgo praxes)" e cerimónias que marcam as etapas e vivência dessa condição (latada, baptismo, julgamento, trupes).
Contudo não é Praxe nenhuma outra actividade onde existem regras de comportamento que, contudo, pertencem à esfera da Praxe, mas que em si não o são (Missa de Finalistas, uso de insígnias, Serenata, Desfile, direito a trajar .....).
Por exemplo: a Praxe define como trajar durante a Serenata Monumental, mas a Serenata não é Praxe. A Praxe define como usar a a pasta com fitas (e com quantas), assim como se deve trajar, na Missa de Finalistas, mas a Missa de Finalistas não é Praxe.
A Praxe define como trajar, mas o traje não é Praxe (porque uniforme identificativo da condição estudantil), pelo que ilegal proibir um estudante de trajar (caloiro ou não).
 
O que fazemos do traje é Praxe. Mas o que fazemos de traje não o é forçosamente.
 
A Tradição Académica é bem mais vasta do que a Praxe, a qual é apenas um dos seus aspectos.
Assim sendo, é também erróneo confundir Praxe com Tradição, pois a Praxe resulta da Tradição (e só assim tem legitimidade).

ESTAR NA/EM PRAXE não é "estar" nas praxes.
 
Observar a Praxe é cumprir com o que ela determina para cada situação. Não existe, pro isso, qualquer precedente, e muito menos qualquer direito de aferir pessoas em relação à participação no gozo ao caloiro.
Desde logo por isso se não pode, nem deve, impedir um estudante de estar na Praxe só porque não aderiu às "praxes".

As praxes não são recruta ou condição obrigatória para se exercer praxe, trajar, fitar, etc.
Não é Tradição que, para se estar na Praxe (e com isso signficando participar das actividades tradicionais: serenata, queima, benção, cortejo...), seja obrigatório ter sido praxado, nem mesmo para praxar caloiros no ano seguinte.
Nenhum argumento histórico suporta tal concepção, excepto a ignorância de quem inventou papismos e criou códigos(zecos) repletos de mitos, mentiras e muitas estórias da carochinha (e zelados por organismos de praxe constituídos por ignorantes e incompetentes).
 
A confusão instalada está precisamente em confundir Praxe (lei) com "praxes" (gozo ao caloiro). E por uma questão de salubridade, dever-se-ia reabilitar o uso da designação "Gozo do/ao caloiro", ou pelo menos evitar confundir as praxes com a Lei Académica que rege não apenas estas.
 
COMISSÕES DE PRAXE
 
Incoerente, portanto, existirem "Comissões de Praxe" cuja finalidade não é serem responsáveis pelo Código de Praxe, zelarem pela sua observância, actualizações/correcções, e servirem de guardiães da justiça académica.
"Comissões de Praxe" que organizam praxes são comissões de gozo ao caloiro.
Pior ainda quando há "comissões" e, acima destas, um Conselho de Praxe ou de Veteranos. Quem, afinal, é  o organismo responsável pela Lei Académica?
Comissões de Praxe, seriam, então, a bom dizer, grupos colegiais encarregues de estudar propostas de revisão da legislação, de averiguações de casos, responsáveis por elaborar relatórios a apresentar ao organismo titular (como as comissões parlamentares).
As comissões, como o próprio nome indica, são instituições temporárias, razão pela qual, os organismos permanentes, responsáveis pela Praxe não se deveriam chamar de "comissões".

Mas este artigo é precisamente para falar desses ditos Ritos de Iniciação, as ditas “praxes” aos caloiros, que tanta tinta, argumentos e fratricidas “guerras” têm alimentado.

Para que servem as “praxes” aos caloiros?

Para os defensores das mesmas, serve para integrar os novos alunos; para os seus detractores, é uma humilhação gratuita que serve apenas para alimentar o ego dos veteranos.

O que, no meio disto tudo, mais me cria aversão é que, de ambos os lados, os argumentos são de gente ignorante, totalmente desprovida de reflexão séria e ponderada. De uma maneira geral, quer os auto-proclamados “anti-praxe”, quer os ditos praxistas (a começar pelos que lideram os organismos de praxe), colocam-se ridiculamente nos antípodas, ambos pecando por reduzida visão e saber.

As “praxes” servem para integrar?
Diz-se, à boca cheia, que sim, mas de que maneira?


