Sobre o Traje Estudantil, deixo aqui alguns excertos (de um amplo conjunto de artigos que se debruçam sobre a origem e evolução do património vestimentário académico, docente e discente, em Portugal e na Europa), produzidos pelo consagrado especialista e historiador, o Professor António M. Nunes, publicados no seu blogue Virtual Memories (http://virtualandmemories.blogspot.com/).
NOTAS PRÉVIAS:
- O traje escolar foi sempre marcado pela indumentária religiosa dos clérigos que, nos primeiros séculos da Universidade, tinham o exclusivo de cursar os Estudos Gerais;
- Os clérigos, esses, vestem segundo a regra da sua ordem e, também, a sua hierarquia;
- As cores mais usuais eram o castanho, o pardo ( que originará a figura do “pardillo” em Espanha) e, mais tardiamente, o preto, não por imposição, mas proibição de cores mais garridas.
- A evolução do vestuário nota-se, paulatinamente, com a abertura da frequência universitária a outras classes, tornando-se mais permeável a modas (rendas, berloques, sedas, frisados, diversos tipos de chapéus/barretes, cações…..), embora fortemente balizado por critérios de sobriedade e austeridade;
- Nos Séc. XVII a tónica eclesiástica do traje foi-se acentuando, sendo de realçar a utilização da "loba", espécie de batina ou sotaina eclesiástica sem mangas, guarnecida na frente com duas filas de botões desde o pescoço até abaixo do joelho, junto com calção , capa e barrete redondo ou de cantos (o gorro só em finais do séc. XVIII).
- Loba: Vestidura eclesiástica, clerical e honorífica, que chega até o chão, cortada de maneira que nela entram os braços; dela usam também os bedéis (responsáveis pela disciplina)da Universidade.
- Os que não eram eclesiásticos sentiam-se impelidos a não destoar, vestindo à maneira dos clérigos, e também pela necessidade de identificar o foro académico e quem por ele estava abrangido. Os trajes assumem, pois, figura/função de uniforme, para distinguir so estudantes de outros mesteres e profissões.
Em inícios do séc. XVIII a loba vai dar lugar progressivamente à “abatina”, sendo também a partir dessa época que os trajes estudantis começam a convergir para uma mesma forma de traje académico - embora essa forma estivesse dependente de flutuações de moda.
Abatina: conjunto de capa e túnica (talar) dos abades seculares de França ou de Itália, com vestido de seda negra, capa curta, volta singela e cabeleira pequena. Mais curta e barata que a loba. O negro, esse, significando o desapego ao mundo material e os seus votos eclesiásticos.
A “abatina” estudantil, modelo talar, (que os estudantes passam a designar apenas por “batina”) não seria tão comprida como a dos lentes (até aos calcanhares = ”talons”) e seria até bem mais curta que a capa , pelo que o uso de calções, por exemplo, mesmo quase não se vendo debaixo da “batina” (viam-se apenas as meias), se mantivesse.
Durante muito tempo o uso da capa e batina foi obrigatório para o estudante, tal como, aliás, para o lente, ainda que este usasse uma batina comprida até aos pés.
Entre 1718 e 1834, esta obrigatoriedade estendia-se a toda a cidade.
De 1834 até à implantação da República, em 1910, a capa e batina era apenas obrigatória dentro do perímetro da Universidade.
Sobre a questão da origem da cor e também do mito do "traje para igualizar", já nos debruçámos anteriormente (ver AQUI).
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Passemos, pois, agora, o que nos diz o historiador, o Professor António Nunes:
O Traje Feminino e o Traje Académico
(…) Até à consagração da legislação abolicionista promulgada após o 5 de Outubro de 1910, em Portugal não há notícia do uso de qualquer uniforme por parte das alunas que frequentaram os liceus, a Universidade de Coimbra ou as Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto. A opção crescentemente generalizada pela capa e batina de Coimbra, após a Conferência de Berlim, não parecia reunir ingredientes satisfatórios para uma extensão unissexo ao universo feminino.