Respondem os “praxistas” que criam amizades entre caloiros, entre estes e os doutores, que ganham espírito académico …….. (e outras baboseiras que escuso reproduzir).
Sempre que ouço este tipo de argumentos não sei se chore ou se ria. É assim que se define e resume a res praxis? Não me parece.
Fala-se em integração, quando nem sequer se percebe o alcance desse conceito ou se espera que ela se faça com acções muito pouco potenciadoras disso mesmo.
Os ritos são uma forma de promover a adesão e integração à cultura académica, mas tal não sucede no imediato e por magia das praxes, mas ao longo de toda uma vivência que se estende no tempo, e em que as “praxes” são uma parte, apenas, desse processo.

As “praxes”, neste caso os Ritos de Iniciação, visam, antes de mais, marcar uma separação clara de grau de ensino e vivência. Os ritos a que os caloiros são submetidos visam, sobretudo marcar uma fronteira, para o integrar numa nova matriz de cariz mais corporativista, conferindo-lhe espírito de corpo, de unicidade a um foro social e cultural totalmente díspar do restante da sociedade (e do que, até aí, pudera experienciar).
Através dos ritos, o indivíduo é consciencializado da existência de uma tradição, cultura e história que o transcende, que é maior que ele, levando-o a tomar conta que, neste novo “sistema operativo”, o indivíduo é parte integrante e não o contrário.

Os ritos servem, pois, para assinalar a entrada na vida universitária e a integração no grupo, com base na consciencialização do indivíduo para o respeito pelo património e cultura em que ingressa, e a necessidade de conhecer essa mesma cultura e património. Além disso, vinca-se o dever de respeitar a antiguidade, que assume papel paternalista de quem ali está para ensinar como as coisas funcionam e como o indivíduo se deve posicionar como parte do todo.
Muitas vezes (quase sempre) a ignorância e falta de educação dos "doutores" leva precisamente a abusos e a fazer fugir a "clientela" (e a dar lenha com que tantos incendeiam artigos contra as praxes).

O indivíduo que percebe e apreende a grandeza a que foi chamado a fazer parte, mais facilmente lhe dará valor, a irá promover, viver e defender.
Para isso, servem os ritos - no mesmo processo usado para obtenção do metal, de modo a separar as impurezas e apenas ficar o metal valioso, criar a predisposição para conhecer e, assim, melhor compreender e vivenciar o que irá pôr em prática.
Assim, as “agruras” por que passam os caloiros têm por finalidade imprimir um alerta: quem inicia o seu caminho deve perceber que muito tem a aprender, depois a defender e promover, antes de um dia poder ter algo a legar.
Não sejamos ingénuos a ponto de dizer que tudo se faz com palmadinhas nas costas e umas rodadas.
Há necessidade de uma depuração que passa por um processo que implica alguma “dor”, a qual não deve ser entendida como violência. Essa “dor” deve ser entendida como o esforço que implica ajustar-se, reajustar um modo de ser e pensar ao modo de viver de um grupo.
Um processo que não é exclusivo do foro universitário, como sabeis. Por isso é que há sempre um preço a pagar (essa sim, a verdadeira patente), algo que ninguém faz sem custo, pois mudar, desfazer-se do seu egocentrismo, perceber que os direitos pagam-se com o cumprimento de deveres, é um exercício que a todos custa, principalmente numa idade onde todos estamos a rebentar de “autodeterminação” e afirmação pessoal.

Não se trata de robotizar, nem mesmo deve ser entendido numa politização fascista, mas tão-somente como uma (re)educação, uma nova aprendizagem, necessárias, aí sim, a uma integração num grupo que tem regras de convivência próprias e que marcam o percurso do estudante universitário enquanto tal.
O grande problema queda-se, contudo, na forma como são esses ritos praticados. Como não existe a compreensão da finalidade dos ritos (porque a maioria existe como fim em si mesmo), cai-se na humilhação gratuita, com práticas abjectas e desprovidas de sentido (cuja natureza de muitas nem sequer sem insere na praxe, mas sim no foro do crime e, por isso, de natureza policial). As práticas, para surtirem efeito devem ter objectivos concretos a serem alcançados, algo que todos, a começar pelos caloiros, devem conhecer.
Nada há pior do que nos obrigarem a algo que não gostamos, principalmente quando não lhe compreendemos a finalidade.
As “praxes” não são para gostar, são para preparar o indivíduo – a primeira fase da formação (infelizmente, quase sempre se fica por aqui, ficando a formação na gaveta), predispondo-o a conhecer, alimentando a sua curiosidade em tomar conhecimento e parte da cultura em que se vai inserir.
Não esquecer, também, que uma larga parte dos jogos e brincadeiras a que chama "praxe" nada têm de Praxe, de praxe ou de praxes. São isso mesmo: brincadeiras. Assim sendo, em coerência, não deveriam estar inseridas nos ritos de recepção ou integração, nem sequer serem chamadas de praxes.
O que aprende o caloiro ao ficar com a cara cheia de farinha, saltar "á cabra cega", fazer jogos tradicionais, corridas, andar a rebolar, cantar músicas.......... o que aprende sobre tradições, Praxe......?
Serve para integrar? Ajudará, em muitos casos, mas a Praxe não é colónia de férias, grupo de escuteiros ou quejandos. Além disso, a integração numa instituição não precisa de praxes sequer (nem mesmo de Praxe). A integração em causa não é desse tipo; não se trta de ambientar-se às aulas, aos colegas, professores, cidade...... mas de integração na cultura, usos e costumes estudantis, regrados e definidos enquanto tal.