A excessiva aproximação ao traje masculino burguês oitocentista retirara à capa e batina estudantil a sua feição talar, pormenor denunciado por José Ramalho Ortigão em 1888, o que na prática implicava duradoura impossibilidade de feminilização. Não sendo propriamente fácil, o processo de feminilização não era radicalmente impossível, se tivermos em consideração a adaptação de fardas militares a certos corpos femininos no decurso da Primeira Guerra Mundial.
A obrigatoriedade de uso diário de uniforme estudantil na Universidade de Coimbra foi abolida por Decreto de 23.10.1910, situação de certa forma extensiva aos liceus onde o porte diário masculino fora autorizado por diplomas do Ministério do Reino. O diploma referido não declarava abolido o traje, apenas o tornava facultativo, tanto mais que no curto prazo a esmagadora maioria dos alunos da UC, da TAUC e do Orfeon Académico manifestaram vontade de continuar a envergar a capa e batina. Entre 1911-1912, na Universidade do Porto, Tuna e Orfeão foram pelo mesmo caminho. A maior parte dos liceus manteve a capa e batina que já era usada desde a segunda metade do século XIX, ou a ela aderiu. Seguindo na esteira dos movimentos em vias de expansão nas high schools britânicas, norte-americanas e japonesas, as alunas dos liceus de Lisboa e do Porto surpreenderam ao optarem pela invenção de um uniforme facultativo de tipo "high school".
Em Lisboa, alunos dos liceus tocaram a reunir por alturas de Setembro/Outubro de 1915, com o fito de discutir e aprovar que trajes envergar por alunos e alunas. Estas sessões terão sido participadas por alunos da Universidade de Lisboa que decidiram adoptar a capa e batina. Alunos mais radicais reclamaram mesmo obrigatoriedade de porte, mas na prática, o uso da capa e batina ficou confinado aos edifícios do Campo de Santana e a grupúsculos masculinos da Faculdade de Direito.
Na Universidade do Porto, em reunião inter-faculdades, realizada em finais de Fevereiro de 1916, decidiu-se implementar o uso generalizado da capa e batina a partir do dia 15 de Março de 1916. Faltam-nos dados sobre as matérias deliberadas nestas reuniões e perfil dos participantes, não sendo possível apurar se a decisão abrangeu alunos e alunas da UP, ou se marcaram presença alunos/alunos dos liceus. A "Gazeta de Coimbra", nas suas edições de 27.10.1915 e 4.03.1916 dá conta que em Lisboa já se viam "meninas" trajadas, certamente liceais. Aliás, a promulgação do Decreto nº 10.290, de 12.11.1924, que procedeu à nacionalização da capa e batina nos liceus e ensino superior, teve como antecedente imediato um conflito entre uma liceal e um reitor de um dos liceus de Lisboa por conta do uso ou não uso de traje.
Ao referido conjunto se adicionou uma capa preta, e conforme atestam as fotografias supra uma barretina redonda. Este último elemento, resulta de uma transformação do barrete islâmico do magrebe, o "chéchia" ou "kufix", que também era usado desde 1859 em escolas militares britânicas de formação de cadetes ("pillbox hat"). Antes de ter feito a sua entrada triunfal nos liceus de Lisboa, Porto e Évora ("tacho"), em versão unissexo, o "pillbox" já era largamente usado em Portugal por militares e impedidos de oficial.(…).
Ia adiantado o século XX quando se acendeu a discussão sobre a necessidade de as alunas da Universidade de Coimbra tirarem benefícios práticos do uso de um traje de tipo uniforme. Não ter traje académico fazia parte da identidade das académicas da UC desde 1891, ano em que contemporaneamente se matriculou a primeira aluna. A não participação feminina na vida associativa, a ausência de organismos culturais mistos até 1938 e a omissão da cerimónia de formatura de bacharéis e licenciados desde 1910, foram justificando a inércia observada em Coimbra. A nível dos liceus locais, mesmo considerando o Liceu Feminino Infanta D. Maria, nada consta quanto a um hipotético uso de farda, se considerarmos que a muito usada bata não era propriamente um uniforme.
As alunas da UC tinham o privilégio do uso de pasta com fitas e capa preta sem uniforme, costume que na década de 1980 ainda era praticado por quintanistas que iam ao Baile de Gala das Faculdades. Nos finais da década de 1940 este estado de coisas começou a mudar quase imperceptivelmente. As universitárias de Coimbra estavam a par do uso do tailluer nos liceus e no Orfeon Universitário do Porto. O peso crescentemente atribuído desde meados da década de 40 às latadas de começo de ano escolar e às cerimónias de imposição de insígnias (grelos no 4º ano, fitas no 5º ano), começaram a suscitar em alunas da Faculdade de Letras vontade de adopção de um traje académico. Nos festejos de Novembro de 1949, a estudante de Germânicas Ilda Pedroso desfilou com um conjunto saia/batina/capa, acontecimento muito comentado no millieu, mas bem acolhido. Todas as informações consultadas testemunham a opção pela saia, numa época em que os códigos vigentes não poderiam aceitar na mulher o porte de calça comprida, e a batina masculina abaixo do joelho (frock coat), com lapelas de cetim.

Em face dos conhecimentos disponíveis ainda não é possível saber se as alunas da UP começaram a usar o tailleur preto em Março de 1916, ou se o movimento ficou confinado às liceais. Sabe-se, no entanto, que a feminilização do Orfeão Universitário desde ca. 1944-1945 esteve na origem da consagração do tailleur pelas orfeonistas portuenses. Na fotografia supra, do ano lectivo de 1946-1947, oriunda do espólio do Dr. Álvaro Andrade, é bem visível uma orfeonista com tailleur preto, conforme o figurino tubular da época, meias cor da pele, gravata e capa. Terá o tailleur debutado restritamente no Orfeão Universitário, com ulterior generalização na universidade?"
(…) Na Coimbra de finais do século XIX, e anos que se lhe seguiram, a profunda masculinização operada no imaginário académico e no conjunto casaca/calça comprida/colete inviabilizaria por décadas o processo de feminilização. Dizendo-se um traje progressista no confronto discursivo entre cultura burguesa e herança aristocrático-clerical, o traje académico burguês revelou-se empedernidamente sexista, e nessa medida reccionário face à dinâmica de mudança. Não sendo detentor da riqueza artística das vestes talares nem da sua polivalência unissexo, os fatos burgueses apostam na demarcação territorial e simbólica dos sexos através da sobrevalorização de peças secundárias como a calça comprida (sexo M) e a saia (sexo F), mesmo quando em contextos militares e policiais tal distinção foi abandonada.

Como se verá mais adiante, os modelos de colete e de capa vulgar louvados pelos estudantes de Coimbra como grandes conquistas civilizacionais contra o “obscurantismo” eram aflorações retardadas e esteticamente inferiores a peças vestimentárias que as mulheres do povo conheciam e usavam desde o século XVI. O colete feminino, de bainha lisa ou recortes, a fechar com atilhos, era usado pelas camponesas em contextos de trabalho e solenidades. A versão de luxo podia comportar motivos bordados e tecidos de seda enramada. A capa de honras feminina das lavradreiras abastadas e meias-senhoras (bem com os capotes, mantéus e capoteiras), em lã fina, com golas e bordados ainda era usada um pouco por todo o Portugal nos casamentos, baptizados, funerais, missas, entradas régias e entradas episcopais no tempo em que as primeiras alunas chegaram à UC.
Ao abandonarem o hábito talar tradicional, substituindo-o por um traje burguês citadino, singelo em tecido e figurino, os estudantes de Coimbra proclamavam-se progressistas. Ponderando estas afirmações em 1888, um profundo especialista da cultura e dos trajes propulares, José Ramalho Ortigão, duvidou da pertinência do discurso. A partir do momento em que o traje académico se transformava num produto esteticamente inferior à maior parte das peças usadas pelos camponeses portugueses como traje domingueiro, para se nivelar com o chamado traje ou fato de trabalho, tornara-se difícil descortinar-lhe traços de progressismo.