A esmagadora maioria dessas práticas esgotam-se passada a fase de recepção ao caloiro e não tem qualquer continuidade gradativa, ou seja, a continuação da formação do indivíduo – o qual só volta a tomar consciência da existência de ritos, quando chega a Queima das Fitas (e, por sua conta e risco, espera-se que lá chegue já integrado e conhecedor, de facto, do que é Praxe).

Nesse aspecto, os detractores da praxe acabam por ter muita razão quando se insurgem contra as práticas realizadas.
Quando os ritos servem apenas para alimentar o ego ditatorial e sádico dos veteranos e doutores (que quase só se mostram nessa altura, diga-se), reduzindo à condição de escravo ou empregado os caloiros, não podemos estranhar que nasçam associações anti-praxe (principalmente com a quantidade de excessos praticados que nada têm a ver com praxe) ou redobrem as queixas policiais.
Mas se os ditos “anti-praxe” são “alimentados” pela ignorância e estupidez de muito “doutorzinho”, não posso deixar de endereçar os mesmos adjectivos aos componentes desses grupos “anti-praxe”: que mostram a mesmíssima ignorância bruta daqueles que condenam, ao reduzir o significado de praxe apenas aos ritos de iniciação (e pior ainda – e isso é prova cabal de má-fé, acefalia e estupidez total – quando atacam tunas).

Qual o problema?

O problema reside em 3 aspectos essenciais:

A falta de formação, competência e saber dos organismos de praxe. O exemplo deve vir de cima e a aposta passa sempre por formar e informar, mais do que autorizar praxes e fiscalizar as mesmas. De nada vale fiscalizar pessoas que nunca foram, realmente, formadas e informadas. Um código escrito não basta, quando muitas vezes está, ele próprio, longe da realidade praticada (ou cheio de invenções e mitos ou inutilidades - o que sucede em 99% dos que existem em Portugal).
Vale mais o exemplo de conduta do que quilos de decretos e normas.
Mas como só se pensa em praxe, fazer desfiles, festas e afins, cada qual vai improvisando e/ou copiando o que vai vendo (nem sempre copiando bem, ou o que está bem), muitas vezes com total sentimento de impunidade.
E Espírito Académico passa a ser algo tão indecifrável que cada um tem o seu, e defini-lo fica no âmbito do “inexplicável” por palavras.
Antigamente, tendo em conta as academias serem pequenas, existia um espírito mais familiar, o que facilitava a passagem do saber oralizado, alicerçado numa real vivência da tradição, sendo o código bem mais do que um documento, pois era vivido e apreendido – fazia implicitamente parte de cada um, ao contrário da actualidade.
Os códigos de hoje, que mais parecem manual de inquisição, são uma sucessão de milhares de artigos (alguns dúbios) que a maioria desconhece, distantes da realidade (porque querem regrar em demasia, ao invés de acentuar o essencial), pejados de mitos e artificialismos, observados mais por obrigação do que por convicção (e onde as proibições e normas sobre caloiros ocupam parte considerável do documento).