Em Portugal, as Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa, Porto, Funchal e Ponta Delgada, fundadas a partir de 1836 , começaram por não instituir qualquer traje talar ou militar para docentes e discentes. O mesmo rumo foi seguido desde 1837 pela Escola Politécnica de Lisboa e Academia Politécnica do Porto , onde o fácies paramilitar não foi bastante para trazer aos muros destas instituições, nos anos iniciais, o grande uniforme napoleónico. Não obstante, os docentes militares das politécnicas usavam as fardas respectivas.
Novas instituições portuguesas de ensino como o Curso Superior de Letras (1859) e o Instituto de Agronomia e Veterinária (1864) não se mostraram receptivas a insígnias, rituais académicos ou trajes para alunos e docentes. A casaca preta/calça comprida/colete/cartola/chapéu de coco, com o indispensável complemento de bengala de castão de prata, terão sido os elementos vestimentários laico-burgueses mais celebrados por este tipo de instituições que não se reviam no modelo talar conimbricense.
Nos alvores da década de 1850, concretamente em 1852, a Rainha D. Maria II foi recebida pelos lentes da Academia Politécnica do Porto em casaca preta, colete, calças compridas, sapatos e meias de seda ,a que não terá faltado a indispensável cartola [e bengala]. (…)

Confirmando o paradigma laico-burguês, docentes e discentes do Curso Superior de Letras e do Instituto de Agronomia e Veterinária entrariam no século XX de labita preta e cartola, costume de certa forma prolongado após a respectiva integração nas universidades fundadas em Lisboa após 1910.
As escolas de ensino técnico-profissional de agricultura, lançadas pela legislação fontista de 16 de Dezembro de 1852, e reorganizadas por Emídio Navarro (Decreto de 2.12.1886), não terão definido traje docente.

Situação próxima da referida terá sido vivenciada pelos alunos e docentes das escolas industriais de ensino médio (Decreto de 30.12.1852), cuja rede regional atravessaria um processo de intensificação quando António Augusto Aguiar liderou a pasta das Obras Públicas . Aqui, a opção terá recaído na articulação de um conjunto prático civil (calça comprida/camisa) com um boné de pala e uma bata, conforme usança oficinal nas escolas francesas de artes e ofícios mecânicos. Ao longo da primeira metade do século XX, os alunos da Escola Industrial Brotero, de Coimbra, ficariam conhecidos pelo apodo “lagarto azul”, graças ao fato de ganga ou fato de macaco oficinal que não sendo uma farda acabava por funcionar como tal .
Estabelecimento de ensino médio era também o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa, filho do Decreto de 25 de Janeiro de 1894, substituído após 1911 pelos Instituto Superior Técnico e pelo Instituto Superior de Comércio, para o qual não foi definido traje profissional. O mesmo acontecia com o Instituto Comercial do Porto, criado pelo Ministro João Franco em 1891 .

O etnólogo José Leite de Vasconcelos, antigo aluno da Médico-Cirúrgica do Porto, mostrar-se-ia hostil ao uso da capa e batina nas escolas politécnicas portuguesas e liceus . E com Vasconcelos estariam muitos dos liberais de oitocentos que assumiam como traço identitário o fato masculino burguês usado nas cidades ocidentais.
Em Lisboa, o ambiente propiciatório da constituição de tunas académicas e o empenhamento dos estudantes em causas públicas após o Ultimatum terão contribuído para a naturalização da capa e batina entre os liceais e politécnicos.
Seria a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa a dar o passo em direcção ao grande e ao pequeno uniformes, mas restringindo-os ao corpo docente. O Decreto de 1 de Outubro de 1856 adoptava a título de pequeno uniforme de porte quotidiano uma toga preta talar, de um corpo, em grande parte resultante da fusão da beca judiciária portuguesa com a toga de advogado, lacinho branco, cintura de borlas pendentes, sapatos pretos de fivela e barrete cónico; e um grande uniforme napoleónico, à base de casaca militar azul escura, com bordados a ouro, gravata e colete brancos, calça comprida azul escura avivada a ouro, bicórnio emplumado e espadim .

A militarização imagética das academias científicas e dos politécnicos inscrevia-se num conjunto de representações liberais e descristianizadoras, reunindo amplos consensos entre as elites ocidentais que vociferando contra a hegemonia espiritual católica se reviam no perfil heróico e disciplinado do militar fardado.
(…)
No caso de Coimbra, o abolicionismo periodicamente reclamado, não se confinava a mera parusia niilista. Um horizonte imaginário de símbolos alternativos à batina, aos calções, ao colarinho raso e ao cerimonial tradicional piscava o olho à labita burguesa e às fardas militares. Quanto ao destino a conferir à capa, o romantismo estético pululante reservou-lhe lugar especial no imaginário masculino das vivências anónimas e do heroísmo individualizado. A gesta de capa e espada, muito enraizada na centúria de oitocentos, e depois apropriada pelo cinema de aventuras de Hollywood, não concebia um prestidigitador, um Drácula, um Fantasma da Ópera, um Zorro ou um Superman sem capote ou capa esvoaçante . Eça de Queirós, também ele, não concebeu Antero de Quental a discursar revoltas no adro da Sé Nova de Coimbra sem a romântica capa negra a descair pelo ombro .(…)
Mas não nos deixemos ludibriar perante este aparente fracasso do paradigma napoleónico naturalizado nos países ocidentais não abrangidos na esfera da cultura escolar anglo-saxónica. Relendo com atenção a literatura de época e visualizando as fotografias disponíveis, rapidamente se conclui que na UC, nas Médico-Cirúrgicas e nas Politécnicas de Lisboa e Porto, o traje militar masculino fora reconhecido aos alunos como equiparado a “traje académico” para efeitos de frequência de aulas, exames e cerimónias.
(…)
Seriam ainda os liceus de Lisboa e Porto a inventar espontaneamente entre 1915-1916 o traje feminino, à base de tailleur saia-casaco e capa, o qual só muito tardiamente entrou nas universidades: na do Porto em 1946, pela mão das alunas sócias do Orfeão; na de Coimbra em 1951, devido à acção das sócias do Teatro dos Estudantes, seguindo-se generalização não pacífica decretada pelo Conselho de Veteranos em 1954.
Após a criação das universidades de Lisboa e Porto, os alunos portuenses ligados à tuna e orfeão adoptaram desde 1911-1912 a capa e batina dos conimbricenses, seguindo-se uma adesão generalizada a partir de 15.03.1916. Em Lisboa, o uso da capa e batina ficaria duradouramente restringido aos liceus e a franjas de alunos da Faculdade de Direito então situada no Campo de Santana. Na vizinha Faculdade de Medicina, o uso de capa e batina seria bem menos expressivo do que o filme A canção de Lisboa (1933) parece deixar antever .(…)
NOTA: Sobre o papel dos estudantes da República da Ladeira do Seminário, em Coimbra, diz-nos A. Nunes que o “ que os “ladeiras” fizeram foi hiperbolizar o uso ostensivo de coletes de seda multicolores (brancos, vermelhos, cinzentos, em brocado ou seda enramada) que exibiam trazendo as carcelas das batinas desabotoadas. Pareciam noivos em dia de casamento. Não reformaram nada no traje.
O actual figurino da capa e batina de matriz conimbricense, variante masculina, tem a sua origem nas transformações implementadas pelos adeptos da Greve Académica de 1907, que logo se começaram a generalizar na Academia de Coimbra: sobrecasaca preta desabotoada, lapelas dobradas em V sobre o peito e forradas de cetim preto, capa enrolada no colarinho ou deitada no braço ou no ombro direito. Em 1910 os liceus e a Universidade do Porto adoptaram as propostas dos conimbricenses.
O actual modelo de traje feminino, embora tenha começado a usar-se em 1915 nos liceus de Lisboa, só ganhou a feição actual por 1945 quando passou a ser usado pelas estudantes membros do Orfeão Universitário do Porto.”