A natureza da maioria dos códigos de praxe. Uma grande parte aparece pouco tempo depois da implantação da instituição, não sendo reprodução escrita (devidamente articulada e ajustada) de usos e costumes anteriormente praticados (e resultante da experiênciação da tentativa-erro de que resulta uma certa maturação das práticas e escolha das mais adequadas) , mas a imposição de regras nas quais poucos encontram eco ou se revêem. Um código, na sua primeira edição, deve reproduzir o que já era (bem) feito, o que já era tradição oral (regrando, ajustando esses usos aos objectivos desejados), para que possa ter o devido precedente e justificação histórica, social e cultural para se averbar código que possa servir de modelo aos vindouros.
Nesse aspecto, uma grande maioria dos códigos existentes são documentos artificiais que apenas vieram alimentar usos e costumes eles próprios vazios de significância, mais seguidos por serem lei, do que por serem aceites como pertinentes.
É facto que grande parte dos códigos que por aí pululam visaram, num primeiro momento, definir uma identidade própria, diferente das demais academias e cidades, nomeadamente de Coimbra, criando uma catadupa de “praxes”, regras e disposições “de plástico”, usos artificiais, a que a panóplia de “trajes académicos” (99% dos quais sem fundamentação válida), cada qual ao seu estilo, veio a reboque. Nesse aspecto, terá sido, esse, um dos maiores erros históricos e a maior falta de bom senso registados na história da praxe. Bairrismos inusitados e a força de ter de ser, à força, diferente, levou a trajes sem qualquer razão de ser perante a capa e batina – traje oficialmente definido como Traje Nacional (e, por isso, não apenas de Coimbra), identificativo do estudante universitário português.
Quando ainda por cima alguns abanam o argumento de "as nossas tradições" (achando que ao novo basta parecer "antigo"), fica claro o quanto a ignorância, e por vezes estupidez, grassa no foro académico de hoje (e de há uns largos anos a esta parte), desde os praxistas mais ferrenhos aos conselhos de veteranos e comissões de praxe.
Tantos são os absurdos repetidos que é de perguntar que gente temos no ensino superior que nem sequer questiona a origem, a validade das coisas (alguns artigos estão listado à esquerda, precisamente sobre essas "doutrinas" que alguns pregam como dogmas autênticos).

A formação de cada indivíduo. Um aspecto que resulta dos dois anteriores, obviamente, a que acrescem as características sociais e culturais das novas gerações.
À falta de formação dos futuros agentes da praxe (mais congressos, colóquios, tertúlias, fóruns, publicações urgem), a relação causa-efeito que daí advém surge natural e inexorável. A praxe perdeu a sua linearidade vertical e horizontal, passando a um “sistema de ilhas” e evento sazonal, centrado exclusivamente no parecer em detrimento do ser – fenómeno superficial que existe “para inglês ver”, numa de “Maria vai com as outras”!
Valores como o respeito, abnegação, espírito empreendedor, participação voluntária, desejo de valorização complementar vão dando lugar à apatia, indiferença, egoísmo, competição, materialismo e facilitismo que não são condizentes com o perfil de académicos activos, produtores e reprodutores de cultura e excelência que deveriam caracterizar o estudante universitário, o praxista. Mas se tal não acontece, não podemos imputar tudo à sociedade ou aos paizinhos ausentes ou permissivos.
Os ritos de iniciação servindo para formar, depurar, educar e preparar o indivíduo para compreender, apreender, aprender e tomar parte da comunidade universitária, deveriam bastar para garantir que cada um exercesse consciente e proficuamente a sua cidadania académica. O problema é que nem quem os pratica e aplica tem idoneidade e competência para essa tarefa, nem quem depois pretende mudar as coisas tem espaço para tal.
“Quando os princípios são maus, não se esperem bons fins”, diz o povo e tem razão.


Concluindo:

Perante o actual panorama dos ritos e práticas exercidos, temos de convir que são um fenómeno que carece de pertinência e que serve interesses que não interessam de facto.
Troque-se  as brincadeiras (que de maior ou menor gosto, não passam disso: brincadeiras) por momentos de formação, informação e debate, tertúlias animadas e outros momentos de convívio que possam preparar as pessoas para exercerem, de facto, a missão de integrar os caloiros, movidas pelo dever e competência e não por desejos recalcados de vingança, sadismo ou simples vontade de afirmação.

Quando a praxe está reduzida, na sua imagem pública, ao que se passa em Outubro e Novembro (pior ainda, quando inventam praxes pelo ano fora), seria bom que outra postura fosse adoptada e algumas medidas firmemente tomadas, de modo a que quer os protagonistas directos, quer os responsáveis pela praxe deixem de envergonhar e manchar os pergaminhos de uma tradição e cultura que merecia outro trato e respeito, e de quantos viveram, com elevação, a condição de académicos.